1
Os fachos que atravessavam os furos da tenda de campanha formavam preguiçosas piscinas de luz no chão. Marco Aurélio estava deitado num colchão de palha, entre diversos cobertores, ataduras ensanguentadas e bacias de água. Quando Commodus se aproximou sua língua correu para umedecer os lábios rachados, os olhos abatidos e preocupados o procuraram na escuridão, parecendo atravessá-lo cada vez que o encontravam.
Gestos fragmentados acompanhavam a qualidade da voz que soava como galhos secos se partindo conduzindo-se sempre á um sussurro, como se lhe segredasse algo.
— Finda a guerra e conquista para si a vitória e os espólios. —
2
Commodus podia escutar as últimas palavras de seu pai conforme encarava os senadores no interior da Cúria Júlia. A voz surgia como um eco, repetindo-se obstinada entre uma respiração abafada e arrítmica:
— Hei de fazê-lo imperador, ou eles o matarão. Não confie em ninguém. —
Ele terminada a guerra com as tribos germânicas como desejara o moribundo, mas negociara um acordo de paz para poder retornar a Roma fazendo frente aos conselhos de seus generais e á vontade dos magistrados. Aqueles políticos haviam recompensado os soldados em nome do Senado, isolando-o como imperador.
Ali sentia-se cercado por harpias.
As fumaças dos incensos sumiam em colunas fantasmagóricas deixando um cheiro almiscarado impregnado no aposento. Sombras eram projetadas nas paredes pela iluminação das lucernas e davam vida a deuses e monstros nos mosaicos. Márcia afogava-se nua nos lençóis da cama, mas o imperador estava no lectus bebericando o vinho que Saotero acabara de lhe servir. Sentava-se reto, o semblante esculpido pela cólera e os olhos injetados inflamando seu tormento.
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Fate/Colosseo
FanfictionFate/Colosseo é uma fanfic escrita e ilustrada por Danilo Mattos. O projeto não possui fins lucrativos e o autor também não recebe nada para criá-lo. A história adapta o governo de Commodus que, após a morte de seu pai Marco Aurélio, torna-se impera...