|02| Saiba Como Morreu

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— Que seja à vontade d'Ele — repeti, mas meus olhos continuavam vidrados no pódio.

Não parecia com nada do que uma decoração de oração e adoração cristã pedia.

À noite, quando tudo estava arrumado, eu estava na salinha do porão da igreja. Estava abotoando o último botão de minha bata, quando minha mãe apareceu.

— Você parece miserável — murmurou ela.

Pelo reflexo do espelho, podia ver sua postura cansada, de braços cruzados contra a parede.

Sorri nervoso e concordei. — Estou em frangalhos, mãe. Você está certa.

Ela tombou a cabeça para o lado. Mordia um pequeno palito de dentes. — Já acabou de se arrumar?

Balancei a cabeça, afirmando que sim. — Estou pronto.

— É bom que esteja — rosnou ela. — Sabe como odeio quando você fica atrasando as coisas.

Desencostando-se da parede, andou até mim e, por trás, agarrou uma madeixa de meu cabelo. — Você já sabe o que irá acontecer, se não for escolhido um dos seis?

Prendi a respiração, concordando. — Sei.

— Está de jejum há quantas horas?

— dezesseis.

— Bom — concordou. — Agora suba e se junte aos outros. Logo, logo, o sorteio terá início.

Acenei, e com as mãos suadas, deixei a sala e fui em direção ao salão principal.

[...]

Ao contrário do que pensei, o salão estava completamente escuro, sendo iluminado apenas por grandes tochas. As chamas eram quase vermelhas, de tão intensas. No centro, próximo ao altar, estavam os outros nove meninos, aos quais devia me juntar.

— Como você está? — Hoseok perguntou assim que me juntei a ele.

Ele também iria participar do sorteio.

Mesmo no escuro, percebia que ele também estava quase tão suado, quanto eu.

— Bem — sussurrei, olhando-o de relance. — Onde estão seus pais?

Observei-o baixar a cabeça, negando lentamente com pesar. — Não vieram. Eles me odeiam.

— Hope... — coloquei a mão em seu ombro, tentando consolá-lo. — Não precisamos de ninguém, quando temos Ele. Não esqueça disso.

Ele fungou e concordou. — Não esquecerei.

Iria oferecê-lo mais conselhos, porém fomos interrompidos pela voz imponente e grossa do pastor Namjoon.

— Silêncio! — ordenou. — Daremos início ao ritual de adoração anual.

Estava vestindo uma bata branca, com detalhes em ouro e prata. Em seu rosto, uma expressão séria. Mas eu podia perceber a animação contida em seus traços.

— Louvado seja Ele! — as pessoas gritaram, em seus bancos.

Não havia percebido o quão cheia a igreja estava, nem que o grande portão estava trancado por cadeados.

— Estamos aqui, hoje, reunidos para celebrar a iniciação de seis belos garotos! Mas temos dez esse ano... — então analisou-nos minunciosamente, com um sorriso brilhante pelas chamas no rosto. — Tragam a urna!

Jin, o mais novo secretário extraordinário do pastor, caminhou lentamente em sua direção. Segurava uma pequena caixa de madeira.

— Se aproximem, meus garotos — o pastor pediu. — Peguem um papel.

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroWhere stories live. Discover now