Capítulo Único

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Taehyung respirou fundo antes de se levantar da cama. Estava disposto a fazer de tudo para dormir, afinal já era tarde da noite e teria que acordar cedo no dia seguinte. Mas, talvez, enfrentar o pior dos seus inimigos não seja tão ruim assim, não quando isso vale seu sono.

Caminhou sobre o chão frio, praticamente se arrastando até a cama do garoto com o qual dividia o quarto, xingando-o mentalmente durante todo o trajeto.

— Caralho, Jeon. — Empurrou o ombro do menino que estava todo encolhido em seu edredom, resmungando baixo e tremendo de frio. — Vai continuar atrapalhando meu sono? Porque se for assim eu te taco para fora desse quarto agora mesmo.

— Vai se foder, garoto. — Empurrou a mão de Taehyung para longe, se afundando ainda mais nos seus cobertores. Não estava com disposição para brigas. — Não tá vendo que eu tô doente? Vai ser chato outro dia, por favor.

— Ah, é? — O Kim cruzou os braços, um pouco desconfiado, um pouco... preocupado. — E você tá com o quê?

— Febre, sei lá. — Se virou para a parede e resmungou baixo, a última coisa que queria no momento era manter uma conversa com aquele menino.

— E você tá precisando de algo?

O Jeon franziu o cenho, Taehyung não era de se importar consigo, por isso sua mente logo o alertou que algo ali parecia errado. Mas Jeongguk não reclamou, pelo contrário, várias ideias brotaram em sua mente. Poderia muito bem se aproveitar da situação.

Até porque, se fosse de Taehyung, ele precisava, sim, de várias coisas.

— Que tal vir me esquentar um pouco? — Virou-se novamente, encarando o Kim nos olhos, buscando absorver cada reação de seu corpo diante daquelas palavras. Torcendo para que ele notasse o brilho malicioso que despontava em seu olhar.

Jeongguk não era muito de admitir, na verdade sua principal característica era exatamente a omissão dos assuntos, principalmente os mais delicados como aquele. No entanto, era claro para todos que ele tinha uma queda considerável pelo seu colega de quarto. Ainda que não quisesse admitir para si mesmo. Só que, para a infelicidade do garoto, Taehyung era muito lento para perceber algo. Eles se desentendiam em muitos assuntos e brigavam demais, isso era óbvio, mas apesar de todas as desavenças, existia um sentimento ali. Era como dizia no ditado: ruim com, pior sem.

— Você quer que eu pegue mais um cobertor? — Taehyung indagou, apontando na direção do guarda roupa na outra extremidade do quarto. Sua falsa inocência quase fez o mais novo revirar os olhos.

— Não, Tae. — Talvez estivesse delirando, porque não ligava nem um pouco para a provocação explícita em sua voz, só queria acordar seu inimigo de vez para a realidade, e, quem sabe, beijar um pouco. Eles não iam morrer por isso. — Acho que preciso de algo mais quente.

— Mais quente? Você quer que eu te jogue dentro de um forno ou algo do tipo, Jeon?

Gguk bufou verdadeiramente furioso, lembrando-se de repente o porquê de odiá-lo tanto. Taehyung era um garoto incrível, não conseguia parar de falar merda nem por dois segundos inteiros. Jeongguk tinha que dar tudo de si para prosseguir na conquista do seu garoto e não se deixar morrer na praia. Era tão difícil...

— Algo mais quente tipo... calor humano. — Falou finalmente, como se fosse óbvio e estivesse estampado em sua testa havia tempos. Sua pele na minha, sacou? Quase deixou escapar.

— Calor... humano? — As sobrancelhas se franziram.

— Você entendeu, não se faça de sonso. — Desistiu. Definitivamente não deveria ter embarcado naquela ideia sem cabimento. — Ok, se for para você ficar me encarando dessa forma é só dar meia volta e vazar daqui.

Taehyung ficou em silêncio por um longo minuto, mas em seguida mordeu os lábios com uma pressão considerável e os soltou ao dizer:

— Sabe o que minha mãe falava para mim quando eu era pequeno?

Jeongguk o encarou como se estivesse se perguntando de que planeta aquele garoto tinha vindo. Que tipo de assunto aleatório era aquele?

— Óbvio que eu não sei, Taehyung. E o que isso tem a ver? Pelos deuses...

O mais velho revirou os olhos.

— Para de ser estraga prazeres e me deixa terminar.

Taehyung não esperou respostas para se aproximar, inclinando seu tronco sobre o corpo encolhido do menino doente e deixando sua boca próxima o suficiente de seu ouvido. O Jeon engoliu em seco. Nem um pouco preparado para aquilo.

— Ela me dizia que um beijinho era capaz de curar qualquer coisa. — Ele se sentiu arrepiar pela voz rouca de Taehyung. Estava tão próximo... os lábios dele roçando-se ao seu lóbulo. — Você quer testar a funcionalidade?

Jeongguk sentiu cada pelo de seu corpo se eriçar, os membros entrando em estado de inércia, a respiração tornando-se rala. Uma fisgada no baixo ventre o fez prender um suspiro. Aquilo não podia ser real.

— Repete isso. — Pediu, ainda atordoado.

— Quer que eu repita com minha boca tão longe da sua?

Taehyung estava realmente atrevido, como se a chama contida dentro de si finalmente tivesse se revelado. E Jeongguk não reclamaria, pelo contrário, até se ajeitou melhor na cama, sorrindo de forma descarada para o mais velho. Estava tão perto de sair da seca que era quase irreal.

Até se dar conta de que tudo era realmente mera ilusão.

— Ei. — O Kim se afastou bruscamente, não segurando a gargalhada diante da expressão do outro. — Eu tô brincando, seu idiota. — Se equilibrou sobre o colchão, ainda achando graça pelo desapontamento de Jeongguk. Sua careta era uma imagem que guardaria eternamente na cabeça. — Mas se você quer calor humano, então eu posso te dar.

Sem aviso prévio ele pegou as cobertas que embalavam Jeongguk, erguendo-as para que pudesse se encaixar dentro daquela cúpula quentinha. O Jeon não esboçou reação alguma enquanto observava Taehyung deitar-se ao seu lado, tão perto que seus braços e pernas se roçavam no emaranhado de tecidos. O mais velho sorriu travesso, virando-se de lado e apoiando o rosto contra o braço, para encarar melhor o rosto do outro, que ainda tentava compreender a ousadia. Com o braço livre, o Kim circundou a cintura do moreno.

— Melhor assim?

Jeongguk estava hipnotizado com aqueles olhos tão pertinho dos dele, se erguesse a mão poderia lhe tocar o rosto e se ousasse mover seu corpo alguns centímetros para frente, seus lábios se encontrariam. Isso era muito para sua sanidade frágil.

— Assim é muito melhor. — Respondeu num só fôlego.

— Será que podemos testar aquela história do beijo agora? — Ele murmurou a frase, descendo os olhos para a boca entreaberta do Jeon e fazendo questão de encará-la fixamente. — Porque eu acho que não serei capaz de me segurar por muito tempo.

— Acredito que já passou da hora de testarmos isso. — Jeongguk também não fez questão esconder seu desejo, encarando os lábios do outro descaradamente.

E não foi preciso mais nenhuma palavra para que ambos colassem os lábios, num desespero e numa urgência tão imensos que colocava em prova até mesmo aquele ódio que diziam sentir um pelo outro. As mãos se ergueram atrevidas, explorando o corpo alheio, adentrando as camisetas e tocando pele com pele. Os lábios se misturavam numa sincronia desconexa e as línguas ávidas transformavam o ósculo numa eclosão de sabores e sensações, despertando as chamas interiores dos dois. Um se agarrando ao que podia do corpo alheio, com extrema necessidade.

E talvez o ódio fosse só uma desculpa, para aqueles que simplesmente não sabiam como amar...

Dodói || Kth + JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora