Carnal

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Os dedos de uma mão se embrenham em meu cabelo, se perdem na imensidão.
O hálito quente na ponta do meu ouvido, na minha nuca.
Seu peito firmando-se em minhas costas, as pernas entrelaçadas, ligadas, tudo em comunhão.
O outro braço me agarra na cintura, forte, feroz.
A valsa é dançada em uníssono, em harmonia, em união.
Minha mão tocando sua coxa, sentindo seus pelos eriçados.
Tudo em compasso, as melodias entremeadas enchendo todo o salão.
A valsa vira um tango, requer mais habilidades, fica mais complexa, mais dramática, mais tenaz.
Nos aproximamos cada vez mais, se é que isto é capaz.
Eu aperto a minha mão, finco as unhas, ele aperta o abraço, beija o pescoço.
É rítmico, sonoro, voraz.
Mãos que tateiam, pés que se tocam, pernas nos passos que vem e vão.
O clímax chega, o final da coreografia em uma pausa monumental, respirações ofegantes, suor escorrendo e secando, a mão e o abraço cedendo devagar.
Palavras e sentimentos que podem ser ditos sem medo, sem culpa, sem dor, sem constrangimento, sem pudor.
Único e eufórico momento em que um mais um não são dois.
Jubiloso e eterno ápice em que um mais um é simplesmente um.

Dicotomia RomânticaWhere stories live. Discover now