|04| Seja Mal Pela Primeira Vez

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Sentei rapidamente, olhando-o confuso. — Por quê?

Ele se aproximou, como se fosse me contar um segredo e murmurou: — Por que, pela primeira vez, alguém está disposto a contrariar o próprio Satanás.

Ergui as sobrancelhas, abraçando meus joelhos. — Sério? Ninguém nunca tentou?

Muito sério — Morfus balançou a cabeça, me olhando animado. — E isso pode, até, ficar interessante.

— Interessante? — me aproximei mais ainda, sentindo meu pulso queimar em ansiedade. — Como?

— Tecnicamente, você não é um súdito dele, por que na real, você não praticou crime algum, não é? — concordei, recebendo um sorriso em troca.

Parecia malévolo.

— Então você não está sobre efeito de nenhuma de suas regras...

— Meu Deus... — murmurei com um sorriso encantado nos lábios. — É verdade.

— Ah — ele bufou, parecia ter se dado conta de algo. — Mas você é santinho demais...

— O quê? — arregalei os olhos.

Eu estava sendo testado por um demônio, e, ao mesmo tempo, sendo tomado por uma súbita vontade de prová-lo que estava errado. Quando vivo, acabei me privando de muitas coisas, pela religião, família e aceitação própria.

Cerrei os olhos, divagando.

Mas eu estava morto. Bem longe de meus pais e de meu Deus.

E eu queria mesmo provar para Morfus que ele estava redondamente errado. Então, falei algo que nunca nem pensei em falar.

— Eu não sou um santinho...

Um sorriso fantasmagórico se formou em seus lábios.

— Sério? — levantou calmamente.

Suspirei, concordando. — Sério.

— Então... acho que podemos fazer umas coisinhas por aqui... — comentou vagamente, sugestivo. —..., mas isso vai depender de você.

Mordi a parte interna da boca, dividido. Não queria fazer coisas erradas, mas queria. No final, concordei e me levantei também.

— O que eu faço? — perguntei, já sentindo o gosto da euforia na boca.

Eu ia mesmo fazer algo ruim?

Ia.

— O que quer fazer? — ele se escorou contra a parede e cruzou os braços.

Pensei e sorri fraquinho, olhando-o com minhas bochechas quentes. — Vou quebrar minha primeira regra.

— Qual regra?

— Não vou para o café-da-manhã para adorar aquele satanás. Ficarei em meu quarto.

Um sorriso sombrio surgiu em seu rosto, ao que concordou lentamente. Depois, se transformou em morcego, abriu a porta, e desapareceu pelos corredores.

[...]

O relógio na parede marcava sete e vinte, e eu não poderia estar me sentindo mais contente. Não havia sido uma coisa ruim, ruim, mas significou a quebra de um ciclo para mim; a primeira vez que desobedeci alguém.

A primeira vez que preferi ser orgulhoso.

Mas aquilo que pensei que seria bom, acabou se tornando um tédio sem fim, pois estava sozinho e com fome. Entretanto, não iria pisar naquele salão, nem se fosse arrastado.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroWhere stories live. Discover now