O medo, a cura e o bom capitão

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[ escutem as músicas sugeridas, vocês não vão se arrepender ]

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O medo, a cura e o bom capitão


OS escrita por Kesey_ecc

revisada por _meninadojardim


O tempo parou as duas e trinta e oito da tarde na praia de M.*, com o sol sem ter mais para onde despontar. Aguardávamos caminhando pela rebentação mansa das ondas na areia branca enquanto víamos pessoas que faziam parte da expedição trabalhando para lá e cá sem parar. Pulamos uma etapa do processo calculado pelo museu, para Park Jimin ficaria tudo bem, já que eu tinha o estômago muito frágil até mesmo para águas calmas e mesmo correndo o risco de corromper toda a esquematização de "posse" ele jamais me deixaria sozinho à beira mar.

Em silêncio, andamos até uma canoa quase enterrada na areia — que mais parecia estar abandonada — , mas assim que nos abaixamos e vasculhamos seu interior, logo entendemos o porquê do descaso. Eram objetos sem valor resgatados de passageiros há muito esquecidos ou, sequer lembrados um dia.

— Era um navio britânico na verdade — Jimin comenta pegando um relógio de bolso velho e corroído pela salmoura. — Sabe-se que no Reino Unido têm uma das maiores colônias asiáticas do mundo, mas não sei ao certo quando essa imigração começou.

— Acho que por volta de 1865, mas não tenho certeza. — Afundo mais meus pés na areia ao me inclinar e tocar o que, um dia, pode ter sido uma caixa de música. — Algum desses passageiros pelo visto teve alguma ligação com Chi Wun-Yung, ou uma obra tão estimada não iria parar tão longe de casa.

— Um navio britânico com nome sueco — ele ri com certa ironia, traço que não fazia parte de sua personalidade tão pura e complexa.

— Parece que foi só o nome que apelidaram na expedição daqui, já que agora é um navio de domínio deles. Significa "grande coroa" pelo o que eu pesquisei. Uma afronta aos monarcas ingleses, não acha? — Sorrio.

— E você disse que não seria útil... — seu olhar cortês e quente repousa sobre os meus olhos, passeia pelo meu nariz e termina o trajeto nos meus lábios ainda curvados, só então ele retribui, me mostrando os dentes.

Seus elogios, dos mais singelos aos mais explícitos e incentivadores, sempre encontravam uma maneira de me deixar quente e vermelho. Satisfeito e eufórico. Digno e ao mesmo tempo não merecedor.

— Tem certeza de que está tudo bem não termos ido até o navio?

Não jogue fora o balde velho até que você saiba se o novo segura água.

— Mas o que isso tem a ver? — Pergunto, já me sentindo idiota e inferior mais uma vez. Quem não se sentiria inferior ao lado de alguém tão impoluto?

— Nada. É só um provérbio sueco. Queria mostrar que também pesquisei coisas, mas percebi que nunca teria uma hora certa pra usar — ri, jogando os fios de cabelo mais brilhantes do que o sol para trás. Um movimento que sempre cativava a mim e mais cem por cento das pessoas a quem era exposto.

To The Surface • Park JiminOnde as histórias ganham vida. Descobre agora