Capítulo 03 - Ciúmes incontrolável

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DIA 2

"A segunda vantagem de não se apaixonar e a que irá cuidar para que nosso coração esteja em paz: VOCÊ NÃO MORRERÁ DE CIÚMES POR ALGUÉM."

Mamãe comentou comigo que uma vez quase terminou com papai por conta de ciúmes. Pelo que me lembro da história que me contou, ela estava sentada no pátio da universidade lendo um livro que havia alugado para estudar e avistou papai sentado em um banco. De lá, ficou admirando a sua beleza e serenidade.

Até que uma moça chegou. Mamãe disse que seu corpo era muito sugestivo e provavelmente chamaria a atenção de qualquer cara que passasse por ela. E então a moça o beijou na bochecha, mas aquele beijo fora tão próximo da boca, quer dizer, segundo ela uma parte pelo menos tocou o lábio de papai.

E naquele dia, mamãe achou que papai poderia estar olhando para um outro alguém.

O bom era que não estava. E então eles estão até hoje juntos e me tiveram.

Gostava sempre de me colocar no lugar das outras pessoas. Como reagiria fazendo algo ou passando por alguma situação?

Como uma menina sem experiência alguma, apenas tendo em base leitura de livros, ou o fato de assistir filmes e séries no computador, não havia muito o que falar ou pensar.

Nós sabíamos da má imagem que coisas fictícias traziam para as nossas vidas. Sobre alterarem a realidade a ponto de ela parecer um sonho difícil de ser alcançado.

Eu via Austin beijar varias meninas. A minha única certeza era que nada era sério para ele. É que nós não tínhamos nada, não havia qualquer chance de eu cobra-lo por nada.

Estava sentada tentando prestar a atenção na aula de física. O professor estava preparando o quadro com todas as informações como de costume. Susan atrás de mim com sua cópia Lindsay, tagarelavam tão alto que pareciam fazer questão de atrapalhar a aula.

— Eu irei me vingar, isso você pode ter certeza! — Susan falou raivosa para a amiga.

— E qual o seu plano? — Lindsay perguntou curiosa.

— Eu não sei ainda. — Revelou. — Mas eu não irei vê-lo mais nenhuma vez ao lado de outra menina.

Não conseguia imaginar até que ponto uma pessoa iria por amor. Na minha cabeça, aquilo não chegava a ser mais amor, agora tratava-se de obsessão. Talvez para Susan, Austin fosse um Deus e estava determinada a fazer de tudo para ficar com ele. Quem sabe pela fama.

As pessoas não entendem que o ciúmes sufoca. E é ainda pior quando nem existe um relacionamento com esse alguém. Alguns dizem que que uma pitada de ciúmes é bom e que muito estraga. Eu acredito que isso seja verdade. Tudo que é demais estraga.

Mamãe me fez prometer que eu nunca seria esse tipo de pessoa. E eu não precisaria prometer porque na realidade sou muito calma, até mais do que o normal.

— Ele ainda se jogará aos meus pés. — Afirmou fazendo sua amiga soltar um risinho de expectativa.

— Tenho certeza que sim. — A mala sem alça concordou.

Endireitei-me na cadeira desconfortável e sem ao menos esperar um papel caiu sobre a minha mesa. De início acreditei que fosse mais uma brincadeira dos meninos, mas desenrolando o papel pude ver que havia algo escrito.

"Tudo certo para amanhã?"

Ass: Austin.

Virei meu rosto em sua direção, direto para trás, onde Austin me olhava com expectativas. Balancei a cabeça positivamente como resposta e ele deu um beleza com seu polegar esquerdo.

Senti minhas bochechas arderem com seu gesto. Por um segundo cogitei em me retirar da sala e ir até o banheiro passar uma água no rosto, mas neguei ao perceber que os cálculos de física estavam começando a se complicarem.

Apesar de ser uma boa aluna, principalmente nas matérias de exata, ultimamente tinha tido algumas dificuldades em física. Quem sabe Austin fosse um pouco culpado por ter me tirado tanto o foco nas últimas semanas.

O fato era que as aulas estavam acabando e em breve eu não precisaria mais me preocupar em ser apaixonada.

Iria passar em uma universidade e então meu foco mudaria totalmente. Iria estar preocupada demais com meus estudos muito mais complicados e com as minhas maiores responsabilidades.

Havia decidido em tentar uma universidade fora, onde provavelmente teria que me alojar em seus aposentos. Gostava da ideia de procurar algo novo. Quem sabe eu me desenvolvesse melhor como pessoa e poderia me abrir mais com os outros.

Essa ideia me motivou a escolher seguir os passos de mamãe em literatura inglesa. Nós teríamos que trocar ideias frequentemente como mamãe havia contado. Os trabalhos pareciam serem em maiores quantidades.

Esperava crescer. Independente de qualquer coisa o que eu mais desejava era meu crescimento pessoal e profissional.

Para isso, tinha uma ótima professora dentro de casa que já me auxiliava para um futuro próspero.

Dois toques no meu ombro foram o suficiente para me retirar do transe que havia se formado e fazer-me virar e dar de cara com Susan.

— Ei, o que você tem com o Austin? — Perguntou curiosa.

— Nada. — Respondi sem vontade. — Darei aulas para ele.

Ela semicerrou os olhos e voltou a encarar seu caderno.

Imaginei que ela me fizesse mais milhões de perguntas. E que provavelmente me ameaçaria, mas até mesmo para Susan eu não era um perigo. Aquilo doeu um pouco, mas tentei lembrar das frases de incentivo que mamãe e papai sempre usaram comigo.

E uma delas que eu mais levava comigo e até mesmo havia comprado uma camisa com a frase, era: "O que você tem de diferente é o que você tem de mais bonito.".

Eu era diferente de um modo bom. Até então havia tido duas grandes amizades naquela escola. Uma durou dois anos com Sarah que infelizmente precisou se mudar, ainda mantínhamos contato nas redes sociais. E a outra com Eva, que por algum motivo neste ano nem ao menos olhava na minha cara.

O sinal indicando que o intervalo havia chegado tocou e caminhamos todos para fora da sala. Entrei na fila e encarei o buffet preparado com as mesmas comidas de sempre. Purê de batatas; arroz; carne moída e frango picados. Havia outras coisas que eu não chegava a experimentar.

 Havia outras coisas que eu não chegava a experimentar

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As vantagens de não se APAIXONARWhere stories live. Discover now