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Consegui chegar viva em casa.

Grande coisa? Para mim isso é uma vitória, porque a cada dia, a certeza de que irei esbarrar com a minha morte na rua, aumenta. Sinto medo em todos os lugares, e em todos os rostos que me encaram na rua. Muitas pessoas me perguntam o porquê de eu ter demorado tanto para denunciar, e a resposta, é sempre a mesma: Medo.

O medo, é uma coisa necessária, e as vezes não. Quando temos medo, precisamos saber que é um instinto fielmente ativo, de que nosso cérebro, acha que aquilo é perigoso, que aquilo nos fará mal. O medo, cresceu junto com a humanidade, e se espalhou como um todo, durante as últimas gerações. Só que aos poucos, ele foi sendo menos necessitados, porque, para as maiores usuárias do medo, o mundo deu a chance de vence-lo. Nós, mulheres, as maiores escravas do medo, pudemos colocar "a boca no trombone". De uns tempos para cá, vem automaticamente aumentando as denúncias, as mulheres que não aguentam mais caladas, e isso é incrivelmente bom. Mas ainda, é preciso melhorar mais.

Qualquer coisa, lhes indico o disco 180.

Não fique calada.
Não espere.
Por favor...

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    Depois de tomar um café, me apoio na janela, encarando as ruas. Para voltar as antigas casas onde fazia faxina, precisarei correr muito atrás, e se não der certo, preciso arrumar algumas novas. A minha cabeça martelava algumas ideias, enquanto eu escrevia devagar, em um bloquinho de notas, maneiras de como conseguir uma nova casa pra faxinar, mas aposto, que depois não irei entender. Mal terminei o fundamental, e faz tanto tempo que não escrevo. Pensar que larguei tudo, para viver com um homem por todos esses anos, para ele só me tratar mal, e jogar na minha cara a minha infertilidade.

  É, talvez eu devesse começar a frequentar um médico. Talvez, esse seja o primeiro passo da minha nova vida.

  Mais uma vez, me sentei, e fiquei olhando do lado de fora, imaginando o que eu poderia fazer para mudar tanto por fora, quanto por dentro.

— Escola.
— Trabalho.
— Aparência.
— Saúde.
— Um filho? Ou filho de quatro patas?

Tantas coisas, tantos futuros. Todavia, eu não deixo de sentir medo, caso aquele monstro comece a me rondar novamente. Não sei mais o que fazer, para que a polícia o prenda. Acho que pra se ter justiça nesse país, é preciso se deixar ser estuprada e morta. Porque só assim para eles agirem. Vou precisar morrer, para que nenhuma outra, acabe sofrendo como eu.

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⏰ Dernière mise à jour : Dec 03, 2018 ⏰

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