IV

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- Que merda foi aquela João?!

- Você... - respirou forte - você não viu?

- Eu não vi nada! - Luan endagava indignado.

João, ainda escorado sobre a porta, depositou um olhar confuso no amigo:

- Como assim você não viu?

- Vi o quê?

- Uma sombra... Alta e negra bem na sua frente Luan! Na sua frente! Como você não viu?

- Na minha frente?

- Ele olhava pra mim... M-mas apontava pra você.

- Pra mim? Como assim apontava pra mim?

- Não sei cara! - João elevou a voz - ele apenas estendeu o dedo pra você.

Luan finalmente corrigiu sua postura de cansaço quando falou:

- Cara, se isso for uma brincadeira sua eu vou te arregaçar.

- Não é - garantiu João.

Foi depois do breve diálogo que os garotos perceberam onde estavam:

- Mano... A gente entrou - Luan disse o óbvio não acreditando.

...

Uma das janelas daquela casa das cabeças postiças emoldurava o rosto de uma menina de cabelos cacheados. Era Mariana aflita pela experiência que teve naquele lugar amaldiçoado.

- Não acredito que você foi lá.

Fernanda era a dona daquela frase. A irmã dois anos mais velha já estava dentro de um pijama e tinha os mesmos cabelos cacheados da caçula, porém os dela estavam azuis. Seus braços cruzados revelavam várias tatuagens. A maioria delas eram símbolos e frases LGBT. Ferdanda mantinha também suas pernas cruzadas em cima da cama da irmã. Em sua panturrilha estava a arte que Mariana mas gostava. Um coração com uma grande frase gravada: "PODER FEMININO".

Os olhos de Fernanda estavam fixos sob a face da irmã. Procurando alguma resposta, perguntou:

- Você sentiu mesmo?

- Senti. Foi a mesma coisa com o vô - confirmou com a voz abalada.

- E o que você tá pensando em fazer? Por que eu não vou deixar você voltar lá.

- Eles disseram que talvez voltariam amanhã... Mas eu to sentindo que eles estão lá.

Mariana, se afastando da janela, colocou a mão no bolso da sua calça onde retirou um pequeno pedaço de papel.

Ela se lembrou da última frase desengonçada que João disse quando eles a deixaram em casa:

"Q-qualquer coisa me liga".

...

Ambos sentiam um cheiro ácido de poeira mofada com um toque incômodo de ferrugem.

A lanterna, a única aliada dos garotos para combater a escuridão, fez uma breve varredura com os movimentos apavorados de João. Concluíram que estavam num corredor estreito e de, aproximadamente, seis metros de extenção. O corredor os levava até uma porta de madeira velha que ainda aparentava ser resistente.

Os passos curtos dos meninos mostravam o receio de ter que atravessar aquela porta.

Voltar para fora não era uma opção para João. E é claro que Luan não voltaria sozinho.

Dois CoraçõesTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang