Caro sconosciuto

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Ainda se sentindo desnorteado e com a cabeça latejando devido à queda, conseguiu-se sentar com a ajuda do estranho que quase havia lhe batido. Olhando mais de perto, Luccino encarou fixamente a barba por fazer do homem à sua frente e se perguntou do porque não conseguir tirar os olhos da mesma, até perceber que o estranho estava falando com ele. Era estranho chama-lo de estranho, mas não conseguia pensar em nada além do que havia acontecido e o turbilhão de sentimentos de uma vez, por causa de uma quase batida de carro.

Pelo menos, achava que era a única causa.

Ao olhar ao redor, viu o seu capacete com alguns amassados e arranhões, sua mochila de viagem, e a sua moto a alguns metros de distância. Ela também parecia ter visto dias melhores, se ela aguentasse o resto da viagem até o Vale do Café, já seria um milagre.

- Oi? Consegue se levantar? Quer ajuda? – O estranho o fitava preocupado, parecendo não saber o que fazer.

Luccino acenou, ainda sentindo as mãos frias e um tanto tremulas. Mas sendo honesto consigo mesmo, não sabia se era apenas pelo infeliz acidente e o imenso susto que levara. Ao ser puxado para cima, fechou os olhos, levando alguns segundos para sentir o mundo ao seu redor não girar fora de orbita. O desconhecido pareceu perceber e continuou a firma-lo em suas mãos, as segurando, firmes.

-Olha, eu realmente sinto muito... Você precisa que eu te leve até um hospital próximo? Você acha que quebrou algum osso? – O homem suspirou, expressando uma revolta contida. – Eu sabia que não deveria ter dirigido, Randolfo disse que eu não estava preparado o suficiente, eu sou um péssimo motorista-

Luccino não aguentou os lamentos do outro e começou a rir.

-Est-Está rindo de mim? – A sobrancelha do estranho arqueou pra cima, parecendo indignado. – Eu acabei atropelar você! De fato eu acho que você precisa ir ao hospital e checar se está tudo bem mesmo, quem em sã consciência estaria rindo de uma coisa dessas?

- De fato... Mas, em sua defesa, você não me bateu, apenas... surgiu de repente em alta velocidade, me assustou e fez com que eu caísse e quase fosse dessa pra melhor. Ou pior, eu não sei. – Luccino balançou a cabeça, já conseguindo sentir seu corpo de volta a si, mas não queria largar as mãos que o seguravam.

-Se você não queria que eu me sentisse culpado, definitivamente conseguiu o contrário. – O estranho bufou, olhando para o céu, e viu que estava anoitecendo e nenhum carro ainda tinha passado por aquela via da estrada. – Bom, pelo caminho que você vinha, acredito que ia em direção ao Vale do Café, correto?

- Sim, não sou daqui, mas da Capital. – Luccino respondeu, mas sentiu um sorriso brotar no rosto quando viu o outro sorrir. – O que? Agora você está rindo de mim?

-Não! Não, é que... Você tem um sotaque um tanto diferente pra ser apenas paulista, só isso. – os olhos castanhos o avaliavam, desconfiados, mas questionadores.

-Ah, sim, na verdade eu sou... – O celular no bolso em sua calça começou a tocar e o contato das mãos se perderam, provocando uma chateação repentina em Luccino. Pegou o aparelho e reconheceu o número – Desculpe, preciso mesmo atender.

O estranho acenou parecendo compreender, afastando-se para lhe dar privacidade.

-Alo?

-Luccino! Aconteceu alguma coisa? Você não é de se atrasar, quando me avisou que estava saindo de São Paulo já tinha deduzido que deveria estar chegando aqui no Vale... Eu e Brandão estamos esperando você.

Luccino coçou atrás da cabeça, desalinhando mais os cabelos bagunçados pelo vento, preparando-se para um pequeno sermão da melhor amiga.

-Desculpe Mariana, sofri uma pequeno acidente e realmente não-

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