Acinzentado

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"I know there's something in the wake of your smile. I get a notion from the look in your eyes, yeah. You've built a love but that love falls apart. Your little piece of heaven turns too dark." (m. Listen to your heart – Roxette)

 

Killian estava de pé, observando a movimentação da rua pela janela enquanto tomava seu tão adorado café preto. E, claro, tentando ver algum pedaço de céu no pano acinzentado acima de suas cabeças, mas não enxergava nada além de névoa suja, reflexos de luzes de shows e helicópteros.

A cada dia que passava, sentia-se mais preso a um amontoado de cimento, incapaz de mover-se de acordo com seu próprio ritmo. E, por mais que lhe doesse admitir, ele passara a odiar aquela cidade.

Pelas paredes finas de seu apartamento, podia ouvir seus vizinhos preparando o jantar, julgando pelo tintilar de algumas panelas e talheres. Ele tinha sorte de ter Ariel e Eric para dividir aquele andar, pois, aparentemente, eram os inquilinos mais pacíficos de todo o prédio. Constantemente ouvia as discussões e brigas dos companheiros do andar de baixo, jorrando ameaças por queixas não bem definidas e, em seguida, batendo portas como se fosse a solução de tais problemas... Ele detestaria viver com esse problema extra.

É, pensando por esse lado, Nova York não era tão desagradável assim... Pelo menos não em tempo integral.

Seu pai e Cora ligavam pelo menos uma vez por semana, Liam estava mergulhado em seus novos estudos de doutorado e Zelena aparecia por Nova York sempre que tinha oportunidade de vir da Europa, para onde se mudou por um emprego melhor no ramo da moda. Regina, por outro lado, continuava por perto.

Santa fita azul! Ele sabia!

A morena encontrou o amor em uma das festas de aniversário de Killian, unindo-se a seu melhor amigo de faculdade, Robin Locksley. Quando se conheceram, Mills estava no primeiro ano de curso, enquanto os dois homens já ultrapassavam a metade da graduação.

Por ter se formado antes, o arquiteto, e ex-companheiro de república de Jones, fizera seu nome no mercado de Nova Jersey, e não precisava ser muito inteligente para saber que, se o romance durasse até o final da universidade, Regina faria de tudo para tentar a vida no mesmo estado. E o namoro não somente esteve firme durante todos esses anos, como transformou-se em noivado assim que lhes fora possível.

É, Nova York até que tinha suas vantagens...

— O mesmo tom sem graça? – a voz feminina ecoou por trás dele, zombando de seu hábito.

Como sempre.

— Na verdade, hoje tem algumas nuvens com um azul estranho, além das meio acinzentadas, sabe? – respondeu fazendo uma careta e indo se sentar ao lado da esposa, abraçando-a de lado. – Me dá até arrepios.

— Killian, nem sempre o céu vai te dar sinais. Sua avó já morreu.

— Eu sei disso.

— Pode ser simplesmente uma chuva.

— É, pode ser...

Ele sabia que ia além disso, mas não iria discutir essa noite.

Aquele era um dos poucos momentos que ele e Milah tinham para descansar, graças a suada rotina que estabeleceram para Daniel. Em outras épocas, o barulho dos bares, carros e até músicas na rua os chamariam para mais uma noitada, mas tudo o que o casal desejava era deitar e dormir. Por horas ininterruptas se possível.

— Querido, eu estava pensando em uma coisa, mas não sei qual será sua reação. – a mulher disse algum tempo depois, aconchegando-se ainda mais ao lado do marido.

Outro tom de azulOnde as histórias ganham vida. Descobre agora