Pedaços de segredos

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— Já vai ficar sem usar a cueca?!

— Ninguém merece dormir apertado! Amanhã eu visto pra ir na escola!

Talvez ele tivesse razão. Pra dormir é bom mesmo que estejamos muito confortável. Mas poderia tirá-la na hora do dormir! Ainda faltava muito.


Pedaços desegredos.


Na manhã de terça-feira, enquanto Regis e José Carlos faziam seus deveres escolares na mesa da sala e os maninhos pequenos brincavam no chão ao lado deles, fui lavar a louça para mamãe, que, aproveitando dessa ajuda, começara a preparar o almoço e assim, estando juntos, aproveitou:

— Você disse que vem de um tempo no futuro. É complicado entender isso. Porém, se é isso, você tem família por lá!

— Sim! — concordei. — Mulher e três filhos! Já falei isso!

— E agora? Como eles estão?

— Não sei! Creio que estejam bem!

— Uma família precisa de um esposo, um pai! E agora?

— Não sei, mamãe! O que eu posso fazer?

— Como eles terão dinheiro pra pagar as contas?

— Quanto a isso não nos preocupemos. Está tudo sob controle.

— Não sente falta deles?

— Claro que sinto! Estou morrendo de saudade deles! E estou pensando, eu não queria ir embora nunca mais, pois estou adorando ter voltado pra este corpinho de menino serelepe. E se ir embora, vou ficar com muitas saudades de todos daqui. Mas por outro lado, a senhora tem razão. O que está acontecendo com eles? Será que sabem o que aconteceu comigo? Estão sofrendo!

— Passando necessidades... — emendou ela.

— Não necessidades financeiras! — neguei convicto. — Já disse que está tudo sob controle.

— Como não! Sua mulher... — pensou um pouco e riu. — É engraçado falar sua mulher para meu filho de nove anos de idade. Mas... ela trabalha? Algum filho trabalha?

— A caçulinha está no ginasial, mamãe! O outro estuda na faculdade e mora em outra cidade. O mais velho cuida de sua própria vida. Já é independente. Minha mulher não trabalha fora. Cuida apenas da casa, que é gigante e dá muito trabalho.

— Sua casa do futuro é gigante?

— Digamos que... o dobro dessa.

— Por que tão grande para apenas... cinco pessoas?

— Quando a senhora era criança morou em uma casa de dezessete cômodos, mamãe.

— Só que o número de moradores também era grande, quinze pessoas.

— De fato — ri irônico. — As famílias antigas eram numerosas.

— E quem leva o alpiste pra esta família do futuro?

— Eu diria que sou o arrimo da família — ri convicto. — Mas quanto a isso não se preocupe, estamos estabilizados financeiramente e ela tem meus cartões.

— Ainda bem! — Confortou-se ela, sabendo que se os filhos estão bem, então ela, sendo a mãe, estará bem também. — Só que se você demorar muito, a estabilidade financeira poderá diminuir.

Através das Barreiras do tempoWhere stories live. Discover now