Ser quem eu sou

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— Aonde estamos indo, Aominecchi?

— Falta pouco, Ryo-chan.

#flashback

Ryo-chan é um travesti que conheci há, mais ou menos, duas semanas enquanto fazia uma patrulha de madrugada. [...] Era uma noite de quarta-feira; normalmente não muito movimentada, decidi patrulhar de bicicleta, já que dirigir é sempre estressante. No beco XXA-B27 que, na verdade, é a saída dos fundos de uma boate —coincidentemente, um beco sem saída— ouvi gritos de alguém pedindo socorro. Provavelmente nunca vou esquecer aquele dia; a mulher caída no chão tinha os lábios cortados sangrando, enquanto o homem a agredia com chutes e cusparadas, além dos palavrões; assim que meus olhos cruzaram com aqueles amarelos, meu corpo moveu-se por instinto; entrei num combate corpo a corpo com o agressor que acabou desacordado xingando "viadinho arrombado". Chamei um amigo que estava próximo, pelo rádio, e o agressor foi para delegacia. A, até então, mulher loira que estava sendo agredida era Kise Ryouta ou Ryo-chan como era chamada, um travesti que trabalhava naquela boate. Nós fomos para dentro e uma de suas amigas (drag queen) a ajudou. Enquanto sondava o estabelecimento, conversei com o dono —gerente— e ele me contou que aquele agressor era um cliente fiel que sempre solicitava Ryo-chan, eles nunca fizeram sexo porque Ryo é nova na casa, então, quando soube que hoje a loirinha tinha feito o serviço completo com outro cliente ficou possesso e a levou para "conversar"; disse que mesmo querendo ajudar, não podia porque tinha passagem pela polícia e poderia se prejudicar; mas afirmou que se ficasse muito sério, daria cabo* daquele homem, Shougo-kun. Aquela noite não consegui mais ver a loira e fui embora, tinha de seguir com minha patrulha noturna, era meu trabalho afinal.

Na semana seguinte, também na quarta-feira; lá no beco XXA-B27, Ryo-chan me esperava.

— Senhor policial, eu queria te agradecer por aquela vez... o senhor me salvou. — Nisso tudo o que mais me surpreendia era a voz dele, dela, da Ryo-chan que, mesmo sendo homem, era idêntica à voz de mulher e sem parecer forçado.

— Oh sim, "O Senhor" salvou todos nós, até onde sei.

— Eh? —Corou— D-Desculpe.

— Meu nome é Daiki, Aomine Daiki.

— Kise Ryouta, mas todos me chamam de Ryo-chan.

— Qual você prefere?

— Ryo-chan.

— Prazer em conhece-la, Ryo-chan.

— Como agradecimento, me acompanharia para um café, Aominecchi?

Achei engraçado o "cchi" no final do sobrenome, mas a maneira como pronunciou foi semelhante a 'A-O-mine-cchi' meio cantarolado, meio que... de alguma forma, fez parecer especial. Para um homem de trinta e dois anos, definitivamente, acho que parecia nojento. Policial, formado em educação física, três anos no exército, até dois anos atrás era bombeiro; mesmo com todas essas características "heterossexuais", a primeira pessoa que me fez sentir assim foi um travesti.

­— Você está bem? ­—Não pude evitar, pois, depois daquele incidente com Shougo, Ryo-chan parecia machucada, não só fisicamente.

­— Hum? Ah! Sim. —Sorriu sem jeito— O que quer pedir, Aominecchi?

— Um café está bom.

— Ceeerto~ garçonete-chan, um café para o senhor policial e para mim, vejamos —pareceu divertir-se com o cardápio— uma fatia desse bolo com massa de pão de ló e recheio de limão com kiwi, uma xícara de cappuccino com chocolate amargo e duas tortinhas de morango. Hum.... Isso é tudo! —Sorriu.

Azul e AmareloWhere stories live. Discover now