Capítulo 35

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Do outro lado da rua, eu observava a casa dos meus pais. A casa onde passei a maior parte da minha vida e onde tudo começou.
A equipe de produção descarregava as vans, levando seus equipamentos para o quintal. Permaneci com os olhos fixos na onde eu me recordava ser a janela do meu antigo quarto.
— Não vai entrar? – Min Jun parou ao meu lado.
— Eu vou...
— Está tudo bem? Sei que não queria estar aqui.
— Não com tudo isso – Apontei para a equipe com a cabeça – Queria voltar aqui, mas sozinha, sem câmeras, Genna e claro meu ex namorado – Olhei para ele que abaixou a cabeça em silêncio – Acho melhor entrarmos, está esfriando e Genna pode surgir do nada pra torrar minha paciência.
Min Jun concordou com um aceno e estendeu sua mão para que eu a pegasse, mesmo tentada, neguei e saí caminhando logo à sua frente.
Eu precisava tentar caminhar com meus próprios pés. Este show não duraria para sempre e tudo que eu precisava para seguir em frente era desapegar.
Superar, tocar o barco. Solteira ou com um novo amor, não importava. Eu apenas precisava seguir em frente.
E a simples atitude de não segurar sua mão já né parecia um tanto libertadora naquele momento.
Toda minha família nos aguardava em casa. Enquanto digo toda, realmente significa toda a minha família.
Mãe, pai, irmã, primos e primas, tios e tias, avós e tios avós, parentes que eu nem sabia que tinha.
— Eu não conheço nem metade dessas pessoas – Assinalei atordoada.
— Bem-vinda ao lar – Brincou Min Jun e estremeci.
O problema já não era mais estar em casa. Agora o problema era estar em casa com todas essas pessoas desconhecidas e ainda ser obrigada a suportar Genna durante todo esse tempo.
Dei alguns passos avançando em direção a salas de estar, o barulho de conversas, risadas e de crianças correndo me recebiam em uma orquestra infernal.
— Elisabeth! – A voz de minha mãe se destacou e a observei correndo até mim.
Eu permanecia imóvel. Poderia ser algum estado de choque no qual entrei e seria conveniente de se permanecer.
— Mãe – Disse enfim e retribuí seu abraço ainda estranhando aquela sensação nada familiar.
— Vocês chegaram. A senhora Owen havia dito mesmo que não demorariam.
— E onde o papai? – Olhei ao redor e não o encontrei em meio a tantos rostos desconhecidos.
— Está lá fora assando alguns hambúrgueres para o jantar. Ah me desculpe, eu não o cumprimentei de modo apropriado senhor Chun Li – Mamãe olhou sorridente e estendeu a mão para Min Jun que fechou a cara no mesmo instante.
— Mãe!
— Fiz algo de errado?
— O meu nome é Min Jun Hyun senhora Scott – Tentou não soar irritado, mas eu o conhecia o suficiente para notar o desconforto em sua voz.
— Ah, eu sinto muito Min... Jun... – Falou pausadamente, levantando as sobrancelhas.
— Isso senhora Scott.
— Mas quer saber, vamos deixar as formalidades pra lá – Min Jun arqueou suas sobrancelhas com um ar surpreso – Vou chamá-lo de filho, da mesma forma que eu chamo o noivo de Elaine, Robin. Afinal creio que em breve teremos outro casamento, não é mesmo? – Piscou um olho empolgada e não tive coragem de desmentir.
Aquele não era o momento nem lugar para jogar a realidade sobre nossa separação.
— Nós não estamos mais... – Min Jun começou dando suas explicações, mas tapei sua boca com uma mão e beijei sua bochecha.
— Nós não estamos pensando nisso ainda, vamos namorar por mais algum tempo. Sabe nos curtimos melhor, essas coisas, né amorzinho?
— Ah, claro entendo. Vocês parecem realmente apaixonados, posso ver na forma que se olham, é tão nítido. Lindo, lindo. Sintam-se à vontade para cumprimentar o restante da família – Mamãe sorriu gentil.
— Eu não reconheço quase ninguém, mamãe! – Reclamei olhando ao redor.
— Não seja grossa Elisabeth. Eles são seus parentes. Veja, aquela é a tia Truddie.
— Nunca vi – Assinalei sincera.
— E aquele é seu tio Marcus, sua prima April e seu primo James Lucas, ele estuda Direito em Princeton – Ressaltou e não me importei.
Balancei a cabeça negando conhecer qualquer um deles e mamãe deu um suspiro desapontado.
— Apenas os cumprimente e finja que sabe quem são, tudo bem?
— Claro, eu posso fazer isso – Assenti dando de ombros.
— Eu vou verificar se a equipe da televisão precisa de algo – Mamãe se afastou nos deixando sozinhos em meio àquelas pessoas.
— O que exatamente você pensou que estava fazendo, Lisa? – Min Jun me puxou para um canto próximo às escadas – Você beijou minha bochecha e disse que ainda estamos juntos.
— Só não achei apropriado dizer agora sobre nossa situação. Minha mãe está atolada de preocupações pra eu simplesmente jogar essa bomba na cabeça dela. Não quero estragar toda a animação dela pro casamento da Elaine. Mas quando isso acabar eu juro que conto tudo pra eles. Prometo!
— Ou podemos voltar de verdade...
— Vai sonhando!
— Sua mãe percebeu que ainda estamos apaixonados. Eu ainda te amo Lisa e você ainda me ama...
— É melhor pararmos por aqui – Apertei os lábios – Devemos cumprimentar essas pessoas que nunca vi, mas dizem ser da família. Infelizmente você vem comigo!
— Mas é claro – Concordou sem um mínimo traço de animação.
Arrastei Min Jun de um lado para o outro, tentando saudar o maior número de desconhecidos possível, mas eles pareciam se multiplicar feito louça suja na pia.
Paramos próximos à quem mamãe dizia ser a tia Truddie. A mulher de cabelos loiros armados num corte oitentista e batom de um rosa vibrante nos lábios finos, conversava acaloradamente com outra mulher tão desconhecida quanto ela.
Seus olhos repletos de sombra cintilante e lápis preto se voltaram à nossa direção e ela sorriu exibindo os dentes sujos de batom.
— Tia Truddie? – Chutei incerta e notei Min Jun apertando os lábios segurando uma risada.
— Oh, Elisabeth. Você ainda se lembra de mim? – Ela se colocou de pé.
— É... Como eu poderia me esquecer não é mesmo? – Forcei uma gargalhada.
— Como você cresceu. Já é uma mulher feita – Ela me tocava de forma constrangedora – Está tão bonita – Apertou minhas bochechas e desejei o fim de minha medíocre existência.
Min Jun tentou abafar sua gargalhada com uma falsa crise de tosse.
— Com certeza já é uma mulher, não é Betty? – Indagou à mulher ao seu lado.
— Claramente. Creio que não é mais virgem, não é minha querida?
— Você acha que ela seria virgem com um namorado tão bonito como ele? – Tia Truddie olhou para Min Jun que parou de tossir e né rir no mesmo momento.
— Ainda não nos apresentou seu namorado Elisabeth.
— Ah sim... Esse é o Min Jun e nós estamos num casamento de mentira pra esse programa de televisão que participamos.
— Mas namoram de verdade, não é? – A mulher ainda desconhecida parecia ansiar por uma boa resposta com seus olhos brilhantes escuros de tanta maquiagem.
— É claro que são Betty, Nora estava se gabando que sua filha namorava um japonês que faz filmes de Hollywood.
— Coreano, sou coreano! – Corrigiu outra vez irritado.
— Não é tudo a mesma coisa querido?
— Não é porque temos olhos pequenos que somos todos iguais senhora... Na verdade nós...
Mordi o lábio e apertei os olhos. Eu deveria colocar um ponto final naquela conversa.
— Tia Truddie e tia Betty...
— Elisabeth, Betty não é sua tia, é apenas a vizinha que mora ao lado. Pensei que soubesse.
— Não eu não sei, eu sequer conheço meta...
— Lisa, eu acho que ouvi seu pai nos chamando.
— Meu pai? Não ouvi na... – Seus olhos suplicavam por ajuda – Sim, sim eu acho que também ouvi ele nos chamar.
— Você ouviu alguma coisa Betty? – Truddie franziu o cenho.
— Eu não ouvi nada.
— É melhor irmos, papai está nos chamando, deve ser importante.
Min Jun me levou para fora, me puxando pela mão.
Havia ainda mais pessoas no quintal. O próprio inferno. Eu estava no próprio inferno familiar.
Avistei meu pai com um avental florido e bermuda havaiana assando hambúrgueres, vovó Nancy e vovô Roward conversando com outros parentes que eu não fazia questão de conhecer.
Decidi cumprimentá-lo antes que qualquer outro parente chato se aproximasse de nós. Papai parecia imerso em seus próprios pensamentos quando nos aproximamos. Concentrado em assar salsichas e hambúrgueres para todas aquelas pessoas em sua casa.
— Pai? – Ainda era estranho falar com ele fora de alguma discussão.
— Elisabeth! – Ele sorriu de uma forma acolhedora e o retribuí com outro sorriso.
Ambos parecíamos perdidos, sem saber exatamente como deveríamos nos cumprimentar. Eu deveria abraçá-lo apenas um aperto de mãos seria o suficiente?
— Senhor Scott! – Min Jun se manifestou antes que o constrangedor silêncio se tornasse ainda mais constrangedor.
— Ah, se não é meu futuro genro!
Min Jun me olhou de relance antes de sorrir como se não houvesse nada de errado entre nós.
— Aqui estou eu! – Assinalou com um belo sorriso nos lábios.
— E nada de senhor Scott. É formal demais. Pode me chamar de Bernie, é assim que o noivo de Elaine me chama e creio que em breve fará parte da família.
— Eu adoraria... Bernie.
— Hambúrguer? – Papai soava animado.
— Aceito, Bernie – Ele era mesmo convincente.
Min Jun aceitou o prato de papel com um belo sanduíche.
— Isso é como nos filmes americanos. Me sinto em um filme – Brincou e mordeu seu pão.
— E como andam as coisas? Será que o próximo casamento está prestes a acontecer hum? – Inquiriu levantando as sobrancelhas e segurando um grande garfo de churrasco em mãos.
— Decidimos adiar essa questão por um tempo, queremos namorar mais um pouco curtir um ao outro até estarmos prontos para dar o próximo passo – Respondi e senti que talvez não soasse convincente o bastante.
Mas a atriz ali não era eu.
— Entendo, é uma decisão madura. Casamento deve ser algo para a vida toda, com o amor de sua vida, assim como eu e sua mãe. Devem se casar apenas se tivessem plena certeza, sem ceder à pressões externas, afinal não são os outros que estarão comprometendo suas vidas e sim vocês...
— Concordo plenamente pai – Olhei para Min Jun que engoliu em seco e parou de comer seu hambúrguer -  Não concorda Min Jun?
— Hum? – Se fez de desentendido.
— Devemos apenas nos casar por amor e não por pressão dos outros?
— Sim... Sim amor é o que importa... – Respondeu perdido.
— É, o amor...
Desviei os olhos e avistei Elaine tagarelando junto à um grupo de garotas que aparentemente tinham a mesma idade que ela.
Apesar de não sermos minimamente próximas, Elaine ainda era minha irmã e eu precisava cumprimentá-la.
— Pai, eu vou cumprimentar Elaine, podem continuar conversando sem mim.
Não esperei que respondessem e caminhei pelo quintal, me aproximando de um grupo de desconhecidas.
Dei um pigarro parando junto ao grupo e então fui notada por minha irmã.
— Lisa! – Seus belos olhos me encontraram e todas as garotas me observaram.
— Elaine... – Sorri amarelo.
— Você chegou – Me puxou para um abraço animado – Que bom que você veio!
— Nós viemos – Apontei para Min Jun que parecia forçar uma risada para alguma piada sem graça que meu pai tenha dito.
— Fico feliz que tenham chegado, é bom ter minha querida irmã no dia mais importante da minha vida. Meninas essa é minha irmã Lisa. Lisa essas são minhas amigas e damas de honra, Aurora – Indicou a moça de longos cachos ruivos e rosto redondo – Essa é Nicole – A morena de cabelos negros lisos, tão curtos quanto do meu pai sorriu – Grace – A garota loira de olhos azuis e jeito inocente sorriu e acenou – É esta é Samantha – Outra garota loira de olhos azuis, mas com um ar mais maduro e rosto mais pontudo disse um discreto "Olá".
Suas amigas formavam um belo esquadrão de mulheres bonitas. De alguma forma todas se pareciam, como uma irmandade inconsciente.
— É tão legal finalmente conhecer a irmã da Elaine – Disse Grace animada.
— É mesmo, ainda mais sendo grandes fãs do seu programa! – Assinalou Aurora enrolando um cacho com os dedos.
— São? – Indaguei surpresa.
