Capítulo 2 (atualizado)

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Abro meus olhos devagar, temendo que meu corpo estaria totalmente dolorido, mas para minha surpresa, me sinto normal. Apenas com uma estranha pressão na cabeça, como se meu crânio não tivesse espaço para comportar meu cérebro. Então, volto minha atenção para onde estou.

Deitada, posso ver o teto que um dia foi branco, mas que agora está manchado e coberto de rachaduras. Olhando para meu lado direito, percebi uma cama. Com toda certeza, eu estou no chão e, certamente, isso aqui não é um hospital. 

Sento-me lentamente, achando tudo muito estranho. O quarto está parcialmente tomado pela escuridão e seu ar é úmido, com um cheiro bem pouco agradável. 

Na minha frente, percebo uma mesa de madeira em estado crítico, e sobre ela, um notebook prateado, com seus contornos limpos contrastando com a sujeira do lugar; um lugar que não parece estar habitado há muito tempo. 

Sinto algo se mexer à minha esquerda e pulo instintivamente para o lado oposto, me assustando ainda mais quando vejo que se trata de um homem. Será que sai com Lígia em um dos seus rolês insanos e vim parar nesse barraco com um desconhecido? Mas... eu estava sendo atropelada há... segundos atrás!?

Observo-o mais atentamente na esperança de reconhece-lo, mas sem sucesso. Seu corpo cheio de músculos se destaca sob a roupa, uma blusa de malha preta e calças jeans. Sua barba está por fazer e seu rosto está amassado pelos óculos de grau.

O desconhecido abre seus olhos negros e, um segundo depois, se senta assustado e arfando. Quando me viu, sua reação se pareceu muito com a minha quando o vi.

—Quem é você? Onde estamos? Como eu vim parar aqui? Onde eu estava? Não me lembro de nada! — Ele solta a avalanche de perguntas sem pausas, num único fôlego. — Meus óculos! — grita apavorado, mas em seguida, os encontra no chão ao seu lado.

—Infelizmente, não posso te responder isso — digo, balançando a cabeça levemente. — Eu só me lembro de que fui atropelada. Eu acho. 

—Eu... eu acho que... estou me lembrando.... de algo. De... ter atropelado alguém...!?

—Isso nem é estranho — afirmo sarcástica, me levantando e batendo na roupa para me livrar da sujeira.

Ouço barulhos de carros ao longe e vou em direção a um buraco na parede coberto por algumas tábuas, o que julgo ser a janela.

Olho por entre as frestas e consigo ver apenas várias outras casas empilhadas e, aparentemente, no mesmo estado da que estamos.

—Estranho...! — diz o homem atrás de mim, do qual eu ainda não sei o nome.

—Só percebe isso agora? Tem certeza que você não me sequestrou?

—Tenho a sensação de já conhecer este lugar. — diz ele, com o cenho franzido, ignorando minha pergunta. Volto minha atenção para a pequena "janela" à minha frente.

—Ai droga... O que é aquilo!?! — pergunto assustada, olhando para os enormes carros pretos que estacionam na esquina, não muito longe. Deles descem vários homens com o uniforme do governo, armados dos pés à cabeça.

—O que houve!? — ele praticamente grita no meu ouvido, chegando até a janela — Ai caramba! — E meu ouvido sofre com outro grito. — O que é aquilo?!

—É melhor sairmos daqui antes que eles nos achem.

E antes que eu fique surda. 

Rapidamente, me viro em direção a porta, sendo seguida por aquele homem estranho.

—Espera!!! — ele grita de novo, fazendo-me virar em sua direção. — Acho melhor levar esse notebook, pode ter algo interessante.

—Isso é roubo! — acuso, acrescentando logo em seguida: — Mas até que você é inteligente — E não consigo evitar de rir da sua cara chateada.

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