Capítulo EXTRA - " O Sonho"

341 22 3
                                    

Em um quarto no meio da noite...

- Milady? O mordomo chamava a porta.
- Sim? Kate interrompeu sua leitura, aquele dia tinha sido extremamente difícil ler míseras cinco páginas, imagens e sensações  tornavam sua concentração uma atividade hercúlea. Fechou o livro, e colocou-o sobre a mesinha.

- Tem visita Milady, o Visconde Bridgerton deseja vê-la.
Seu coração acelerou apenas com a menção de seu nome, tentou parecer plácida quando levantou o rosto e respondeu:
- Acredito que você entendeu mal, ele deve estar aqui para ver Edwina, não a mim. Diga-lhe por favor, que ela está de cama, e não pode recebê-lo.
Como se estivesse esperando atrás da porta para realizar uma entrada dramática, ele se materializou no vão da porta.

- Creio que da última vez que verifiquei, ontem à noite devo salientar, você ainda era a Srta Katharine Sheffield. Os olhos do Visconde brilharam, e um sorriso convencido surgiu em seu rosto. - Por tanto, de fato é com você que desejo falar.

Neste momento o cérebro e a boca de Kate resolveram se desconectar, pois não conseguiu articular nenhuma palavra. E Anthony alargou seu sorriso ainda mais.
-Queira me desculpar Milorde, eu imaginei que gostaria de falar com Edwina, mas uma vez que diz desejar falar comigo, creio que devo me resignar a tal informação.
O pobre mordomo alternava o olhar entre um e outro descrente em tudo que estava ouvindo e testemunhando.
- Sente-se Visconde. Kate teve de usar toda a sua força de vontade para manter suas feições controladas, a única indicação de sua irritação eram as mãos fechadas em punhos.
Como ele ousa visitar-me depois de todo o espetáculo em seu escritório? Este homem só pode ser desprovido de senso!

- Queira nos trazer uma bandeja de chá, pelo visto o Visconde ficará. Sente-se.

- Claro Milady. Com sua licença.
Silêncio sepulcral. O click da porta indicou que estavam sozinhos.

Kate não esperou que ele tomasse as rédeas da conversa, atacou-o, ainda que só verbalmente: - Não imaginei vê-lo tão cedo. Aliás não só não imaginei, como não desejava vê-lo.

Anthony levantou-se, e começou a andar pela sala, parecia inquieto, sua fachada habitual de tranquilidade estava abalada.
- Você vai deixar que fale, ou vai me atacar a cada maldito minuto desta visita?

Kate foi pega de surpresa com seu pequeno discurso. Olhou-o com desconfiança. - Prossiga. Farei o sacrifício de escutá-lo.

- Gostaria primeiramente de desculpar-me. O que fiz em meu escritório ontem foi imperdoável.
O coração de Kate acelerou, suas faces ficaram rubras, ele poderia ter ido até sua casa, no meio da tarde, para se desculpar pelo beijo e todo o resto?Olhou para o vaso Ming de Mary, e começou a calcular a que distância estava de suas mãos.

Imune aos devaneios de sua mente, o Visconde continuou seu monólogo: - Nunca, jamais imaginei ter tal atitude, foi imperdoável, agi com a senhorita como se fosse uma qualquer, aliás nem mulheres de classes inferiores mereciam tal tratamento. Fui um completo bruto. Imploro seu perdão.

Sua postura rígida e a intensidade com que falava perturbou ainda mais Kate. Ela sabia em seu íntimo que ele só poderia se arrepender de tê-la beijado. E com os olhos queimando e o orgulho ferido, levantou-se de um salto e respondeu a seu pedido.
- Não precisa implorar por nada Milorde, não vejo o porquê de tanto alarde, o senhor beijou-me, mas se quer saber nem me lembro de tal beijo. Não desejo retratação, não houve absolutamente nada. Sinta-se perdoado e pode seguir seu caminho, de preferência bem longe de mim e de minha irmã.

Anthony olhou para ela estarrecido. Aproximou-se, e falou em uma voz enérgica.
-Você acredita que pedi perdão por tê-la beijado?
- E não é óbvio? Sua raiva crescia de maneira alarmante, o que ele pensa, vir até sua casa, importuná-la com sua presença, e ainda se sentir ofendido? Seria cômico se não fosse trágico!
Diminuiu ainda mais a distância da Srta Irritante. - Em absoluto vim até aqui para desculpar-me pelo beijo. Acaso bateu a cabeça? Eu estou me desculpando por ter atirado a chave a seus pés, por tratá-la de maneira imperdoável. O beijo foi, foi... Desde quando ele gaguejava ?
Respirou fundo para se acalmar.
- De maneira nenhuma imaginei que um homem tão arrogante pudesse pedir desculpas por tais motivos, acreditei que tais atitudes fizessem parte de sua natureza, algo inerente. A proximidade já era opressiva, associada a postura colérica do Visconde, a respiração de Kate estava curta, antecipando, o que estava por vir.

- Suas ofensas são plausíveis, mas nunca iria me desculpar pelos beijos que trocamos. Mesmo porque como já lhe disse seu gosto é maravilhoso. Já não havia mais distância entre eles, em que momento isso aconteceu? Nenhum dos dois saberia responder.
- Não lhe beijei não. Fui atacada, e não tive possibilidade nem forças para repeli-lo.

O Visconde chegou ainda mais perto, e passou seu dedo indicador pela bochecha de Kate.
- Não vamos começar com isso não é mesmo? Quem beijou quem.  Seu dedo desceu pelo pescoço dela, e os últimos resquícios de sanidade se foram...
- Agora aqui em sua sala de estar eu desejo beijá-la até que perca os sentidos, quero fazê-la esquecer de todos os motivos que não deveríamos continuar com isso, se tem alguma objeção fale agora.
Kate atacada por seu cheiro masculino, sua presença viril, cedeu ao desejo e apenas o olhou trêmula.

Anthony deu-lhe um sorriso, e apertou- a contra si. O beijo que trocaram no escritório do Visconde havia sido abrasador, mas não se comparava a este. Ele atacou os lábios de Kate com selvageria, desejo e  loucura. Não seriam capazes de perceber se a casa estivesse em chamas, se houvesse um dilúvio, ou ainda se o próprio Deus estivesse descendo dos céus. Eles estavam absoluta e completamente concentrados um no outro, em uma mistura de mãos, lábios e línguas.

Desta vez Kate não ia parecer passiva, decidiu, se ele poderia atacá-la ela poderia muito bem retribuir ao ataque, imitá-lo, agarrá-lo, desvendar com o tato cada pedaço daquele corpo magnifico. E que se danassem as convenções, uma mulher pode aproveitar também não pode?
 
Suas respirações se misturavam, e ele estava cada vez mais excitado, e Kate não tinha forças, nem desejava pará-lo , queria o Visconde em toda a sua glória masculina, era ela que estava provocando seus gemidos, quando sentiu suas mãos pousarem-na no sofá. Já sabia o que iria acontecer. E não sentiu medo, vergonha, apenas desejava MAIS!

O Visconde levantou olhou-a e desferiu o último golpe em sua sanidade :- Vou fazê-la minha aqui, agora...Não posso esperar.
Sentiu suas mãos subindo em sua canela, levantando suas saias...

Sentou de súbito. Apalpou suas roupas, olhou a sua volta procurando-o.Ela estava em seu quarto, com sua camisola simples, e Edwina dormia a sono solto na cama ao lado.

Levou a mão aos lábios, sua respiração acelerada, seu coração batia em igual frenesi. Como pode ter acabado de ter um sonho erótico com o Visconde Bridgerton?
Levantou da cama e alcançou a jarra de água e a bacia, precisava se refrescar , acordar de fato daquele pesadelo. Afinal sonhar com Anthony Bridgerton em um encontro amoroso só pode ser classificado como pesadelo.

Pesadelo? Os seus beijos e carícias eram reais. Repetiu em voz alta para que as palavras entrassem em sua mente, coração e corpo:
- Ele não é bom e honrado. Ele é vil, e grosseiro. Nada pode sair de bom, numa relação com ele.
Deitou-se e decidiu que ela era suficientemente forte , para combater um sonho idiota.

Quase quatro horas depois de despertar, conseguiu enfim dormir.

Diário de Kate Sheffield Onde as histórias ganham vida. Descobre agora