Capítulo 2

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Me sento na cama, sentindo o cansaço da noite anterior se esvaindo com a noite de sono. Depois de finalmente tomar coragem para sair do piano, desci até a sala de jantar onde meu pai, avô e irmão me esperavam com olhares de indiferença forçada.

   Sentei-me e esperei por uns minutos e minha mãe, não apareceu. Quebrando o silêncio pesado meu pai, pigarreou dizendo de forma natural.

   _ Sara, não vai descer. _ Seu olhar escondia o pesar. _ Disse que está se sentindo indisposta.

   Com isso, Cole sussurrou um: Você contou. Antes de enfiar mais uma colher com delicioso, macarrão com molho branco e parmesão, em sua boca.

   Esperei até o final do jantar, para contar a notícia. Meu pai me abraçou me erguendo do chão, provavelmente entendendo o “mal estar”  da minha mãe. Meu avô estava, tão feliz que deixou a mesa para ligar para Amélia- Minha avó.

    Tudo correu bem como o esperado, todos aprovando minha decisão e achando minha nova promoção, um grande avanço na minha carreira. Menos minha mãe.

    Subi para o quarto, com uma enorme vontade de correr pelo prado, até chegar à praia. Nadar e tocar sempre me tranquiliza e ajuda a pensar. Com o esforço da minha mãe na sala de música, creio que a primeira opção era a mais quista. Acabei dormindo cedo.

    Tive um sonho, que desde meu “acidente”,  (Como chamávamos a tentativa de sequestro.) Parece vir de tempos em tempos, de forma esporádica. Não me lembro de tudo, mas parece mais uma das lembranças.

     Movo meus dedos, sentindo uma dormência tentando me fazer voltar a dormir. Mantenho os olhos, abertos por pura força de vontade.. Sei que se me permitir fechá-los, não vou conseguir acordar facilmente. Apenas isso me faz lutar contra o torpor.

    _ Oi.

    Me viro em direção a voz, ela penetra meus sentidos me dando uma imensa vontade de ... chorar. Parece pesada, espessa, irreal.

    _ Eu achei que não fosse, acordar tão cedo. Eles colocaram uma quantidade, considerável de anestesia e analgésicos, para mantê-la dormindo por mais três dias. _ Sinto uma melancolia na voz. _ Mas fico feliz, de poder finalmente saber a cor dos seus olhos. São extraordinários.

     Tento falar. Pedir para sair do canto. Para chegar perto. Mas sinto algo grande na garganta. Um som mínimo me escapa.

     _ Não tente falar. Está entubada, desde que saiu do coma. Ficaram com medo de mais uma parada respiratória. _ Explicou.

     Sente que trincava os dentes. Parecia mais perto, logo ao lado da cama. Se a cortina estivesse um pouco mais aberta, a luz da lua me permitiria ver seu rosto. Apertei os olhos, apenas aquele mínimo esforço pareceu, me tirar todo o controle.

     Senti como se estivesse, flutuando em água morna. Meus olhos pesados, uma vontade tão grande de deixá-los se fechar  ….

     _ O efeito está voltando, não é? _ Sente um aperto na minha mão. _ Apenas durma, recupere suas forças. Você precisa ficar bem. Tem que ficar bem. Ele trouxe você, para mim.

     Meus olhos se fecharam, mas vi de relance olhos claros. Ambarinos, cheios de dor. Tentei segurar sua mão, implorar que não saísse dali. Queria entender suas palavras. Mas … nada aconteceu.

     Antes da inconsciência me tomar, senti um bater de asas na minha testa. Tão leve, que me perguntei se eram apenas efeitos dos remédios. Mas no fundo, soube que foi o mais doce dos beijos.

      Sempre que tinha esse sonho. Sentia falta de alguma coisa. Um aperto no peito, de saudade. Uma imensa vontade de ter algo, que não conheço. Perguntei a minha mãe, avó, pai e até Cole, que na época estava em choque, se alguém ficou comigo a noite.

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