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_Hope? - Dean chamou, batendo na porta de ferro. - Hope? Você já pode sair daí.

Quando ele não ouviu resposta, entrou em pânico. Mil situações passaram pela sua cabeça e ele abriu a porta de ferro sólido com força, fazendo o metal rugir. Ao contrário do que ele esperava encontrar, o quarto estava intacto e Hope estava sentada na cama, encarando a parede com o queixo apoiado nos joelhos.

_Hope? - Dean chamou, confuso.

_Eu vi ele ontem. - Ela murmurou uma vez, antes de repetir. - E-eu vi ele ontem.

_Hope, do que você tá falando? O que aconteceu? - Ele perguntou, se sentando ao lado dela.

_Meu pai. - Ela respondeu, virando o rosto pra encarar Dean. - Eu vi ele ontem.

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_Hope, dá pra explicar direito o que aconteceu? - Sam perguntou, sentado em uma cadeira de frente pra Hope enquanto Dean andava de um lado ao outro da sala.

_Eu orei, como o Tio Castiel mandou. Eu orei, e ele respondeu. - Ela respondeu, tremendo. - Eu vi os olhos dele, eu ouvi ele chamando o meu nome.

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Dois anos depois

Era 23 de novembro de 2013.

Muitas coisas aconteceram nos últimos 2 anos, 5 meses, duas semanas e um dia. Já havia se passado bastante tempo desde que Hope se juntou aos Winchester, no dia 8 de junho de 2011, e muito tinha mudado.

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No Natal de 2011, quando estavam viajando pra mais uma cidade, o Impala foi parado na estrada. Os policiais não gostaram muito de ver uma menor de idade -- que havia sido reportada como desaparecida pela escola, meses atrás --, no carro de dois homens com ficha criminal e que tinham sido declarados mortos anos atrás. Hope foi levada pela polícia e passou duas semanas num orfanato, forçando os dois irmãos a tomarem uma decisão.

Dean, com a ajuda de Castiel, oficializou a adoção de Hope no início de 2012. Nesse dia, ela passou a ser, oficialmente, Hope Angel Winchester, filha de Dean Campbell Winchester. E, como já estava perto de seu aniversário de 18 anos -- o que não mudaria muita coisa, já que, bem, ela era uma Winchester agora --, eles comemoraram a oficialização com bebidas, hambúrgueres e tortas.

Dean fez questão de (quase literalmente) esfregar o certificado de adoção na cara dos policiais quando saíram da cidade.

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E é claro que Sam e Dean forçaram Hope a terminar o terceiro ano. Foi difícil conciliar os estudos com a caça, e muitas vezes ela teve que ficar pra trás por causa de avaliações, mas ela concluiu o ensino médio no final de 2012.

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Ela perdeu completamente o contato com seus amigos meses antes, e não teve mais nenhuma notícia de Mike -- mesmo que ele nunca estivesse longe.

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Se, anos atrás, alguém dissesse que a morte de sua mãe adotiva seria a chave pra uma vida nova, com uma família nova, Hope teria dado risada na sua cara e o chamado de louco. Mas, aqui ela estava, quase dois anos e meio depois, numa sala do bunker, comemorando o resultado de mais uma caça com Sam e Dean.

Eles tinham descoberto sobre os Homens de Letras no início de 2013, quando Henry Winchester foi parar no futuro, fugindo de Abbadon, e Dean fez questão de apresentar Hope como "Hope Winchester, minha filha". Claro, não demorou para que Henry percebesse que ela não era sua filha de sangue, ou que ela nem sequer era 100% humana. Mas nada mudou -- as conversas sobre carros antigos continuaram, e ele não perdeu a confiança nela. Seu pedido para que protegesse Sam e Dean, nos seus últimos momentos de vida, com certeza era prova disso.

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O bunker era um dos lugares mais seguros onde eles poderiam estar, e isso era um alívio. Eles tinham uma casa agora, um lugar pra onde voltar.

Mas isso não ajudou Hope a dormir melhor. Seus poderes se fortaleceram e ela passou a ter quase total controle sobre eles. A graça herdada de seu pai somada ao poder de uma alma humana a tornava, com total certeza, um dos seres mais poderosos, empatando com os arcanjos. Enquanto isso, ela se tornava cada vez menos humana nos menores aspectos da vida. Não dormia por semanas, até que sua parte humana implorasse por descanso, e ela não sentia mais fome ou sede.

Sua postura, uma vez relaxada, agora se assemelhava a de um soldado. Ela estava sempre alerta, armada e pronta pra tudo, e quase nunca baixava a guarda. Ela tinha desenvolvido um senso forte de liderança, sabendo conciliar não só o emocional com o racional, mas também com seus instintos.

Às vezes, ela tinha dificuldade pra compreender sentimentos que sempre estiveram presentes em sua vida. Angústia, felicidade, tristeza...

Parte dela tinha medo do que ela tinha se tornado. No que ela estava se transformando.

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Ela nunca esqueceu dos olhos que viu, dois anos atrás.

Todas as noites, desde aquele dia, ela orava pro seu pai. Contava sobre seu dia, sobre o caso, o que viesse na cabeça. Ela contava histórias da sua infância, dos momentos que passou no orfanato até as caçadas com seu pai adotivo, Dominic. Da convivência com Sam, Dean e Castiel. Era estranho contar tanto a alguém que ela nunca viu, que ela nem sequer sabia o nome, mas a ajudava. Ajudava os dois, na verdade. Enquanto falar com seu pai era uma rota de fuga de todo o estresse da vida de Nephilim/caçadora, ouvir a voz de sua filha era sua rota de fuga do Inferno.

Literalmente.

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