capítulo 17

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Julie

O vento bate no meu casaco e embora a chuva tivesse estiado um pouco, não havia sinal de que o tempo iria melhorar. Mas Camille estava animada para ir a igreja.

--- Venha conosco -- convido Matt.

--  Vão vocês duas. Assim podem fazer um programa de mulheres depois que saírem da igreja.

-- Por favor, papai -- pede Camille já sentada no banco do passageiro do carro.

Coloco a mão no braço dela, interrompendo os pedidos. Estava tentando entender a apreensão de Matt.  Fazia cerca de uma semana que viviam fora das sombras. Mas estar com outras pessoas era um passo que ele ainda hesitava em dar.

Os moradores da cidade não são receptivos. E desde o início, para eles, Matt era a fera escondida no castelo. Ainda comentavam sobre ele e precisariam de algum tempo para se acostumar, se ele fosse um dia querer aparecer para todos, é claro.

--  Está bem -- digo -- Não vamos demorar.

--  Quero ir -- disse ele baixinho se inclinando na janela do carro - Mas não com Camille por perto. Não sei o que faria se ela ouvisse os comentários que fazem sobre mim.

-- Nem eu -- concordo com os lábios apertados. Ele segura meu  queixo delicado. Amo o modo que ele me olha. Mas decido fugir e dos seus encantos, porque eu estou sempre pronta para defender Camille e ele.

-- Quer dizer que não pretende aparecer para outras pessoas, só para Camille e para mim?

Ele solta um longo suspiro.

-- Não posso. Ainda não.

-- Isto não pode durar para sempre Matt. Vou colocar Camille na escola e haverá reuniões de pais, aulas de bale, festinhas... Vai negar a ela e a si mesmo uma vida normal por causa dos outros?

-- Não. Mas preciso de tempo -- suspiro, tentando me controlar.

--  Está bem. Vou tentar entender.

Olho para Camille que não está interessada nos adultos e brinca com os botões do painel,e fito Matt novamente.

-- Eu me preocupo com vocês -- digo baixinho, ele sorri -- Quero que sejam felizes, e esconder-se não será bom para Camille.

-- E para você?

--Também. Não vejo a hora de desfilar com você por essa ilha e dizer para todo mundo que essa fera é só minha -- digo beijando sua bochecha -- estou falando sério Matt.

Matt

A determinação de Julie era algo que teria que aguentar.  E respiro fundo, porque no fundo sabia que isso iria acontecer. Mas não quero discutir o assunto nesse momento.

-- Podemos conversar hoje à noite, está bem? -- pergunto.

-- Ótimo.

Gosto da determinação que vejo nos olhos verdes, quando ela ergue o queixo, balançando o rabo-de-cavalo. Tinha pela certeza que me arriscaria a fazer um papel ridículo nas ruas da cidade com ela.

Quanto ao futuro, não podia prever o que aconteceria. Mas  ela tem mais do que o meu coração. E queria que esse sentimento durasse para sempre, sem interferência do mundo exterior.
Tendo ao redor apenas ela, Camille, Richard e Deus.

--  Hoje à noite -- digo, inclinando-me mais, para beijá-la. Camille rir, pisquei para ela.

Fico contente que minha filha me aceitou, e também o meu relacionamento com Julie, com toda naturalidade. Somos uma família, Julie era minha namorada, e todas as manhãs, quando acordo e vejo o rosto das duas, e as abraços, experimento um sentimento de paz e realização que jamais imaginei ser possível. Não deixarei que nada ameaçasse essa felicidade. Nunca.

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