- Que merda foi aquela João?!
- Você... - respirou forte - você não viu?
- Eu não vi nada! - Luan endagava indignado.
João, ainda escorado sobre a porta, depositou um olhar confuso no amigo:
- Como assim você não viu?
- Vi o quê?
- Uma sombra... Alta e negra bem na sua frente Luan! Na sua frente! Como você não viu?
- Na minha frente?
- Ele olhava pra mim... M-mas apontava pra você.
- Pra mim? Como assim apontava pra mim?
- Não sei cara! - João elevou a voz - ele apenas estendeu o dedo pra você.
Luan finalmente corrigiu sua postura de cansaço quando falou:
- Cara, se isso for uma brincadeira sua eu vou te arregaçar.
- Não é - garantiu João.
Foi depois do breve diálogo que os garotos perceberam onde estavam:
- Mano... A gente entrou - Luan disse o óbvio não acreditando.
...
Uma das janelas daquela casa das cabeças postiças emoldurava o rosto de uma menina de cabelos cacheados. Era Mariana aflita pela experiência que teve naquele lugar amaldiçoado.
- Não acredito que você foi lá.
Fernanda era a dona daquela frase. A irmã dois anos mais velha já estava dentro de um pijama e tinha os mesmos cabelos cacheados da caçula, porém os dela estavam azuis. Seus braços cruzados revelavam várias tatuagens. A maioria delas eram símbolos e frases LGBT. Ferdanda mantinha também suas pernas cruzadas em cima da cama da irmã. Em sua panturrilha estava a arte que Mariana mas gostava. Um coração com uma grande frase gravada: "PODER FEMININO".
Os olhos de Fernanda estavam fixos sob a face da irmã. Procurando alguma resposta, perguntou:
- Você sentiu mesmo?
- Senti. Foi a mesma coisa com o vô - confirmou com a voz abalada.
- E o que você tá pensando em fazer? Por que eu não vou deixar você voltar lá.
- Eles disseram que talvez voltariam amanhã... Mas eu to sentindo que eles estão lá.
Mariana, se afastando da janela, colocou a mão no bolso da sua calça onde retirou um pequeno pedaço de papel.
Ela se lembrou da última frase desengonçada que João disse quando eles a deixaram em casa:
"Q-qualquer coisa me liga".
...
Ambos sentiam um cheiro ácido de poeira mofada com um toque incômodo de ferrugem.
A lanterna, a única aliada dos garotos para combater a escuridão, fez uma breve varredura com os movimentos apavorados de João. Concluíram que estavam num corredor estreito e de, aproximadamente, seis metros de extenção. O corredor os levava até uma porta de madeira velha que ainda aparentava ser resistente.
Os passos curtos dos meninos mostravam o receio de ter que atravessar aquela porta.
Voltar para fora não era uma opção para João. E é claro que Luan não voltaria sozinho.
KAMU SEDANG MEMBACA
Dois Corações
Misteri / ThrillerTrês jovens planejam se aventurar na mais tenebrosa lenda da Cidade dos Dois Corações. Como se já não bastasse, eles resolvem fazer isso na véspera do dia mais sombrio do ano: O Halloween.