III

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— Acorda, japonês. — abri minimamente meus olhos, o suficiente para enxergar um Taeyong embaçado.

Levantei a cabeça e ainda estava na aula de inglês. Inferno de aula, durava uma eternidade. Abri um sorriso para meu amigo de olhos grandes, coçando meu rosto com as costas da mão.

Percebendo que não conseguiria ficar acordado ali, pedi para ir ao banheiro. Talvez dormiria lá também, nunca duvidaria de meu sono.

Após jogar uma água na cara, sai do banheiro e caminhei até o bebedor, que estava ocupado. De longe, parecia mesmo um garoto, mas ao me aproximar mais e notar o cabelo preso, junto aos grandes cílios, ficou claro que era ela. Chie levantou seu olhar enquanto bebia mais um gole, se assustando com minha presença e dando um passo para trás.

Ela fez aquela expressão de quem me esfaquearia se houvesse oportunidade e deu as costas para mim. Dei de ombros, indiferente, bebendo um gole de água.

Quando voltei a olhar em sua direção, notei o quão lenta caminhava. Estava fazendo o máximo para não mostrar que mancava, aquela garota não desistia fácil. Soltei uma risada nasalada, olhando para trás antes correr até ficar ao lado de Chie. Precisava começar a agir com simpatia ou em algumas semanas teria que vestir a força um vestido naquela menina.

— O que você quer? — ela perguntou, ríspida.

— Quero ver seu joelho. — apontei para a perna da mesma. Tudo seria mais fácil se ela simplesmente vestisse uma saia.

— Não te intere-

— Os dois bonitinhos estão fazendo o que fora da sala? —a voz da monitora soou pelo corredor, em seguida som de salto começou atrás de nós dois.

No mesmo instante, estiquei meu braço para apertar o joelho de Chie. Admiro minha inteligência de malandro. A mesma gemeu de dor, praticamente se ajoelhando por isso. Virei-me para a monitora, uma expressão preocupada.

— Seu joelho está todo machucado, senhora. — Chie levantou sua calça no mesmo instante, mostrando. Ela é esperta.

— Está doendo. — surpreendente, Chie engrossou sua voz, parecendo ainda mais um garoto. A olhei confusa, por que estava fazendo aquilo?

— Leve-o a enfermaria, Nakamoto. — a senhora mesmo pareceu preocupada, apenas assenti com a cabeça.

Iria pega-la no colo novamente, mas a monitora achava que Chie fosse garoto, isso seria estranho para ela. Levantei Chie, lhe dando apoio até que saísse da visão da senhora. Soltei-a, porém ela continuou se apoiando na parede, com uma expressão dolorida.

Respirei fundo, não acreditando que iria mesmo fazer aquilo, e a peguei no colo. Chie pareceu até mesmo aliviada, aquilo deveria estar doendo mesmo, por isso apenas a soltei na maca da enfermaria.

Lá estava totalmente vazio, o que era raro. Estava um clima estranho entre nós, como se ela quisesse tanto agradecer mas ao menos tempo não que a aurea do lugar ficou tensa. Coloquei a mão na barra de sua calça e a olhei, pedindo permissão. A mesma revirou os olhos, levei aquilo com um sim e puxei sua calça até a altura do joelho.

— Caralho. — disse involuntariamente, surpreso.

Estava super inchado. Sua pele clara deixava ainda mais drástico, me fazendo perguntar se algum dia na vida aquela menina já tomou sol nas pernas. Olhei ao redor, procurando alguma gaze ou esparadrapo apenas para dar uma melhorada.

— Ei, você não vai por qualquer coisa em mim. — ela disse, me fazendo trincar os dentes.

— Esse não é importado de Paris, mas... — forcei-me ao máximo para usar um tom engraçado e não despejar tudo naquela folgada. O remédio dizia ser para aliviar a dor, então passei um pouco em seu joelho. Ela grunhiu de dor, me fazendo que a olhasse. — Não é possível que esteja doendo tanto.

— Não? — algo em seu tom de voz me cativava a sentir medo.

— Não.

Foi apenas eu virar lado para devolver o remédio as prateleiras que senti seus pés em minha costas, fazendo com que eu caísse. Se não usasse meus reflexos, cairia com o joelho e machucaria tão feio quanto ela. Aquilo me irritou.

Um sorriso besta estava em seus lábios quando me levantei, puxando-a da maca e a empurrando até a parede. Sua expressão mudou rapidamente, mas também não se abalou tanto.

— Qual o seu problema? — apertei seus pulsos. Naquele momento, estava vendo realmente um menino em Chie, e isso ajudou para que eu fosse nada gentil.

— Qual o seu problema, garoto! Por que está no meu pé? Me deixe em paz! — seus olhos fitavam os meus com tamanha intensidade que quase desviei, mas mantive.

Qual seria a melhor resposta para aquilo? Não podia afasta-la, meu trato com sr. Kim seria um fracasso. Precisava de uma resposta inteligente e que a calasse, pelo menos por enquanto.

"Ah, seu pai não quer a filha apareça como um homem na reunião de sua vida e eu to ajudando."

Não daria muito certo, levaria um belo chute no ponto fraco.

— Responde! — o modo como ela gritou, bagunçando alguns fios no rosto, fez com que vidrasse nela como se fosse encontrar a resposta ali.

Então achei.

A resposta não poderia afeta-la negativamente.

Mas em mim, poderia?

Eu gosto de você, Chie.

mangirly ➳ nakamoto yutaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora