O medo, a cura e o bom capitão

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Eu preferia "procure me amar quando menos mereço, pois é quando mais preciso". Mais simples, egoísta e verdadeiro. Não, não é verdade. O mais verdadeiro dos provérbios suecos é "o medo atribui às pequenas coisas grandes sombras". Era, pelo menos, a mais pura verdade sobre todos os meus primeiros momentos com Park Jimin. O mais normal e corriqueiro "Olá". Uma coleção infindável de "Bom dia", "Bom trabalho", "Muito obrigado" e "Por favor". Uma galeria inteira com um acervo de mais de cinquenta sorrisos diferentes. Pequenos gestos que me envolveram tão profundamente em toda essência do que ele é que quando me dei conta, o medo dos meus sentimentos expostos pelo meu corpo deixou uma grande sombra em cada uma dessas pequenas coisas. Elas tomaram proporções catastróficas. Não era mais um simples "Por favor", era um abraço aconchegante, ou uma âncora amarrada no meu pé, me puxando cada vez mais para o fundo.

Uma intensidade tão descomunal ao ponto de me fazer almejar um trabalho no Museu Nacional da Coreia — sem saber se era aquilo que eu realmente queria — e, depois de uma semana, decidir com convicção que não havia mais nada no mundo que eu pudesse querer mais.

Park Jimin decidiu toda a minha vida sem saber. O medo me aprisionou o restante do tempo.

O flerte frustrado, carregado de incerteza. Ele é assim com todos. Gentil, cuidadoso, sorridente, carinhoso, doce, generoso, atencioso, físico, charmoso e sexy. Não havia de quem não conseguisse arrancar sorrisos escancarados ou gargalhadas altas. Eu não era uma exceção bonita e romântica, e sim, apenas mais um que se encantou com razão. Ele é Park Jimin, tudo o que a humanidade precisava para alcançar a paz mundial se personificava nele.

Não importa, a sabedoria sueca que eu tentei exercer no final das contas foi que "o melhor meio de cura é a moderação". E eu precisava desesperadamente de uma cura. Um canivete que cortasse a corda da âncora e me deixasse emergir mais uma vez. Amá-lo era tão bom quanto era sufocante. Encontrar a moderação no meio do mar agitado e frio parecia possível somente se eu fosse filho de Poseidon. Eu estava sem coordenadas em alto mar, sem saber qual era a direção para alcançar a terra firme, cercado de perigos e de olhares profundos a todo o momento. A cada dia que passava em sua presença eu trocava moderação por entrega. Minha única cura seria minha entrega, porque era a única coisa que eu realmente queria. Estar perdido em alto mar sem possibilidade de resgate e, se as ondas de Park Jimin me engolissem, eu me afogaria com um sorriso.

Fui ainda mais longe. Não seria ousado dizer que eu entendo muito mais dele do que sobre restauração de quadros, arte e museus. Minhas curiosidades mais profundas eram sanadas com facilidade e fascínio. Eu contei todas as pintinhas que suas roupas não escondiam e combinei com as minhas. Todas. Nós tínhamos pelo menos cinco nos mesmos lugares, mas as dele eram como constelações. Sua derme era o céu ao contrário. Límpida. O que eu não podia ver, minha imaginação replicava da maneira mais fiel possível. Seu corpo era o universo inteiro, porque não podia ser apenas uma obra de arte. Não era somente contemplável, era vital. Infinito. Carregava todas as perguntas sem respostas e todos os mistérios desvendados. Ele guardava em si toda a minha existência.

Meu desejo de orbitá-lo sem rumo, não tinha cura. Pelo contrário. Quero mais ser roubado. Invadido. Maculado por Park Jimin. Dizer que ponha suas mãos em mim, sinta meu cabelo, me vire do avesso. Aceite que sou seu.

Imprescindível. Cálido, Lírico.

Mais do que senti-lo, preciso que me sinta. Me toque e saiba, enfim, tudo o que está no fundo. Me aperte de um jeito que eu também tenha certeza, até ficarmos tão enrolados que ninguém saberia dizer onde um começa e o outro termina. Quero tudo que me é de direito, desde seu rosto corado ofegante e bagunçado até sua mordida peculiar, torta e única na minha pele. Quero sua digital tatuada sob a minha pele porque saberia assim que seria para sempre, então meu sangue viraria tinta e Park Jimin estaria em toda minha alma.

To The Surface • Park JiminOnde as histórias ganham vida. Descobre agora