Dois Corações

II

- João!

PLEC!

- Oh João!

PLEC!

- Joããããoooooooooo!

...

PLEC!

Da janela, João via o amigo acenando com um punhado de pequenos pedregulhos nas mãos. Uma fantasia preta cobria o rosto do menino insistente. Mas apenas pela voz, João já sabia que se tratava de Luan.

Os olhos de João estavam vermelhos, ardentes, caídos e cansados. O reflexo quase transparente da janela mostrava isso.

- Vai tomar no cú, Luan - João resmungou como se o amigo pudesse ouvir. Mas Luan podia ver o dedo médio de João atravessando a janela recém-aberta. Tudo aquilo era uma forma carinhosa de melhores amigos se tratarem. Mas eles nunca admitiriam isso.

...

- O que você tá fazendo com essa fantasia cara? E porque você não entra em vez de ficar destruindo minha janela com essas pedras? - João perguntou enquanto fechava a porta de casa.

- Primeiramente, estou com essa fantasia por que era a roupa mais limpa que eu tinha em casa. E já que o Halloween é amanhã eu achei conveniente. E, segundamente, por que não cara - Luan respondeu como se fosse óbvio - sua mãe me odeia, e eu respeito isso. Eu não gostaria que uma pessoa que eu não gosto frequentasse tanto minha casa. O que você acha que iria acontecer se o Coringa fosse toda a manhã na Batcaverna buscar o Robin pra dar um rolê?

- O quê?! O Coringa nunca faria isso cara.

- Exatamente!

- E a sua solução pra isso é tacar pedra na minha janela?

- Sim - orgulhou-se - é uma solução prática e divertida.

João reprovou o amigo com um sorriso. E, depois de um breve silêncio, perguntou:

- O que você acha de chamar a Mari pra ir com a gente?

- A Mariana? Da turma de informática?

- É.

Luan se aproximou ainda mais do amigo enquanto andavam:

- Cara, você quem sabe. Essa menina tá abalando sua mente hein - opinou - mas eu não tenho nenhum problema com ela, até gosto dela.

- Eu gosto de ficar perto dela sabe - João declarou.

- To ligado, to ligado... Eu reparo nessas coisas mano - sorriu - você não sabe disfarçar que tá apaixonado.

- Cara, eu não to apaixonad... Ei, o que tá acontecendo ali? - João interrompeu-se quando viu, logo adiante, uma pequena multidão de crianças. Em sua maioria mais novas que os dois amigos.

Luan também ficou curioso:

- Vamo lá ver.

- Eai criançada, o que tá acontecendo aqui? - João perguntou enquanto abria espaço entre os menores.

- O boeiro engoliu o bumbum dele - uma das crianças deduziu.

Seus olhos se arregalaram para aquilo que nunca havia visto antes.