PRÓLOGO

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Os saltos de Lynn produziam ruídos que ecoavam pelo espaço. Ela sempre se sentia desconfortável naquele ambiente. Era uma sala ampla, sem janelas, com o piso de granito escuro e as paredes pintadas de preto. Existia apenas um lugar iluminado: o laboratório dentro de um bloco de vidro, no centro da imensidão negra. O resto não precisava de iluminação, afinal, sem o laboratório, aquele hall seria apenas uma grande sala escura.

Lynn nunca entendera o motivo de o laboratório principal ficar em uma sala escura. Não fora ela quem havia decidido isso. Não pôde nem opinar sobre. Quem cuidaria dos principais laboratórios era ele, então ela deveria ficar de boca fechada.

Assim que chegou perto da vidraça, a porta do laboratório se arrastou para o lado. A mulher adentrou com seus saltos ecoando ainda mais alto na parte de dentro do bloco. Richard era o único cientista ali, porém ele estava acompanhado de Hock, que ainda vestia seu traje de combate e tinha um fuzil pendurado nas costas. Ambos estavam de costas, mas o barulho dos sapatos os fez virar.

Lynn olhou entediada para Richard.

— Espero que dessa vez você realmente tenha encontrado algo — ela falou. — Estamos ficando sem tempo. Você sabe disso.

O cientista ainda era jovem. Tinha 23 anos, mas aparentava ter ainda menos. Entretanto, era um dos mais inteligentes de toda a instituição. O problema de Lynn com ele era o ocorrido de duas semanas atrás, onde jurara que Hock havia encontrado o garoto certo, mas, na verdade, era apenas um erro cometido por digitação que mudou todo o código genético da criança testada. Richard e Hock se afastaram dois passos um do outro, deixando o balcão atrás deles visível para Lynn. Nele, ela conseguiu ver um microscópio, um projetor e uma pequena máquina com um cilindro de vidro. Era um leitor de DNA — por mais que fosse quase impossível de se enxergar, Lynn conseguiu ver um fio de cabelo castanho dentro do cilindro.

— Bem... eu... — começou Richard, hesitante. Ele sabia que se errasse mais uma vez, seu destino seria as ruas. — Ainda estou fazendo alguns testes, mas tenho quase certeza de que é ele.

Então, sua mão se ergueu até o projetor e ele apertou o botão para ligá-lo. Uma imagem se acendeu contra o vidro, parecendo um holograma flutuante. A imagem era uma estrutura de DNA com um amontoado de letras que formavam o código genético. Richard apertou outro botão no projetor e a imagem mudou para um texto cheio de termos técnicos e biológicos sobre o indivíduo dono do fio de cabelo.

— É DNA nuclear, parece que a raiz estava intacta... — disse o cientista. — Conseguimos bastante informações sobre. Mas, infelizmente, esse código genético não corresponde com nenhum outro que já registramos. Isso significa que...

— O garoto ainda está do Lado de Fora — concluiu Lynn, concentrada em sua leitura.

Aquilo não podia ser real. Aquele fio de cabelo correspondia a tudo que eles estavam procurando há anos. Anos!

— O fio estava na roupa de um dos garotos que raptamos ontem — explicou Hock. — Acho que se chama Tomás ou algo assim. Porém, o fio de cabelo não pertence a ele.

Lynn se virou para o soldado e sorriu, esperançosa.

— Onde vocês o pegaram? — ela indagou.

— Área 4, senhora. Perto de uma das Praças do Lado de Fora — ele respondeu.

— Ótimo! — exclamou a mulher. — Voltem para lá.

Um movimento aconteceu em suas sobrancelhas, quase como uma expressão de dúvida. Não durou muito tempo.

— Hoje?

— Agora.

Enfim, ele assentiu e marchou em direção à porta com as mãos atrás das costas, como um cachorro obediente. Assim que saiu, Richard olhou para Lynn com uma sobrancelha erguida.

— Não quero criticar suas ordens ou faltar com respeito, senhora, mas... não está cedo demais? — ele disse, meio hesitante. No instante seguinte, pareceu se arrepender de ter pronunciado isso: — Quer dizer, eu ainda não analisei direito e...

— Richard, pessoas estão morrendo — ela o interrompeu. — Cada dia que passa, isso tudo parece piorar. Já se passaram anos. Essa é a nossa segunda chance para salvar a humanidade e... E eu estou sentindo que será a última.

O silêncio pairou no laboratório. Os dois ficaram apenas se encarando.

— Isso é urgente. Precisamos encontrá-lo — ela continuou, virando-se para encarar a projeção com as mãos na cintura. Pensativa, sussurrou para si mesma: — Quem é esse garoto?

O Lado de ForaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora