Quando meu irmão foi embora, as coisas pareceram mudar da água para o vinho em minha casa. Minha mãe deixou bem claro que havia algo estranho com o Benjamin, embora, lá no fundo, não quisesse admitir que seu filho predileto estava usando drogas na faculdade e andando com certos amiguinhos. Era claro em seus olhos que, por mais que estivesse usando drogas, continuava sendo seu filhinho querido. Mamãe era do tipo que escondia qualquer coisa de todos, até mesmo as menores, com um único objetivo e propósito: mostrar a sociedade que fazíamos parte da mais nobre de todas as famílias. Talvez, se ela deixasse de ser tão mesquinha, hipócrita e paranóica, conseguiríamos nos dar bem e viver melhor, ao invés de perder grande parte do tempo questionando tudo a sua volta.
Benjamin é um bom rapaz, e Paula concordava sempre com a minha mãe. Sem saber de nada ainda sobre o nosso término, minha mãe chamou minha ex para jantar conosco. Mantive-me inquieto na mesa, porque, por mais que não tivéssemos mais nada, agora eu sentia medo do que ela seria capaz de falar a meu respeito. Gelei ao extremo quando minha mãe tocou no assunto da minha ida à Petrópolis. Ela estava convencida em saber com quem eu iria, o que poderia ir tudo por água abaixo, caso a Paula resolvesse lhe contar que minha companhia não seria a dela ou de nenhum outro conhecido, mas sim a Fernanda, uma garota lésbica. Mas para a minha surpresa, ela não disse nada e nem sequer injetou um pouco do seu costumeiro veneno para atiçar a curiosidade dos meus pais. Será que ela tinha alguma esperança de que voltaríamos a namorar novamente?
Se eu disser aos meus pais que irei sozinho, eles não permitirão, então terei que dizer que irei acompanhado, e para isso, a minha mãe teria que saber quem seria essa companhia. Claro que omitir o fato de que irei com a Fernanda não me ajudaria em nada futuramente, pois quando a minha mãe a vir pessoalmente e descobrir que ela tinha sido minha companhia, a repudiaria.
