queime o amaldiçoado

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Adams havia acabado de esvaziar a garrafa em um gole:

— Prefiro não falar sobre isso agora. Mas você confia em mim, não confia?

Ela sorriu:

— Sempre.

...

No dia seguinte Scott acordou ainda na casa da árvore, com o sol batendo em seus olhos e Diana adormecida entre seus braços. Já não estava mais frio, e ele sentiu as costas suadas, o pescoço grudento por causa do clima quente da Califórnia sofrendo com o sol do meio dia.

Se sentindo estranho ele levantou, deixando Diana encolhida entre os caixotes de bebida e cigarros. Scott olhou para o chão: havia terra espalhada por todos os lados, como se algo ou alguém tivesse andado pela casa da árvore com os sapatos sujos.

— Você saiu durante a noite? — ele perguntou, e Diana acordou com o som de sua voz.

— Não. Por quê?

— Alguém esteve aqui.

— O quê? Quem?

Scott respirou fundo. Estava sendo paranoico. Ele mesmo havia entrado na casa da árvore com os pés sujos após andar descalço por toda a avenida Manning, então as marcas só poderiam ser suas.

— Preciso ir — ele disse, se levantando.

Havia usado a tequila dos caixotes para tirar o sangue de suas mãos, portanto estava limpo. A coisa mais alarmante em Scott naquela manhã eram as olheiras absurdamente escuras e a camiseta feminina tamanho G moldando o seu corpo. Aquilo, porém, poderia ser ignorado se ele tentasse ser discreto até chegar em casa. Ninguém realmente achava aquele tipo de coisa anormal na Califórnia, onde todo mundo era um pouco maluco.

Scott se levantou, levando uma garrafa de tequila antes de sair da casa da árvore. No jardim de Diana os funcionários já cortavam grama e limpavam estátuas, todos espalhados pela mansão para garantir que ela continuaria perfeita aos olhos de seus chefes.

Nenhum deles estranhou a presença de Scott.

Eles estavam acostumados com as visitas de Scott J. Adams, o mascote pobre da família. Ou pelo menos era isso o que Scott pensava sempre que percebia os olhares que lhe eram direcionados. No fundo, todo mundo sabia que Diana só conversava com ele porque ele era bom de cama. Não havia surpresa nisso, apesar de ferir um pouco do orgulho de Scott.

Ele saiu da mansão e andou até a sua casa em uma caminhada de uma hora. Estava sem dinheiro, sem carro e sem ânimo para ao menos tentar pegar um ônibus de graça. A viagem até a residência dos Adams também lhe faria bem visto que ele precisava encontrar uma ótima desculpa para ter perdido o carro. A única coisa que sua mãe e seu padrasto sabiam era que ele havia saído com Elize, nada mais. Queria que continuasse daquele jeito.

Quando Scott estava a apenas alguns quarteirões de casa ele viu Emmet, um de deus amigos da escola. Ele era o outro mascote pobre de Diana, mas não era tão bom assim de cama.

— Que noite, hein, Scott?

Emmet só sabia sobre Elize e a festa dos Prescott porque Adams havia desabafado toda a sua vontade de não comparecer ao evento para ele, mas, naquele momento, parecia ter muito mais conhecimento sobre tudo o que havia acontecido do que qualquer um dos convidados.

— Foi bem louco, mesmo. Mas eu não fiquei até o final.

— Por quê?

Scott pensou em toda aquela confusão. Pensou no fogo queimando as suas roupas e as provas de que havia assassinado Elize Prescott; pensou na noite na casa da àrvore e no sangue de suas mãos passando pelo rosto de Diana enquanto eles transavam.

Queime Tudo (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora