Eu tenho meus motivos doutora

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A jovem ainda observava a fina chuva que agora continuava a cair sobre a janela do carro, uma fina esperança percorreu por suas veias. Quem sabe a chuva não dava uma trégua amanhã para ela finalmente poder correr?

— O que ganho em troca? — perguntou absorta olhando as ruas movimentadas do centro de Seattle.

— Tem direito a uma pergunta. — Era óbvio que Hope não se contentaria com apenas uma pergunta.

— Só uma? Estou a enfrentar o centro da cidade pra buscar seu 'café preferido' além de ter enfrentado um jantar na casa da sua família... é muito pouco.

— Só sabes reclamar? Pegarei um café para você também. Isto basta.

De canto de olho Thomas observou a fúria da garota ao seu lado, esperava um xingamento da mesma, porém a única coisa que ela foi capaz de fazer foi revirar os olhos e rir nervosa. Algo que o rapaz já tinha observado na enigmática Hope, sempre que estava brava ou nervosa ria. É inevitável, chegou até pensar que a mesma nem percebe o que faz.

— Ligue o rádio. — disse esperando a resposta grosseira da garota.

E novamente, a única coisa que ela fez foi silenciosamente ligar o rádio e encostar-se no banco com uma carranca nada agradável. Silenciosa, demorava a explodir, sabia controlar os seus nervos, Thomas pela primeira vez sentiu inveja da forma de como a garota conseguia se controlar.

Estacionou o carro em frente à uma Starbucks e saiu, deixando a sozinha.
Hope com os pés doloridos resolveu tirar os saltos, estico-os e contentou-se a apoiá-los no banco em que estava sentada.
Cerca de quinze minutos depois avistou Thomas sair com dois copos na mão e uma morena ao seu lado que sorria sem parar, forçado demais para o gosto de Hope. Antes de entrar no carro ele deixou a moça falando sozinha.

— Pegue aqui. — empurrou um dos copos. Hope pegou e experimentou fazendo uma careta. Uma coisa que ela detestava era café muito doce e com bastante leite. E é exatamente assim que sei café estava.

— Deixe-me experimentar o seu?! — sem esperar uma resposta puxou o copo da mão do rapaz e tomou um longo gole, fechando levemente os olhos. Sentiu-se mais viva naquele exato momento com seu café do que em todo o restante do dia. O sabor perfeito, forte e com a quantidade certa de açúcar (ou adoçante). — Fique com esse. — autoritariamente passou o que seria seu café para Thomas ficando com o dele.

— O que? O outro é meu!

— É bom perguntar o gosto da pessoa antes de ir comprar algo.

Hope fingiu não ouvir nada que ele pronunciava, meio infantil, sabia disso.

— Ainda bem que gosto do café tanto doce quanto amargo. — disse, agora ele aparentava estar bravo.

Parando em frente à casa de Hope o jovem esperou ela fazer sua pergunta, mas foi surpreendido por um convite. 

— Gostaria de entrar?

— Suspeito que sua pergunta tenha uma resposta rápida. — ele viu o incomodo na garota e ficou tentado a descobrir o por quê.

— Por favor entre, além de não ser tão rápido quanto está pensando, ainda tem a Sra. Crasht que é uma baita fofoqueira, realmente não quero entrar em mais uma discussão com ela sobre como não é legal ficar se intrometendo na vida dos outros e de como ela deveria cuidar mais de seu cabelo.

Thomas riu observando a mentira fluir pelo ar, era mais do que óbvio que Hope não ligaria para mulheres fofoqueiras, ela era dona de si mesmo e não se importava com comentários desagradáveis sobre sua pessoa. Pelo menos era isso que o jovem rapaz pensava sobre ela.

— Ok! — disse por fim, saindo do carro e sendo acompanhado pela moça até a porta de sua casa.

Não ficou assustado ao entrar na mesma, era do jeito que imaginou que seria, bem organizada. Única parte que saia desta bolha de arrumação era a parte perto de uma poltrona onde vários livros, cadernos e revistas estavam espalhados juntos com marcadores de texto e canetas das mais diversas cores.

— Sente-se. — ordenou Hope apontando para o sofá.

Logo que Thomas ajeitou-se no confortável sofá, Hope fez questão de arrumar sua postura e sentar em uma cadeira em sua frente segurando uma caderneta.

— Tudo que eu preciso é de uma sessão gratuita. Muito obrigada doutora Razel. — debochou sobre como aquilo tudo estava tão formal para alguém que prometeu ser apenas uma simples conversa.

— Quero que me conte tudo sobre sua família!

— Pensei que chegaria direto no ponto de: "Por um acaso está usando drogas?"

— Não posso te julgar por usar drogas se não souber sobre a base de sua vida. É muito fácil de dizer que é um simples irresponsável e não saber sobre as coisas que te levaram a se tornar um. Estou aqui para te ajudar e não julgar.

— É o que diz, mas sabemos que lá no fundo estará me julgando. — agora aparentemente mais relaxado, Thomas deita no sofá.

— Talvez eu esteja, mas é para melhor aconselhar-te sobre suas decisões, que ultimamente não estão sendo das melhores.

— Eu tenho meus motivos doutora...

— E são esses motivos que durante nossas conversas você terá que me contar.

— E se eu não contar?

— Conseguirei descobrir por mim mesma.

Thomas riu, achando aquilo totalmente diferente e até mesmo mais divertido do que realmente pensava de como seria.

— Meu pai é alguém que quer muito dos outros e não faz nada para merecer, adora apontar nossos erros e esfrega-los em nossas caras. Agressivo e até mesmo uma verdadeiro idiota, seu passatempo favorito é dar castigos para qualquer um que se atreva a bater de frente com o mesmo, o que eu raramente faço. — a ironia em sua voz faz Hope pensar se algum dia o Sr. Blair já bateu em Thomas. — Minha mãe faz todos os gostos de seu marido, nunca teve coragem para defender os próprios filhos e aguenta traições e brigas calada. Para ela meu pai está sempre certo. Às vezes penso que ela é movida apenas pelo dinheiro que ele fornece toda semana para ela. Teve um briga ontem, mas não é nada que um dia no shopping não a faça esquecer rapidamente do tapa que Lily levou. — Hope anotou algo rapidamente a tempo de escutar Thomas suspirar olhando fixamente para o teto. — Já Lily está presa dentro de casa fazendo tudo que eles mandam. Não tem para onde ir e muito menos idade o suficiente, já me disse uma vez que o dia mais feliz de sua vida será quando completar dezoito anos e poder ir para bem longe e nunca mais precisar olhar para cara de nossos pais. Eu disse que a ajudaria mas não tem o que fazer. Às vezes as lembranças são como um alívio, para mim são pequenos flashs de tortura. Como acha que me sinto sabendo que Lily está passando por tudo que passei? E eu não posso ajudá-la. É extremamente irritante.

— E você?

— Como assim eu?

— Está me contando sobre sua família, você também faz parte dela.

— Tenho certeza que já percebeu aonde me encaixo nessa história. Agora se me dá licença, já esta tarde e ainda tenho que terminar um resumo para amanhã.

Mais rápido que pode, Corey saiu da sala e foi em direção a porta. Hope queria se desculpar por tê-lo deixado daquela maneira, como mais nova psicóloga sabia o quão doloroso podia ser falar sobre assuntos delicados. Porém não consegui se mexer e nem falar nada, para ela já estava mais do que óbvio que família era um assunto delicado para o famoso bad boy.

A little Hope [EM CONSTRUÇÃO]Where stories live. Discover now