9. Sopro de dragão

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Lino voltou a olhar para mim confuso, até que a compreensão cruzou seu olhar. Ele limpou a garganta e falou:

— Ah... você diz o... que vai...

Fechei a cara e estalei o pescoço impaciente. Quando mais nervoso o mago ficava mais sua gagueira parecia piorar.

— Na-na-na ga-gaveta.

Meu olhar disparou para cômoda quase destruída ao meu lado, e antes que eu pudesse perceber já tinha o tecido nas mãos, o alivio me inundou. Eles sabendo ou não de quem eu era, sairia tão rápido dali que não iria fazer nenhuma diferença.

Escutei barulhos de passos, do lado de fora, e então a porta da cabana se abriu com um rangido. Kiram apareceu na soleira, agora com o rosto livre da sujeira da cela. Seu cabelo agora limpo tinha quase o mesmo cumprimento que o meu, levemente sobre os ombros, e mesmo sendo pretos, tinham um brilho azulado que antes não pude perceber. O rastreador era ainda mais alto que eu, e seus músculos bem desenvolvidos.

— Tivemos que tirar para poder tentar parar o sangramento de alguns de seus ferimentos. Não precisa usar mais isso se quiser. — ele falou apontando para o tecido em minhas mãos me fazendo corar.

— Quer dizer... não chegamos a ver nada, nós...

Eu limpei a garganta, recuperando minha postura. Nada daquilo importava de qualquer forma, mesmo se tivessem visto algo, não seria afetada assim tão facilmente. Eu tinha apenas que recolocar a faixa e ai tudo voltaria ao normal.

Andei em direção a Kiram, que esperou, com calma.

— Minha espada.

Ele piscou surpreso, antes de levar a mão em seu cinto para desamarrar a bainha de minha espada.

— Está indo embora? — O rastreador perguntou.

— Estou. — Falei tirando Estupidez de suas mãos.

Assim que abri a porta, um grunhido alto me arrepiou a espinha. Olhei para o bosque que nos cercava, nenhum animal que conhecia poderia fazer aquele som, sai da cabana cautelosa, quando novamente o som se repetiu.

— Dragões? — Perguntei a Kiram quando ele se postou ao meu lado.

— Isso não é o som de um rugido de dragões. — Ele respondeu, seguro. — parece uma hiena gigante.

Uma hiena gigante tão perto das montanhas? Foi quando eu o vi pela primeira vez. Um homem que poderia ter facilmente dois metros de altura, cambaleava para fora do bosque fechado. Quando ele chegou perto o suficiente, o que vi fez meus olhos se arregalarem e meu sangue congelar, com o medo que raramente sentia. O homem tinha uma aparência grotesca, sua pela era cinza avermelhada, e tinha buracos em putrefação por todo o seu corpo, um de seus olhos pendia para fora de suas orbitas, e o cheiro de carne podre era tão insuportável que meu estômago se revirou.

— O que é... — Comecei.

— Corra! — Kiram gritou, empurrando a mim e o mago para a trilha em direção às montanhas.

Não pensei duas vezes antes de correr, a urgência na voz de Kiram me alertou sobre a periculosidade do que quer que fosse aquilo que agora nos perseguia. Eu podia ouvir seus guinchos e gritos cada vez mais próximos, fiz meus pés correrem mais rápido, apenas para sentir alguns de meus ferimentos protestarem.

Meu coração batia rápido, o monstro estava cada vez mais perto, minha mão direita apertava forte o cabo de minha espada e o tecido que ainda carregava. Meu corpo doía, mas eu não ousava desacelerar.

O caminho começou a ficar mais íngreme. Eu podia escutar os pesados passos de Kiram e do mago que corria mais rápido do que o julguei ser capaz. Os sons se aproximaram e minha visão pegou um vulto correndo ao meu lado, escondido parcialmente pelas arvores da floresta. Era ele, era rápido demais.  Antes que o monstro pudesse pular em mim, parei de correr, e com o impulso, me joguei para o lado, desembainhando Estupidez. Me levantei rapidamente, e coloquei a espada em riste, esperando.

A Cavaleira de Dragões (Completo)Where stories live. Discover now