— É claro, vocês são a sensação do momento. É tão divertido ver vocês dois brigando o tempo todo, mas com toda aquela tensão sexual envolvida – Explicou Samantha com um sorriso maldoso nos lábios com preenchimento – De qualquer forma adoro seu show e não perco um episódio sequer.
— Isso é bem legal – Sorri.
— Vocês realmente se odeiam ou é só atuação? – Nicole colocou uma mão em meu ombro enquanto a outra segurava um copo de cerveja.
— No começo nós realmente nos odiamos, eu não suportava Min Jun. Nem um pouco.
— Oh! – Exclamaram em coro e se entreolharam como se entendessem uma a outra apenas com um olhar.
— Mas acabamos nos acostumando com a presença um do outro e nos tornamos grandes amigos. No começo não é realmente fácil dividir o mesmo teto com alguém que acabou de conhecer.
— Mas também é divertido, não é Lisa? – Perguntou Elaine com olhos interessados.
— Sim, é divertido – Sorri recordando as loucuras e idiotices que fizemos em todo esse tempo juntos e ri sozinha — Tivemos ótimos momentos!
— Sem contar que ele é inegavelmente um gatinho – Samantha mordeu o lábio e olhou na direção dele.
Aquilo era inaceitável.
— Ah... Ele nem é tão bonito assim... – Comentei com desdém, dando de ombros.
— Ele é lindo!
— Ronca muito e tem um pouco de chulé!
— Ninguém é perfeito.
— E é comprometido!
— Comprometido?
— Comigo! – Levantei a mão exibindo nossa aliança fajuta – Ele ainda é meu marido! – Ri tentando amenizar minha crise de ciúmes e as garotas riram juntas.
— Você nunca sentiu nenhuma atração por ele? – Inquiriu Aurora ainda mexendo no cabelo.
— Não, não, nunca. Somos apenas bons amigos. É isso.
— Pensei ter ouvido a mãe e o pai dizerem que estavam namorando...
Ela não havia dito aquilo. Não, não, não.
— Espere, você disse que eram apenas amigos.
— E somos! Você deve ter ouvido errado irmãzinha – Eu a olhava apavorada.
— Na verdade eu ouvi direitin...- Comecei a gargalhar feito uma louca.
O que mais eu poderia fazer?
— Foi uma brincadeira, uma piada, não poderíamos namorar, ele já é comprometido.
— Verdade? – Nicole se inclinou curiosa em minha direção.
— Pois é, decepcionante não? Mas é segredinho, ninguém pode saber que ele tem uma noiva e vai se casar em breve!
As garotas soltaram um "Ah" desanimado enquanto Elaine parecia ainda processar as novas informações com um olhar encabulado.
— Ele realmente vai se casar? – Grace me olhou com olhos curiosos.
— Isso deve ficar apenas entre nós, não posso dizer muito, mas... – Fiz um sinal para que se aproximassem – Ele está de casamento marcado com uma garota coreana é desesperadamente apaixonado por ela. Se casarão em pouco tempo. Os pais dos noivos são amigos de longa data e planejam essa união desde a adolescência deles. Ouvi dizer que será o casamento do ano na Coreia e ele mal pode esperar para ter sua primeira noite com a sua amada!
— Ele é virgem?
— Sim, Min Jun me disse que está se guardando para sua escolhida.
— Isso é tão fofo!
— Mas como eu disse é segredo – Repousei o dedo indicador sobre os lábios – Shh!  Claro que se algum jornalista perguntar não precisam mentir, mas se puderem guardar esse segredo...
— Nunca diríamos nada!
Ah claro que não.
Eu sabia muito bem o que estava fazendo e não dava a mínima pra isso.
***
À noite tudo parecia mais calmo. O mais calmo possível numa casa lotada de visitas e parentes incômodos. Mamãe havia dividido os quartos entre, quartos das mulheres e quarto dos homens, mesmo que Genna não tenha gostado nada da ideia de me deixar afastada de Min Jun, para mim era um alívio não vê-lo por algumas horas.
Não era algo normal ou saudável passar horas e horas grudado ao seu ex namorado quando acabaram de terminar seu relacionamento.
E eu precisava de um tempo.
Sentada no gramado do quintal observei as estrelas, as luzes da casados pouco a pouco se apagando, a lua crescente charmosa sobre o telhado. Era tarde e o casamento seria logo pela manhã. Todos deveriam descansar e recompor suas energias para o dia cheio que estava por vir.
Mas tudo o que eu não tinha era sono. Meus olhos choravam um choro silencioso e abafado por minhas mãos atadas aos lábios. Não queria que ouvissem meus soluços. Não queria uma série de perguntas importunas sobre mim.
— Lisa? – Levantei a cabeça e notei Elaine de pé diante de mim.
— Não deveria estar dormindo? – Abaixei a cabeça e Indaguei rouca.
— Deveria, mas a ansiedade não permite e pensei em dar uma caminhada, pra pegar no sono.
Ela se acomodou ao meu lado trajando um conjunto de pijamas de urso panda e pantufas de arco íris.
— Está tudo bem, Lisa? – Eu não podia notar suas expressões com clareza na pouca luz que ainda nos iluminava.
— Estou.
— Está chorando, não minta! – Soava preocupada – Eu sei que não somos tão próximas, mas ainda é minha irmã e me importo com você.
A encarei por alguns segundos. Eu poderia apenas me levantar e sumir dali ou desabafar com ela como irmãs normais fazem.
— Talvez eu não esteja bem, melhorou agora?
— Muito. Algo ruim aconteceu? São nossos pais? Algum parente te tratou mal?
— Não é nada disso.
— Então o que é?
— Preciso superar o fim do meu namoro, satisfeita? – Respondi rabugenta – É isso, eu sequer tive tempo pra pensar, tudo tem acontecido tão rápido.
— Não sabia que estava namorando...
— Não sabe muitas coisas sobre mim Elaine. Esse é apenas um detalhe.
— Você está certa, mas estou aqui pra te ouvir. Posso começar a te conhecer novamente. Qual o nome dele? – Perguntou interessada.
Fechei os olhos e senti algumas lágrimas percorrendo meu rosto.
— Min Jun. O homem que eu amo.
— Min Jun? Esse Min Jun? O que mora com você?
— É o único que conheço.
— Mas... Mas você disse que ele vai se casar!
— E vai, um casamento arranjado com a filha do melhor amigo de seu pai. Mas eu não sabia, se eu soubesse nunca teria me envolvido com ele. Nunca teria me apaixonado.
— Então o que nossos pais diziam sobre vocês dois era verdade?
Balancei a cabeça assentindo e segurei o choro.
— Uhum. Estávamos juntos. Perdida e completamente apaixonados, mas Min Jun já estava prometido à outra mulher e eu sendo feita de idiota – Ralhei entredentes.
— Realmente não sei o que dizer – Sussurrou chateada e segurou minha mão.
— Não há muito a ser dito.
— Ele está bem com tudo isso?
— Min Jun parece bem. Mas ele é um bom ator.
— Ele ao menos gosta dessa mulher com quem irá se casar?
— Não, ele não sente nada por ela. Mal se viram durante a vida.
— Amanhã me casarei com o homem que amo e estou prestes a surtar. Minha cabeça está uma bagunça. Às vezes sinto medo de começar uma nova fase da vida ao lado do Robin, mesmo que eu saiba que ele é o homem da minha vida e que o amo com todo meu coração. Min Jun se casará com alguém que ele não ama, por pura obrigação e se ele realmente é apaixonado por você, Lisa, eu não consigo imaginar o quanto deve ser assustador pra ele. Eu estaria em pânico no lugar dele. Já tentou entender como ele se sente?
— Não, ele tentou dizer, mas não quis ouvir.
— Seria bom tentar entendê-lo. Apenas dizerem um ao outro como realmente se sentem.
— Minha irmã mais nova está mesmo me dando conselhos sobre relacionamentos? – Ergui as sobrancelhas e dei um breve sorriso.
— Talvez eu tenha mais maturidade nessa área – Gabou-se dando de ombros.
— Claro – Revirei os olhos.
— Mas é a verdade, esse é meu primeiro e único relacionamento Lisa!
— O que não a torna mais especial...
— Certo, certo – Levantou as mãos em rendição – Só fale com ele tudo bem? Conversem como pessoas civilizadas e digam o que deve ser dito. Não é tão difícil.
— Posso tentar.
— Já é alguma coisa... Sinto muito mesmo que esteja sofrendo – Apertou minha mão com cuidado e a olhei com estranheza.
Não era algo minimamente comum entr8e nós. Mas era estranhamente reconfortante.
— Eu sempre te admirei Lisa – Comentou olhando fixamente para a casa à nossa frente.
— Como é?
