Ansiedade

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De repente me vi como em um redemoinho, porém sem vento, que não demorou nem cinco segundos e então me vi na mesma praça, em pé diante do mesmo banco de concreto que estava diferente.

Ansiedade

Meu corpo teria se encolhido para cerca de cento e dez centímetros de altura, com fisionomia de um menininho de seus oito ou nove anos de idade, dentro de uma roupa... gigante, que... minha bermuda de algodão caiu imediatamente até os pés e mesmo minha cueca tipo boxer de lycra chegou a escorregar até os joelhos e... só não passei o maior vexame de minha recente (cinco segundos) vida de criança, porque a camiseta de malha fria fez a função de um vestido, cobrindo minhas partes íntimas.

Ainda assustado e surpreso pelo desejo realizado, puxei imediatamente minhas vestes para o devido lugar. Desfiz os nós da bermuda, tornando a amarrá-la apertando minha cintura, onde, apesar de esquisita, serviu para o que de fato era sua função.

Percebi minhas sandálias tamanho 41, em meus pés que talvez usasse 27, tirando-as imediatamente, pois seria preferível ficar descalço.

Olhei tudo a meu redor e, estava de fato na mesma praça, embora um pouco diferente daquela em que estava a poucos segundos, se fazendo agora mais simpática, mais limpa, mais nova e muito mais bonita do que a do futuro. A diferença era que a fonte não jorrava água. Deveria estar apenas desligada.

Algumas pessoas passavam por mim e me olhavam curiosas, devido, principalmente minhas vestes, que, além de diferentes da que elas usavam, também de tamanho exagerado para uma criança.

Olhei para o prédio da esquina à minha frente e lembrei:

- Minha filha!

Ela não estava lá! Sequer o prédio era uma clínica odontológica, mas sim uma bela residência no formato da clínica. A rua não era de asfalto, mas sim de paralelepípedos e os carros, os poucos carros, muito diferentes: fuscas, charangas, sinkas, gordinis... charretes puxadas por cavalo.

Não sei se estava de fato encantado ou apavorado.

Já que o amigo ancião tinha mesmo o tal poder, por que não se prontificou a usar em seu próprio favor, levando-o de volta à sua infância? Ele disse que não tinha o que recordar de tal época encantada. E daí? Poderia voltar e consertar tais desventuras.

Puxei do bolso da bermuda meu aparelho... celular e o admirei.

Aproveitando-o, busquei o número em sua memória e liguei imediatamente para minha casa. Fiquei aguardando por mais de trinta segundos. Claro que ninguém atendeu! O aparelho sequer tinha sinal e eu nem tinha observado.

Me dirigi a um transeunte, perguntando:

- Por favor, senhor, em que ano a gente está?

- O quê? - Admirou ele por minha impetulância.

- É que... por favor! Não estou brincando! Que ano já estamos?

- Você bateu a cabeça? - insistiu ele.

- Não! É que... - pensei um pouco. - Ainda não sei direito e vai cair na prova. Que ano é agora?

- Mil novecentos e sessenta e oito.

- Ãh! Jura!

- Eu juro! Mês de Abril!

- Puxa!

- Boa prova. Mas é bom trocar de roupas - riu ele continuando seu caminho.

- Então é mesmo isso! Eu voltei no tempo e estou com apenas nove anos de idade! Mas espere um pouco! Minha mente não parece ter só nove anos de idade! Três vezes nove! Vinte e sete! Oito vezes nove! Setenta e dois! Trinta e um vezes dezesseis... - pensei um bocado. - Quinhentos e um! Não... - refiz o cálculo na mente. - Quatrocentos e noventa e seis...

Através das Barreiras do tempoWhere stories live. Discover now