Inverno

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Mais um inverno chegará em Seattle, e Hope May Razel teria que se acostumar com isso. Habituada a correr todas as manhãs entre as árvores de folhagem amarelas avermelhadas. Fazia questão de acordar mais cedo do que era preciso para fazer isso, logo depois de voltar para a casa e se arrumar rumava para a faculdade.

Olhou pela janela esperando que a pesada chuva que varre as ruas vazias passasse rápido, senão teria que voltar para debaixo das cobertas e esquecer sua corrida, pelo menos por hoje.

Se cansando de qualquer uma das opções dadas a si mesmo, fez questão de preparar um café forte e quente. Acomodou-se em sua poltrona de couro escuro e pegou um livro qualquer que achou pelo meio do caminho. Gostava de marcar frases que achava interessante, fazia isso normalmente no período da noite mas como não tinha nada proveitoso a fazer, contentou-se com seu livro de filosofia do segundo ano do ensino médio. A garota e suas manias estranhas, guardará todos os livros dos anos escolares que foram lhe dados, principalmente os que continham sábias palavras que a ajudariam algum dia desses em algum de seus trabalhos da faculdade.

Depois de um tempo fez questão de levantar e ir tomar um banho para relaxar os músculos tensos por causa do frio. Sua casa era simples, sempre disse a seus pais que preferiria ir morar em um apartamento mas eles nunca deram ouvidos a bela jovem decidida. Compraram um casa para ela numa cidade de seu gosto e despacharam a jovem em um avião rumo ao seu destino final. Seu irmão ficou junto dos pais, era o mimado, fazia o que queria e nunca sofrerá as mínimas consequências que seus atos deveriam ter gerados. Hope o acha um rapaz imaturo incapaz de cuidar de si mesmo. E nunca outro alguém escutou a menina mudar de opinião, desde pequena gostava de analisar... as pessoas, seus sentimentos, seus medos. E quem ela mais analisava era seu irmão, o rapaz que não pode aprender com seus erros porque para os outros sempre estava certo, o rapaz que se achava superior às mulheres e o mesmo rapaz que Hope fez questão de acertar a cara com um belo de um murro antes de partir para Seattle.

Saiu do banheiro com o cabelo molhado já vestida com sua jeans skinny, casaco preto e seus famosos coturnos de salto médio, também pretos. Hope é alta e não liga nem um pouco em usar saltos, gosta principalmente da maciez de seus coturnos e de como eles de uma maneira especial, fazem-a sentir como se estivesse descalça.
Olhou em seu relógio e viu que estava atrasada novamente, prendeu o cabelo loiro escuro em um coque solto (ou como diriam hoje em dia, descolado) passou um rímel e um batom nude, pegou sua bolsa e encarou o frio e a chuva que a esperavam. Pensou se ficaria doente por causo do cabelo molhado, mas preferiu uma gripe passageira do que perder as três aulas seguidas do professor Flitzy.

Entrou em seu carro e dirigiu até a escola, em menos de vinte minutos estacionou e saiu andando rapidamente pela chuva. Não levará seu guarda-chuva, sabia que iria se atrapalhar demais com ele e tudo de que ela não precisaria é de mais empecilhos em sua rotina.

Cantarolava Do I Wanna Know enquanto caminhava em direção a sua sala. No momento em que se sentou ouviu o sinal tocar e três dos alunos serem barrados na porta pelo Sr. Flitzy. Esses jovens não teriam o que fazer até o intervalo, ou até teriam se eles se interessassem aos corredores vazios do terceiro andar enquanto esperavam a diretora passar o mesmo sermão de sempre sobre pontualidade. Só Deus sabe quantas vezes Hope já escutou o mesmo e chato discurso, principalmente nos dias que caiam sobre a quinta-feira. Pontualidade era deixava apenas para segunda, ou seja, hoje.

As aulas já tinham acabado, porém a jovem ficou de ajudar a diretora McBontriy ou Suzi para os mais amigos.
Suzi é a pessoa com quem Hope mais conversa da faculdade, digamos que o campus é um pouco tanto tóxico aos seus olhos. Por essa aproximação com a diretora e com a ajuda de suas mais belas e admiradas notas, conseguiu ajudar o conselho dos professores com alguns casos dos alunos. Principalmente os mais problemáticos. Colocou isso em seu fichário de atividades como se fosse uma matéria extracurricular, pois como dizem, uma psicóloga deve saber lidar com seus pacientes. E ela estava mais do que apta a isso.

— Merda! — a suave voz da jovem ecoou pelo banheiro vazio. Observava seu reflexo no espelho, estava acabada. O trabalho em grupo tinha degradado a imagem da pobre menina. Soltou seu cabelo, agora mais seco e observou a forma revoltada que as ondas caiam sobre seus magros ombros.

— Pensei que pessoas da sua área não eram acostumadas a usar palavras de baixo calão.

Encostado no batente da porta estava Corey Thomas Blair com sua famosa jaqueta de couro, o cabelo castanho molhado incomodava o dono do mesmo. Toda hora passava a mão tentando o arrumar e fazer com que parasse de cair em sua testa.

— O que quer aqui Thomas? Pensei que pessoas como você não se misturassem e muito menos falassem com pessoas como eu. O que quer dizer que está precisando de alguma coisa.

Hope sabia que o garoto não gostava de ser chamado pelo segundo nome, era sempre Corey ou Blair. A jovem suspeitava que o mesmo sentia-se mais no poder com esses nomes. Como aqueles bad boys de filmes e livros, pensando bem, até mesmo Hope acreditava que ele era um verdadeiro bad boy. Sempre com sua jaqueta de couro, com seu time de futebol americano e as garotas ao seu lado.

— Fiquei sabendo que vai lidar com os intrometimentos da direção na vida de mais um aluno e...

— E esse aluno irresponsável é você. De novo!

— Minha mãe conseguiu vir falar com ela aquela vez e mostrar que eu estava certo mas agora ela não estão dando espaço pra que eu...

— Por favor Thomas, se puder me deixar sozinha agora agradeceria. Não tem nada que eu possa fazer por você, não por enquanto.

— Mas se tivesse... não faria. — Observando-o se aproximar, colocou o cabelo para o lado, pronta para sair dali e ir encontrar a diretora Suzi.

Corey parou em frente da bela jovem achando que seu olhar ameaçador mexeria com ela igual fazia as com as outras garotas. Ele ainda teria que aprender muito sobre ela...

— Você está sendo uma menina má Razel. — disse inclinando-se sobre ela.

Seu perfume preencheu o ar em volta de Hope, e ela não tinha como negar que o cheiro a agradava, mas isso não mudava a hipótese de que ele estava sendo um idiota.

Olhou em seus olhos azuis e com a voz baixa e suave respondeu calmamente.

— E você está sendo um completo idiota.

Afastou-se dele e rumou para a porta, passou por ela e antes de continuar seu caminho para o terceiro andar, virou em seus calcanhares e falou:

— Tenha uma ótima tarde Corey.

Com o lembrar da bela face do jovem que deixará raivoso partiu para a sala de sua amiga, pronta para enfrentar uma pilha de papéis com informações do mesmo e discussões sobres suas repentinas ações. Lhe agradaria bastante ver uma mudança nos atos de Corey, ela não gostaria de ter que cuidar de alguém com os mesmos aspectos de seu imaturo irmão.

A little Hope [EM CONSTRUÇÃO]Where stories live. Discover now