— Sempre te considerei incrível, uma inspiração. Achava o máximo você ter priorizado seus sonhos e lutado para conquistá-los. Você enfrentou a família pelo que acreditava, pra mim, você era como uma super heroína.
— Eu? – Surpresa apontei para meu próprio peito.
— Sim. Eu adorava te ver na TV, com seus visuais extravagantes e videoclipes divertidos. Adorava dizer para todos que Lisa Scott era minha irmã. Uma vez entrei numa briga com Rachel Collins por insistir que a Lisa Scott da televisão era a mesma Elisabeth, minha irmã.
— Não! Aquela Rachel Collins? A líder de torcida de nariz empinado que enchia seu saco desde a quarta série?
— Exatamente!
— Brigaram por minha causa?
— Foi divertido. Claro que não na época, mas pensando bem, até que valeram a pena os puxões de cabelo que dei e levei.
— Não acredito que perdi sua primeira briga escolar – Reclamei e ouvi uma gargalhada divertida de Elaine.
— Ainda é minha heroína!
— Sou um verdadeiro fracasso... – Lamentei cabisbaixa.
— Não diga isso, todos passamos por momentos ruins.
— Eu queria que fosse somente um momento ruim. Elaine, eu tenho milhares de dólares em dívidas, vou colocar minha casa à venda, pois não posso mais a manter e provavelmente alugarei um apartamento pequeno pra morar. O dinheiro que ganho com esse programa não paga nem metade do que devo e bom, nenhuma gravadora se interessa mais em investir na minha pessoa, afinal não sou mais lucrativa. Às vezes me arrependo de não ter dado ouvidos ao pai e seguido carreira como contadora, mesmo não sendo a maior fã de números.
— Vai ficar tudo bem Lisa, você sempre será bem vinda se quiser voltar pra essa casa, afinal esse também é seu lar.
— Não sei se ainda é meu lar. Apesar de familiar, não sinto que é meu lugar. Me sinto estranha – A observei, Elaine havia crescido tão bem – Mas podemos parar de falar de mim? Você! – Arregalou os olhos – Não deveria ter o seu sono de beleza ou algo assim?
— Realmente não fechar os olhos.
— Muitos pensamentos? – Ela soltou um longo suspiro.
— Tem um turbilhão de coisas na minha cabeça, a cerimônia, a festa, os convidados, nossa Lua de Mel e... Nossa primeira vez... – Sua voz sumiu.
— Primeira vez, de casados?
— Não exatamente – Soou nervosa e entendi sua preocupação.
— Se refere àquilo?
— Aquilo!
— Vocês nunca? Nunca dormiram juntos? Nada? Nadinha de nada?
— Não, fizemos uma promessa – Elaine se contraía tímida.
— Nossa, agora quem te admira sou eu. Minha promessa não duraria uma semana. Isso que é resistência! – A aplaudi admirada.
— De certa forma isso me assusta e me enlouquece, entendeu?
— Pra ser sincera, não.
— Eu não sei exatamente o que fazer, é tudo tão novo pra nós.
— Vai se sair bem, as coisas costumam melhorar com a prática, a primeira vez de Min Jun também não foi aquela coisa, ele não sabia muito bem o que estava fazendo, mas com o tempo ele melhorou e está ótimo.
— Dormiram juntos?
— Algumas vezes, ou melhor, não dormimos se é que me entende – Respondi maliciosa e cutuquei seu braço com o cotovelo, mas não vi nenhuma reação dela – Só não fique nervosa, entendeu?
— Você foi a primeira mulher dele? – Indagou surpresa.
— E única, me faz sentir um pouco especial, confesso. Aquela Park Hae Jim deverá me agradecer por ensinar à seu futuro marido tudo o que ele sabe – Me gabei arrogante.
— É fofo da parte dele!
— Fofo...
— Ele ter ficado apenas com você. Sabe, ele é um caro atraente, um ator famoso e desejado. Com milhares de garotas aos seus pés que poderiam ficar com ele e com a idade dele você ter sido a primeira e única mostra realmente algo da parte dele, não acha? – Deitou sua cabeça em meu ombro.
E talvez sua indagação estivesse correta.
— Acha que poderíamos voltar à ficar juntos? – Murmurei chorosa, desejando ouvir um consolo.
— Acredito que se estiverem destinados um ao outro, não haverá nada que possa impedir isso.
— Espero que seja verdade, realmente espero – Afaguei seus cabelos.

Recém Casados [Reta Final] Where stories live. Discover now