Trio da vida

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Princípio

Não entendo de fonema

De morfemas

De palavras

De poemas

Mas entendo de ti

Entendo de nós

Entendo do teu corpo sobre o meu

Do mágico entrelaçamento que se deu

Entendo da minha mão preguiçosa a percorrer

Todo seu corpo sem medo de se perder

Entendo do teu beijo afobado, de teu pelo arrepiado

Entendo eu em ti e tu em mim

Sem começo, meio, fim

Nossa poesia é esse silêncio ruidoso

Da batida de nossos corações

Da aspereza de nossas respirações

Do teu olhar no meu olhar

De se entregar sem pensar

E os fonemas e morfemas

São esquecidos sem problema

E dessa falta de palavras

É feito nosso poema


Término

E desmoronou, e tudo ruiu

Os acertos foram esquecidos

Os erros jogados na face, sem dó

E o sentimento amargo que ficou, manchou e integrou-se a mim

E esse necessário já não é bem-vindo

E o mal se faz presente

Vai abrindo com as sujas unhas retorcidas

A ferida no coração

Ele entra com força

e se instala

Pega um pedaço pequeno no começo

E aos poucos se espalha

E aquele coração puro

Infantil e cheio de amor

Agora é essa carcaça

Pútrida, disforme e cheia de dor


Ciclo

Amor me preenche

Sinto vida novamente

Respiro sem preocupação

Gargalho na escuridão

Pelo menos agora

Tudo está bem

Deito na cama

Lembrando de alguém 

Dicotomia RomânticaWhere stories live. Discover now