Com o tempo, Johnny decidiu que contar histórias de terror seria o melhor jeito de nos deixar acordado. Também completou que acampamento seria o lugar perfeito para isso, o que convenceu todos. Todos exceto Yukhei.

         — Verídico. Eu sempre senti algo estranho em casa, já que fico sozinho. — Decidi completar, olhando profundamente nos olhos de todos.

         — Cala boca, Yuta. — Yukhei virou o rosto.

        — É verdade. — Jaehyun também entrou no meio. A nossa rodinha acabava de tornar estática, todos atentos no que ele iria dizer. — Uma vez fomos jogar na casa do Yuta. Todos estavam na sala, mas mesmo assim um prato quebrou na cozinha. Do nada.

        — Vocês estão mentindo. — Naeul, uma loirinha, contestou. — Isso não é verdade, é, gente?

        — Conhecemos esses garotos, é óbvio que é mentira. — Yonwha riu.

        — Credo, Yonwha, você é muito cética. — Johnny bufou, apontando a luz de seu celular para Chie de repente. Segundo isso, a lanterna deixava tudo mais horripilante. — E você, Chie, acredita na gente?

       O americano piscava com um dos olhos descaradamente, pedindo para que ela mentisse. Tampei a boca para conter o riso, mas encarei Chie.

        — Johnny... Eu posso apostar que o Yuta nem prato tem mais em casa, ele só come porcaria...

        — Ei. — Gargalhei junto com os meninos, pois era a mais crua verdade.

       Sempre houve poucos pratos em casa por ser apenas eu e minha mãe, e quando ela passou a ficar no hospital e eu cuidar da casa, os números de pratos foram apenas diminuindo. A culpa não era minha... A louça que sempre escorregou da minha mão.

       — Okay, okay, mas ainda assim não se esqueçam da lenda do lenhador daqui. — Jaehyun disse, deixando em aberto enquanto se levantava.

      — Espera, essa é nova até para mim. — Johnny cutucou seu calcanhar.

       — É melhor vocês não saberem...

       Um coral de "Jaehyun!" surgiu, enquanto o mesmo ria. Contou uma história clichê de terror com moradores locais como personagens, baseando completamente na história do Jason, e talvez seu jeito de contar tenha deixado tudo mais pesado. Por fim, as garotas — e Johnny e Yukhei — realmente ficaram assustadas.

       Percebi que Chie e as garotas estavam se dando bem com o passar do tempo. Fiquei feliz por isso, sabia que eram boas meninas e seria bom que ela começasse a se abrir com outras pessoas.

         Assunto vai e assunto vem, até que uma epidemia de bocejos nos atacou, cada vez nos deixando mais sonolentos.

        — Que horas são, afinal?

        — Quase 4:30. Acho que deveríamos voltar, rapazes. — A mais quietinha delas, Hyeon, respondeu. Ela estava certa, provavelmente nos acordaram cedo para ajudar no acampamento.

         — Vocês que mandam. — Jaehyun foi o primeiro a se levantar novamente, se esticando como os demais. — Boa noite, pessoal.

         Chie levantou junto às meninas, o que me fez entender que ela iria junto com as mesmas. Sorri para ela, que retribuiu um pouco sem graça. A elogiaria depois por ter saído tão bem socialmente.

        Mas ainda assim sentia que ela estava com o olhar estranho. Não havíamos terminado de conversar, e o que iria dizer parecia ser importante para ela. Amaldiçoei mentalmente os roncos de todos ali em baixo, cerrando o punho. A imagem de minha mãe dizendo que ir dormir com a consciência pesada iria trazer malefícios veio à tona, já que naquele momento eu passei a pensar em tudo que já fiz de errado e poderia magoar novamente Chie.

         — Boa noite, garotos, vamos descer primeiro para não parecer tão estranho. — Yonwha acenou e despertou-me de meus pensamentos, me olhando um pouco depois de despedir de todos. Parecia também estar incomodada com algo.

       Desceram as escadas, mas alguns segundos depois Yonwha voltou.

       — E obrigada, Yuta, pelas caixas e toda ajuda! — Ela respirou fundo, acenando novamente. — Boa noite, Yuta!

       Pisquei algumas vezes, confuso.

        — Boa noite, Yonwha. Aquilo não foi nada e... — Respondi despreparado, sendo pego de surpresa. Mesmo assim, ela já havia descido rapidamente antes de eu sequer terminar de agradecer.

        E aquele boa noite em individual gerou um pequeno clima estranho, gerando olhares maliciosos dos garotos para mim. Foi a conta de não ouvir as vozes das garotas para que eles pudessem começar as ondas de gracinha.

        — "Boa noite, Yuta!"

         — Babacas. — Ri, ameaçando dar um soco em todos.

        Mas que realmente havia sido estranho, havia.

       Descemos um pouco depois, sem mais problemas, já que o barulho ali encobria nossos passos e movimentos. Antes de deitar, vi que Chie estava novamente em sua turma e que as outras garotas estavam mais próximas da minha. Bom, ser de salas diferentes não impedia de serem amigas.

       Já no meu lugar, estava a jaqueta que havia emprestado para Chie. Peguei-a, sem nem mesmo pensar, e atravessei a separação das turmas para colocar sobre a menor, encolhida. Ela grunhiu baixinho, abrindo minimamente os olhos.

       — Boa noite, Chie. — E por algum motivo, a minha entonação de voz soou do mesmo jeito que a de Yonwha.


      

mangirly ➳ nakamoto yutaOnde histórias criam vida. Descubra agora