Ok, até que chegou novembro e o desespero era real. Eu, Cat e Thomas montamos um grupo de estudos mesmo para ajudarmos uns aos outros. Até Lara se juntou conosco em alguns dias a pedido de Catarina; ficamos até de tarde na escola, íamos em aula aos sábados, só estava faltando fazer as compras no supermercado para os professores. Cat e eu tínhamos fé que íamos passar direto, mas Thomas esperava pegar uma recuperação final em Português - em defesa dele, nosso professor era bem merda -. De qualquer forma eu iria na escola mesmo depois de passar e Cat também, por via das dúvidas, e na real, queria passar o máximo de tempo com Thomas. Sabia como podia ser insuportável o colégio sem seus amigos. Ou sem ter amigos.

Nos dias letivos finais era - dedo no cu e gritaria - uma zona total. Muitas aulas vagas. Chegou um ponto que as poucas pessoas que estavam frequentando as aulas iam todas para a quadra e ficavam sem fazer nada. Meu dia favorito foi quando Thomas resolveu levar o violão e passamos o restante do horário cantando, sentados no chão imundo da quadra. Uma rodinha havia se formado e adorado a cantoria, já tínhamos "shows", que nossos colegas haviam prometido, agendados pelo resto das nossas vidas.

Acabei fazendo mais amigos nesses últimos dias do que na minha vida toda. Depois que Breno saiu da escola, Cat voltou a se aproximar do pessoal legal do terceiro ano também, principalmente Fruta e Bruna, e até Laís e Gustavo - ambos conhecidos da resenha - se juntaram ao grupinho também. Os dois haviam começado a namorar, o que era engraçado, já que Laís queria ficar com Thomas e Gustavo comigo na festa do Fruta. Fico feliz que ambos estejam felizes.

Não que fosse durar essa união repentina de final de ano. Eles estavam se formando, cada um ia seguir seu caminho de certa forma. Mas era bom fazer parte disso.

- O manto agora é de vocês. -Comentou Fruta. Terceirão ano que vem. Deus me ajude. Que pressão, mas acho que dou conta. Afinal, sobrevivi esse ano, certo?

Logo depois dessa fala o trote dos formandos começou. Uma guerra de balões de tinta e água, em plena quadra escolar. Eu não queria nem saber o quanto de problema isso ia dar. Só curti o momento. Eu, Tom e Cat nos enfiamos lá no meio e participamos de tudo. Foi incrível, libertador e minha mãe vai me matar quando ver minha blusa do uniforme toda pintada. Espertos foram Thomas e Catarina que trouxeram blusas extras. Mas tudo bem, valeu a pena.

Então, finalmente férias! E eu estava entediada, porém descansando. Thomas conseguira passar, Cat também. Tudo estava na mais perfeita ordem, bem demais até. Eu estava com um pensamento, me auto sabotando, pensando quando as coisas vão piorar novamente, mas deixei de lado. Não importa agora. Aproveite o momento.

Não via Thomas, nem Cat já ia fazer uma semana. Acho que também estávamos dando um tempo para apenas ficar entediados em nossos quartos, mas já estava planejando mil rolês na minha cabeça para as férias, e ainda teríamos o casamento de Dave. Ufa! 

Antes que eu perceba, as primeiras semanas de férias passam num piscar de olhos, e voilà! Natal está chegando! Minha família está uma pilha de estresse, principalmente minha mãe, dramática como é.

Acontece que Dave resolveu passar a ceia, na noite do dia 24, com a família de Helena. E pronto, isso foi a gota d'água para minha mãe. Desfez todos os planos com qualquer laço familiar e dito e feito, passaremos o Natal mais deprimente de todos em casa. Eu, meu pai e ela. 

Perguntei a Thomas o que ele iria fazer, mas o Natal dele não parece tão diferente do meu agora. Ele, o pai e o irmão, com sorte teriam uma ceia, ou não. Vai depender do humor do pai dele. Chamei ele para passar conosco, e até aceitaria o pai dele aqui se facilitasse as coisas. Iria ser muito menos deprimente, mas ele disse que duvidava que o pai aceitasse numa boa. Não insisti mais.

É meia-noite.

"Feliz Natal! ♥"

Envio para Thomas, mas ele não responde. Tudo bem, deve estar ocupado com Ty.

Já comemos a ceia que minha mãe preparou com amor, carinho e uma pitada de ódio, e estou cheia, mas sempre há espaço para a sobremesa. Chocotone com sorvete. Meus pais ouvem música alta demais no terraço e já beberam mais que o suficiente. Volto a assistir o Especial de Natal do Roberto Carlos enquanto reclamo no Twitter. Deprimente, eu sei.

Mando Feliz Natal para algumas pessoas no Whatsapp e respondo alguns também. Converso com Cat e Dave sobre como está indo a noite deles. 

Meia-noite e meia.

Thomas visualiza minha mensagem. Não responde.

Tem algo errado. Mas não pergunto nada, espero apenas. É Natal, poxa. 

Uma hora.

Nada.

Uma hora e um minuto a campainha da minha casa toca. Levanto num salto, assustada.

- Lilian, quem é essa hora? É o Dave? Ele avisou alguma coisa? Não abre se não for ele! - Minha mãe grita lá de cima, mas ignoro.

Corro até o portão porque sei quem vai estar lá. Fico feliz imediatamente pensado ser alguma surpresa.

Mas não. 

Meu coração cai quando o vejo. Me aproximo.

Thomas está à minha frente, sangrando, machucado. Ele manca, e vejo lágrimas se misturando ao sangue do seu nariz, saindo de um dos seus olhos. O outro está inchado demais para isso. Ele segura Tyler no colo, que soluça e tem um machucado no couro cabeludo, mas não aparenta estar tão ruim quanto ele. Uma mochila pende de um dos seus ombros.

Não dizemos nada por um momento. Ele cai de joelhos pelo peso que carrega.

-Me desculpa. -É tudo o que consegue dizer antes de desmaiar.

O caos começa novamente.


Uma vida vazia [COMPLETO]Where stories live. Discover now