Prologo

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"De repente, o mundo fica completamente maluco. Nada mais é como antes, ninguém é quem costumava ser".

Estou voltando da faculdade, pelo mesmo caminho que faço todos os dias, com os fones no meu ouvido no último volume. E a única coisa que me chama a atenção é a sombra.

Uma sombra sem forma e tão escura quanto a noite, apesar de ainda ser meio dia. Não ouço nada, mas percebo no semblante das pessoas que passam correndo por mim que algo não está certo.

Ao olhar para trás, me deparo com algo que jamais imaginei que pudesse existir. Parece um avião (guardada as devidas proporções), pousado no meio do campo de futebol do time local, que já não existe mais, obviamente. E é deslumbrante

O metal que compõe a espaçonave não reflete coisa alguma a sua volta, o que parecem ser as turbinas tem um formato octogonal curioso. Eu não consigo sair daqui. É como se algo estivesse me puxando na direção em que não devo ir.

Posso sentir meu celular no bolso vibrar insistentemente e as pessoas esbarram em mim, sou a única indo na direção oposta a todo o resto. Tudo parece estar em câmera lenta ao meu redor.

Mas tão rápido quanto começou, tudo termina. De repente, tudo para e fica escuro. Não tem mais pessoas, o celular já não vibra e a música alta já não toca.

Quando dou por mim, não estou mais no meu bairro, na minha cidade, sequer no meu país. Quando me dou conta, o espaço se abre diante dos meus olhos, sem que ao menos eu saiba o que está acontecendo.

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355 a.C

- Você precisa terminar. Rápido!

A afirmação em nada acalmava meus nervos. Ainda mais vindo de quem veio. Nosso tempo estava se esgotando, em poucas horas tudo o que conhecíamos e amávamos desapareceria para sempre. E mesmo sabendo que era inevitável e que era para o bem do meu povo, o pânico estava estampado em todos os olhares que se direcionavam para mim naquele momento.

Ele sabia que estava fazendo o meu melhor e escrevendo tudo o mais rápido que podia. Criar um mito, uma lenda, em tão curto espaço de tempo não é algo fácil. Deve ser plausível e durar para toda a eternidade. Quem ler isso em mil, dois mil anos tem que acreditar, ou pelo menos querer acreditar, que um dia realmente existimos. Mesmo que não exista mais nenhuma prova visível disso tudo.

Estava tudo pronto para nossa partida. Estávamos levando o máximo de coisas possíveis para que nada ficasse para trás, para que nossa essência não se perdesse.

Pouco sabíamos sobre o lugar para onde estávamos indo. A única certeza que tínhamos era de que seria um lugar relativamente melhor para nossa existência.

Toda nossa história e nossos avanços tecnológicos despertaram inveja e interesse naqueles que nunca deveriam ter colocado os pés no continente. E então, quando tudo ficou realmente insustentável, e visto que tínhamos os recursos para fugirmos, era hora de fazê-lo. Mas não sem antes deixar um pequeno resquício de nossa existência.

Eirini - A civilização perdidaWhere stories live. Discover now