— Você está bonita pra caralho — ele diz instantaneamente balançando a cabeça. — Com muito respeito.

Eu não estou exageradamente bonita, não assim.

O vestido vinho escuro que se estende até os joelhos e é grudado ao corpo, fora a opção mais digna (para a ocasião) que consegui tirar do meu armário. Mas, nada de saltos. Sou péssima quando os uso – então, calcei um par de sapatos brancos sem queixas. 

— Obrigada — desvio meu olhar provavelmente corada.

— Finalmente uma palavra educada vinda dessa boquinha perspicaz. 

— Retire o agradecimento então, idiota.

— Sem grosserias, princesa — ele morde os lábios e olha para os lados. — O que acha de darmos uma volta?

— Como?

— Andarmos por aí, juntos.

— Eu e você? — franzo o cenho o encarando incrédula e ele assente, despreocupado. — De jeito nenhum.

Esse par de oceanos escuros me enfrenta por minutos, minutos estes que parecem serem os mais longos e impertinentes da minha vida.

Argh.

Reviro os olhos.

— Tá legal.

Brandon contorna um sorriso estonteante, sincero. Ele se curva para trás e eu me coloco ao seu lado, engolindo em seco.

Uma corrente elétrica percorre todo meu corpo.

A culpa logo preenche meus pensamentos. Estar aqui, próxima a ele, dá-me a sensação de estar loucamente perturbada por uma onda de emoções. A razão disputa ferozmente cada minúscula parte de mim, entretanto, eu sei que a pulsação acelerada impede que eu raciocine bem – da mesma forma em como sempre o fiz. Sei que estou marchando até o precipício, mas uma voz martela cada vez que penso em arrependimento.

Então, e daí?

— Você realmente quer morrer logo — digo observando a fumaça do cigarro de Campbell se estampar no ar enquanto andamos ao redor da casa.

— Não tenho nada a perder — embora eu pense que haja sarcasmo em sua resposta, ainda sim ele mantém um semblante sério.

Algumas pessoas falam com ele, – vulgo a maioria das garotas – que me olham como se eu fosse um animal extinto. Fico quieta, é claro. Mas também não quero que pensem que sou a alternativa da noite dele, isso soaria muito mal.

Analiso os outros cantos para ver se encontro Hope, mas nem sinal dela.

Traidora.

— Continuo perfeitamente bem — ele dispara do nada, o encaro sem entender, ele aponta para o cigarro entre seus dedos. — Dizem que ele prejudica a beleza, não é?

Faço uma careta.

— Não será para sempre assim.

— Quando isso acontecer, acha que alguém vai me querer?

— Responda você mesmo, garanhão.

— Acha que sou um?

— É o que dizem.

— Você acredita?

Ele joga o cigarro no chão, o pisoteando em seguida. Seu olhar vai de contra ao meu, então novamente fico emaranhada.

Honestamente, não sei.

— Sim — respondo de supetão.

— Por quê?

— Quantas perguntas — cruzo os braços. Ele parece estar tentando  arrancar respostas nas quais eu mesma tenho dúvidas.

— Você é a primeira garota que me despacha assim — ele se aproxima e então sinto o aroma do perfume amadeirado que invade minhas narinas. — Tem de haver alguma explicação.

Um silêncio ensurdecedor é a minha resposta.

— Qual é a sua?

— Têm coisas que não se explicam, Brandon.

Recuo.

Mas a expressão traquina permanece em seu rostinho incrivelmente infernal.

Deus.

— Faremos um acordo, então — ele apoia uma das mãos na cintura e a outra ele passa pelos fios escuros do cabelo.

— Acordo?

— Sim — molho os lábios. — Provarei que não sou o que pensa, e se mesmo assim você quiser me afastar, arrumará um pretexto para fazer isso.

— E como faremos isso?

Ele sorri de canto.

— Vamos a um encontro, princesa.

Contra as leis do amorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora