Dolce Estraneo

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Quando Brandão terminou de explicar brevemente sobre o desfecho da história do antigo proprietário da oficina, os olhos de Luccino ardiam, denunciando as lágrimas que estava segurando desde o momento que entrara no humilde casebre de madeira. Virou-se de costas, tentando ignorar o olhar preocupado de Mariana, voltando o olhar para um ponto vazio aos fundos da oficina.

-Homicídio? – Sussurrara, com medo de expressar qualquer veracidade sobre o ato que todos no Vale do Café achavam ter tirado a vida do falecido mecânico. Era tão difícil acreditar nas palavras que ouviu, acreditar que aquele lugar foi palco de tamanha crueldade. Claro, não era ingênuo a ponto de ignorar o caos e violência no dia a dia em qualquer lugar, mas aquele caso o tinha mobilizado de forma inexplicável.

Brandão suspirou, apertando Mariana contra si, que agora encarava as costas tensas do melhor amigo há poucos metros.

-Não houve provas concretas na cena do crime naquela época, apenas a arma que estava próxima aos corpos encontrados no local, mas ao que tudo indica através dos jornais, é que se tratava de homicídio. Pelo menos de um dos cadáveres, é o que foi garantido pela polícia nos arquivos históricos da cidade.

-Conseguiram pegar o assassino? – A voz de Luccino estava quase inaudível. Se não fosse pelo silencio do ambiente e pelas redondezas da oficina, provavelmente o casal não teria escutado.

-Infelizmente não, não havia rastros na estrada de terra, ou qualquer outro sinal de quem cometeu o ato. – Brandão respondeu.

A primeira lágrima desceu do rosto de Luccino, que fechara os olhos, tentando buscar algum consolo em qualquer outra coisa que buscava pensar, mas tudo o que podia sentir era uma enorme angustia e incompreensível impotência, ardendo igual brasa dentro de si mesmo. Queria ter a possibilidade de fazer com que a dor misteriosa terminasse, queria poder ter ajudado o mecânico desconhecido, e quem quer que estivesse com ele, e também foi encontrado morto.

Cerrou os punhos com a inútil vontade de fazer suas mãos pararem de tremer, enxugou os rastros de lágrimas do rosto, respirando fundo, tentando ter de volta algum controle sobre o seu próprio corpo.

-Luccino, está tudo bem? – Mariana se pronunciou, soltando-se do abraço de Brandão, e andando até o outro homem que permanecia quieto, recostado em uma das pilastras de madeira da oficina. – Se quiser nós podemos voltar pra casa da minha família, pra você descansar. A conversa sobre o trabalho pode esperar, não é Brandão?

-Claro. Não há a necessidade de... – O argumento de Brandão foi interrompida pelo toque do celular que vibrava no bolso de sua calça. – Com licença.

Ao ver o namorado se distanciar para fora da oficina, Mariana aproveitou que estava parcialmente sozinha com Luccino, e segurou as mãos dele entre as suas.

-Luccino, o que aconteceu? Você está pálido, parece que viu um fantasma. – A moça Benedito olhava para o jovem Pricelli que tinha os olhos marejados, e as feições entristecidas. – Sabia que eu não deveria ter te perturbado em trazer você pra cá, e ainda por cima logo depois do acidente...

-Quase acidente, Mariana. – Luccino deu um sorriso amarelo, apertando as mãos de Mariana entre as suas. – Está tudo bem, não se preocupe comigo. Eu só... Não esperava saber que um lugar como esse poderia guardar uma tragédia dessas.

-Eu te trouxe aqui porque eu pensei que você iria gostar de conhecer lugares que fizeram parte da história do Vale, onde eu cresci. Achei até que... – Mariana revirou os olhos, tentando conter as palavras, não querendo perturbar mais o amigo.

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