1 - O que eu posso fazer é...

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A pizza.

- Já deve estar fria - falo. Que idiotice.

- Fica ai limpando que eu vou colocar no micro-ondas - ela fala, pega a caixa e sai. - SE IMPORTA QUE EU TRANQUE A PORTA? - grita provavelmente de lá.

Paro para pensar.

- NÃO - grito de volta.

Que garota esquisita. Quem deixaria um homem desconhecido sozinho em um cômodo de sua casa, e ainda se trancaria em casa com ele?

Se eu não sou o assassino ela deve ser.

Ela volta em mais ou menos um minuto com dois pratos e refrigerante.

Ela coloca a pizza numa pequena mesa que tem em cima de um tapete e se senta no mesmo.

- Sinta-se a vontade - ela fala e aponta para o prato que está na sua frente.

Dou de ombros e sento, que mal pode fazer, ela não pode ter envenenado a comida, pode?

Pego um pedaço da pizza e ela logo se lembra de algo.

- O dinheiro - ela sai e volta com uma nota de cinquenta.

- Foi trinta e dois - digo. - Não tem trocado?

- Você merece - ela sorri e guarda o dinheiro no bolso do uniforme da pizzaria, não vou recusar.

- Sempre dá esse tanto de gorjeta para os entregadores? - pergunto. - Já pensou que isso pode estar te deixando pobre e não a pizza em si?

- Eu nunca dou gorjeta ao entregadores, mas você me ajudou - ela sorri.

Que garota esquisita.

Comemos por um tempo depois volto a guardar os livros.

- Já leu todos? - pergunto para não deixar a sala em silêncio, fora seus espirros.

- A grande maioria - ela diz. - Os outros estou lendo.

- Está lendo todos que não leu ainda? - pergunto confuso.

- Uma boa parte, é bom pra memória - ela responde e ri.

- Diga um que já leu - peço.

- O que está na sua mão.

Ela diz.

Encaro a capa: O Sangue do Olimpo

Nunca ouvi falar.

- Qual mais?

- Pergunte você - ela diz e espirra, rio.

- Esse?

- Sim.

- Esse?

- Lendo.

- Esse?

- Sim.

- Esse?

- É o primeiro volume dos Heróis do Olimpo. O que estava na sua mão era o quinto.

- E leu ou não? - pergunto novamente.

- Se eu li o quinto - diz sem paciência.

- Pode não ter lido o primeiro - provoco e ela ri.

- Li sim, esse é legal porque meu irmão narra.

- Seu irmão? - pergunto confuso.

- Leo Valdez - ela abre o livro e aponta para o terceiro parágrafo da orelha:

Leo leva jeito com ferramentas. Ao chegar ao acampamento e...

Termino de ler e o tal do Leo Valdez é um do personagens.

- Seu irmão... é um personagem fictício? - pergunto ainda confuso.

Ótimo, ela não é assassina, apenas louca mesmo.

- Claro, coleciono eles. Irmãos. Eles tomam conta de mim - ela sorri novamente mas é possível ver a tristeza em seus olhos.

- E seus parentes de verdade? - pergunto e na mesma hora me arrependo.

- Espero que estejam bem - ela se vira de costas e enxuga os olhos. - Vamos... vamos terminar logo com essa caixa que já está tarde e você tem que voltar pra casa.

Coloco os últimos livros em silêncio e ela começa a desempacotar a segunda caixa.

- Obrigada pela ajuda - ela diz sem me olhar. - Leve o refrigerante e a pizza, por favor.

- Tem certeza? - pego a caixa da pizza.

- Tenho - ela diz. - Não tomo refrigerante e não gosto de pizza nem no café nem no almoço.

- Come amanhã de noite - Coloco a caixa onde estava.

- Se deixar eu vou jogar fora - ela diz.

- O.K. - suspiro derrotado.

- Tchau - ela diz.

- Tchau - saio e bato a porta. Ouço-a trancar, abro a caixa da pizza e só estão faltando as duas fatias que eu comi, ela não comeu nada?

Pego a bicicleta para voltar para casa.

Quem é essa garota?

Forever - KTHOnde as histórias ganham vida. Descobre agora