A vida adulta é como brincar de batata quente, quando cai em sua mão você não pode passar a responsabilidade para outro.
Florescer conta a historia de Ana Laura Oliveira, uma jovem que depois de ter voado da casa dos pais não percebe que ainda vive...
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Mel subiu as escadas rapidamente, avisando a plenos pulmões que havia visita para o almoço.
Com o avental um pouco sujo e os cabelos em um emaranhado que ela insistia em chamar de coque, Joice saiu da cozinha assustada.
— Quem é, Melissa?
— Prazer, Laura. — Laura porém não sabia onde colocar a cara. Tinha olheiras e o cabelo preso às pressas num rabo de cavalo frouxo. Ela ergueu uma sacola em direção a jovem senhora na sua frente. — Eu trouxe sorvete.
— Ah, obrigada. — Joice também estava um pouco assustada. Porém, já sabia que conheceria a famosa Laura qualquer dia. — Venha para cozinha, estou lavando os pratos do almoço.
— Já? — Laura achou que incomodaria, porém a seguiu.
A cozinha tinha uma grande mesa de madeira. Tentando mentalmente compará-la à sua casa em tamanho, Laura riu.
— Me perdoe pela bagunça, as outras meninas já saíram. Preciso preparar o almoço mais rápido, por elas. Fico feliz de ter finalmente te conhecido. Afinal, fiquei me perguntando quem seria essa moça que acompanha uma das minhas filhas? Será que ela não é uma traficante de crianças? Ou será que ela não sai por aí dirigindo um carro preto suspeito?
Do outro lado da cozinha, Laura se perguntava se aquelas indagações carregavam algum fundo de verdade, ou se era apenas um meio de parecer simpática.
— Eu estou mais para a moça raptada por uma menina hiperativa, então nessa relação eu sou a vítima.
Ambas riram.
— Venha para a sala comigo enquanto a comida está esquentando. — Joice falou tirando o avental.
Laura seguiu logo atrás. Sentou-se no sofá, tentando parecer uma garota de bons modos.
— Me diga, como vocês se conheceram? — Joice perguntou de forma inocente.
— Bom, na verdade eu estava na praça do Areal. Ia para lá quando dava meu horário de almoço. A Mel sempre passeava com flores....
— E comecei a puxar assunto! — Mel falou do alto da escada, de banho tomado e cheia de fome. Feliz por ter chegado a tempo de salvar sua própria pele. — Ela ficava mais arrumada do que hoje. Mesmo com a farda do trabalho —. Falou enquanto observava a camisa amarrotada que a Laura vestia por baixo de um macaquito surrado —. Todo almoço da Laura ela ia para a praça do Areal. E lá é tão bom para escrever e desenhar. É tão bonita, não é?
Ambas concordaram, Laura aliviada por não ter falado nada que não devia, e Joice apenas sendo Joice, a senhora inocente que supostamente não sabia das flores que a Mel vendia.
Durante o almoço era possível ver a bolha explodindo. Àquela em que a Laura tinha passado a última semana.
— Foi difícil. Mas agora tenho que sacudir a poeira e procurar outro trabalho. Eu sou nova, não é verdade? Vamos ter fé.
