Prólogo

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– O que você fez, garota?

Edwin Bouvier perguntou, estático e congelado por dentro assim que entrou dentro da própria casa.

– Disse para vocês, papai. Disse que não deveriam deixa-la sozinha.

Reagan respondeu segurando a avó morta nos braços, caída da escada, com sangue nos lábios e o pescoço quebrado.

Constance Bouvier não conseguia acreditar, muito menos seu marido.

– Você foi longe demais minha filha. Longe demais dessa vez.

Murmurou.

– O que? Mamãe...

– Vou ligar para eles Edwin, ela é muito perigosa. Eles podem cuidar de tudo.

Constance respondeu tampando a boca com uma das mãos atravessando a porta da sala para varanda, inconsolada e perdida, apertando os botões do antigo telefone celular. Como se a modernidade dos aparelhos atuais fosse uma afronta a sua crença inabalável de seu fervoroso Deus.

Reagan tentou levantar, mas seu pai a pegou pelo braço, segurando seu pulso com tanta força que era impossível se libertar.

– Papai, eu juro por tudo que eu não fiz isso. Eu não a matei.

Suplicou a garota de longos cabelos loiros e cacheados.

– Se você vê o futuro como alega, deveria ter previsto isso criança maldita.

Exclamou cheio de ódio.

– Não é assim que funciona. Não consigo controlar. Disse que ela iria cair. Disse para não a deixar sozinha. Eu tentei salvá-la, tentei chegar a tempo, eu juro pelo nosso Deus. Papai, por favor!

Pediu a garota em prantos. Ela dizia a verdade. Não era capaz de controlar as visões que vinham em sonhos, da mesma forma que não era capaz de ver o que poderia acontecer. Mas ela sabia dizer quando algo ruim estava prestes a ocorrer, e naquele momento a sensação zunia em seu cérebro como se fosse uma queima de fogos de quatro de julho.

Sentiu o peso da bíblia encadernada em couro do pai sobre o rosto antes que pudesse terminar o raciocínio, com o sangue se misturando a sua saliva e seu corpo caindo ao chão.

– Nunca mais profane o nome do senhor em vão novamente, sua assassina.

Bravejou o pai, e essa foi a última parte do seu mundo a desmoronar.

Reagan ficou parada lá mais tempo do que poderia processar. Sentindo cada parte da sua vida, da sua história, da sua crença e do seu ser desmoronando sobre o cadáver da falecida avó.

Se ela tivesse ficado na casa da amiga, se ela nunca tivesse contado aos pais sobre suas visões. Se ela simplesmente não fosse capaz de ver o que via. Todas essas hipóteses saltitavam dentro dela enquanto o tempo deixava de passar normalmente e os fatos ficavam confusos demais para entender.

Quando uma mão pesada a segurou pelo ombro e as luzes coloridas preencheram a entrada da casa, era tarde demais para garota de quinze anos tentar fazer qualquer coisa.

Dois homens de jalecos brancos a agarraram pelos braços, enquanto ela tentava se soltar. Seu pai estava ao telefone, sua mãe chorava do lado de fora. Talvez por ela, talvez pela própria mãe falecida. Ou ambas as coisas.

– Mamãe! MAMÃE!

Conseguiu gritar sentindo a picada da seringa no seu pescoço e a sensação de torpor levando tudo embora, tendo sua última visão em liberdade um rapaz que ele não conhecia, já que nunca havia saído de East Paradise na vida.

– Kia?!

Perguntou em murmúrios sem reconhecer o nome saindo da boca.


*Olá, pessoal. Espero que tenham gostado do capítulo.  Caso vocês queiram comentar, perguntar ou criticar algo sintam-se livre para deixar um comentário no capítulo ou me chamar no whatsapp (021995345745 - Felipe L), todos são bem vindo! *

Véu dos Mundos, vol. II - Chamas InfernaisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora