Capítulo 16 (parte 2)

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Foi numa sexta-feira. Embora chovesse, quase todos da casa saíram. John, que tinha algumas resenhas para desenvolver, preferiu ficar em casa para acabar logo o que começara. A casa estava vazia e silenciosa. Os quatro ou cinco que não saíram aquela noite já estavam acomodados em seus aposentos. Os ponteiros do relógio marcavam uma e vinte da manhã.

O colega de quarto de John dormia. John, sem sono, não querendo incomodá-lo, apagou a luz do abajur que iluminava seus cadernos e saiu do quarto silenciosamente. Devagar, desceu as escadas acompanhado do barulho cadenciado da chuva. Foi até a cozinha e tomou um copo de água. Ligou, em seguida, a TV da sala e se deitou no sofá. Sintonizou o canal de filmes e teve a sorte de encontrar um que acabava de começar.

John abaixou o volume do televisor e apurou os ouvidos para melhor ouvir. Atento, logo ouviu o estalar do interruptor do corredor sendo aceso, clareando palidamente a passagem. Em seguida, a curtos e lentos passos, surge, diante de John, a figura de Andrew.

Um susto e logo um frio atravessou o tronco de John, que tentou conter seu espanto ao ver Andrew à sua frente. E ao perceber que era John quem estava ali, Andrew também se assustou.

— Ah! É você que está aí... — Andrew parou e pensou se ia ou se voltava. — Eu volto depois.

— Eu não sou o Cérberus da casa — disse John, sem tirar os olhos da TV.

Ao ouvir tais palavras, Andrew foi até a geladeira, abriu a porta, pegou uma garrafa de refrigerante e tomou um longo gole no gargalo. Guardou a garrafa novamente e, voltando à sala, disse:

— Mas é até bom que esteja aí. Queria mesmo conversar contigo. Dá pra ser?

— Conversar comigo? Que outros absurdos você ainda tem pra me dizer?

— Para com isso, John, eu tô falando sério. Senta aí, vai.

Sem muito questionar, mesmo indisposto a conversar, John, que estava deitado, se sentou para que Andrew também pudesse se sentar, ao seu lado. Ambos não se olharam, apenas observaram a TV, como dois estranhos numa sala de espera. Tomando a palavra, Andrew diz:

— Acho que te devo desculpas.

Andrew tinha a voz serena, quase murmurada, talvez até triste. John, em resposta, assente:

— Também acho.

— Eu te disse muita coisa absurda naquela hora da raiva, mas você sabe que tudo aquilo foi da boca pra fora.

Ainda com o coração rígido, John confirmou com a cabeça.

— Tudo bem, tá desculpado.

Silêncio.

— Só isso?

— E o que mais você quer?

— Quero você de volta, poxa!

— Andrew, você tem noção da gravidade das coisas que me falou na última vez em que conversamos?

— Tenho, por isso vim aqui, sem defesa nenhuma, totalmente desarmado te pedir desculpas. Eu não devia ter dito aquilo, reconheço, mas nós vamos ficar nisso até quando?

— Andrew, você não entende?

— Não!

— Nossa amizade acabou, as coisas mudaram, esqueceu?!

— Shh! Fala baixo! — censurou Andrew.

John suspirou. Fez-se mais silêncio. Recostado ao sofá, em voz baixa, Andrew prosseguiu após tomar um longo fôlego:

Entre o Amor e o Fogo (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora