BÔNUS ACOTAR: SOB A MONTANHA

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Amarantha nunca foi fácil, disso eu sabia. Sempre soube. Sempre soube que, para proteger meu povo e minha família teria que aturá-la o tempo que fosse necessário, mesmo que isso levasse a eternidade. 

A noite mais longa do ano, o Solstício, havia caído em Sob a Montanha e Amarantha estava num bom humor preocupante. Seu normal era mau humorado, pré disposta a cometer atrocidades ou mandar alguém sujar as mãos de sangue por ela por um grão de feijão, caso assim desejasse. Ela mandou a criadagem preparar um banquete para a corte toda. Música grave e alta tocava, o salão do trono em polvorosa dançava - as criaturas das profundezas de Prythian que eram suas aliadas - e eu apenas observava tudo ao lado de Amarantha. Seu sorriso perverso chegava às orelhas e ora ou outra, ela lançava olhares sugestivos para mim. Eu retribuía com um meio sorriso maldoso, fingia um êxtase pois sabia o que viria adiante. 

Momentos depois de a música acabar, o jantar começou. Como de praxe, a mesa comprida estava posta no meio do salão. Amarantha sentada na ponta principal, sentei do seu lado direito e no esquerdo, estava o Attor. Aquela criatura vil e nojenta que baforava seu hálito de cadáver semi-decomposto direto em cima dos convidados. Não que as... pessoas que estavam conosco não estivessem acostumadas. Assim que senti o cheiro de carniça, franzi o nariz e ajeitei a túnica preta tirando, numa tentativa falha, as sombras que me acompanhavam havia séculos. 

Olhei a bela mesa que estava estendida à minha frente, um banquete completo com pudins, bolos, peixes e carne de cordeiro. Comecei a me servir e a comer sem vontade nenhuma. Lembrei de minha família em Velaris, meu círculo íntimo, que estaria comemorando sem mim. Azriel e Cassian já devem ter se enfrentado em competitivas e geladas guerras de bolas de neve enquanto Mor e Amren apenas ririam da cara deles ou reviravam os olhos. Lembrei de minha mãe e minha irmã, que foram brutalmente degoladas e assassinadas, as duas pessoas mais cheias de vida que já conheci. As duas mulheres que mais amavam os Solstícios, que mais apreciavam os momentos em família, os momentos em que poderiam rir de qualquer discussão idiota que Cassian e eu teríamos. E mais ainda minha irmã de Azriel, que sempre tentava apartar a briga sem sucesso algum. E meu pai... bom, era meu pai.

Um toque de Amarantha na parte interna de minha coxa me tirou do transe. Levantei o olhar com a calma de um felino prestes a atacar, ela sorria para mim e continuava me alisando por baixo da mesa. E apertando. Toda a comida que havia ingerido até agora quase voltou. Seu toque me dava ânsia de vômito. Lembro-me claramente da Guerra, quando ela pessoalmente me torturou apenas por ser filho de um Grão Senhor. Por sua raiva de Jurian, raiva dos humanos e de quem estava ao lado deles naquela luta. Fiquei ereto na cadeira enquanto comia o que restava em meu prato. Durante o jantar, bebi mais vinho do que meu corpo aguentava e ainda sim não estava bêbado o suficiente para levar Amarantha mais tarde para a cama. 

O jantar correu sem ninguém ter o braço decepado ou as mentes arranhadas e derretidas. Particularmente isso seria deveras indigesto para um momento de refeição. O salão se esvaziou, os músicos foram embora e o Attor estava prostrado no chão de algum lugar daquela caverna botando os bofes pra fora. Restara apenas Amarantha e eu.

Ela me olhou enquanto ainda estava sentada em sua ponta da mesa, apoiando cotovelo na mesma e segurando o queixo com a mão. Passou o dedo na cobertura de chocolate do bolo que estava bem à sua frente e se levantou, inclinando o corpo para frente, deixando a curva dos seios exposta pelo decote comprido do vestido vermelho.

- Este é meu presente para você hoje, Rhysand. - ela miou como um gato, esfregando o dedo coberto pelo doce no meu lábio. A ânsia de vômito veio novamente. Precisava me concentrar.

Sorri para Amarantha. Precisava me lembrar de que ela era uma fêmea, e nada mais agrada um macho do que tomar uma fêmea para si. Ela era só mais uma. Só mais uma. Velaris. Valeria a pena. Coloquei seu dedo melado em minha boca novamente e me levantei, me aproximando dela e erguendo seu queixo para cima, puxando-a e fazendo-a se levantar. Empurrei as louças sujas que estavam em cima da mesa para o chão e pressionei meu corpo contra o de Amarantha, levantando suas pernas e sentando-a na mesa. Ela enlaçou suas pernas em minha cintura e me puxou para perto. Seu rosto estava próximo o suficiente do meu para que pudesse sentir sua respiração. Comecei a pensar nas mulheres mais lindas que já foram minhas amantes, nas melhores transas que já tive em minha longa existência. 

Ela me beijou ainda agarrada a minha cintura. Retribuí o beijo levantando seu vestido e passando a mão por sua coxa até chegar no meio de suas pernas. Amarantha estava molhada. Muito molhada. Ela ansiava por isso a noite inteira. A deitei na mesa e fiquei por cima dela, passando a mão por todo seu corpo enquanto rasgava as peças íntimas que estavam por baixo. 

Amarantha nos atravessou para seu quarto, onde rapidamente tirei seu vestido e a joguei na cama. Tirei a túnica e a blusa preta transparente de tule, jogando tudo no chão e novamente ficando por cima dela. Prendi suas mãos no mesmo nível da cabeça e beijei sua boca, descendo pelo pescoço e fazendo caminho até sua região íntima. A pele branca como a lua de Amarantha se destacava em meio aos lençóis pretos. 

- Fique com as mãos aí. Não se mexa nem um centímetro, ou... - ameacei, soltando-as devagar. Queria terminar logo com aquilo. Ir para meu quarto, vomitar as tripas quando chegasse e ir dormir para um novo dia nesse inferno.

- Ou o quê? - ela inclinou o corpo para cima, os cabelos ruivos escorrendo na pele branca. Suas mãos foram direto para minhas calças enquanto ela beijava meu peitoral- Hein, Rhysand? Vai arranhar minha mente? Me transformar numa casca de ovo? - ela tirou minhas vestes revelando a dureza que se guardava dentro delas. 

Lancei-lhe um sorriso cretino e a tomei. A fiz gritar meu nome. Implorasse que continuasse. A deixei regozijar de um prazer que não duraria muito tempo. Não se eu a conseguisse matar. Os dias de terror infindável de Amarantha estavam contados. Mesmo sabendo que Tamlin passara os últimos 20 anos entocado em sua mansão no campo fingindo que a maldição não existe, mesmo que ele não fizesse nada, eu o faria. 

Amarantha atingiu seu êxtase e estava ainda sem fôlego deitada na cama. 

- Espero que tenha atendido aos seus desejos. - mordi seu lábio e me levantei.

- Claro que sim, Rhysand - ela suspirou e deitou a cabeça para trás - Como sempre.

- Ótimo. Estou aqui para satisfazê-la. - respondi e pisquei, dando um sorriso de canto.

Saí do lado dela, vestindo minha roupa e limpando o suor da testa. Peguei a túnica, coloquei a camisa envolta da nuca e em cima dos ombros, e vesti a calça me retirando do quarto enquanto ela estava deitada me vendo partir com um sorriso de satisfação estampado no rosto. 

Conforme eu me afastava mais do quarto o enjoo ficava mais forte. Cheguei aos meus aposentos trancando a porta - mesmo sabendo que trancas são inúteis - e jogando as roupas para o lado, pegando o balde mais próximo e vomitando todo o jantar nele. Nem todos os banhos me livravam da sensação de sujeira que transar com Amarantha trazia. Seu cheiro se atrelava ao meu, seu suor se misturava ao meu. Seu toque parecia um maçarico, chegava a ser doloroso. Horas mais tarde eu ainda podia sentir aqueles dedos frios me tocando. Eu me encolhia a cada vez que isso acontecia. 

Peguei no sono e acordei ainda estava escuro, o coração acelerado, as asas para fora. Me levantei da cama e uma tontura me atingiu, fazendo-me cambalear novamente para a cama tateando tudo ao meu redor em busca de apoio. Lembrei-me do sonho com Amarantha me tocando novamente. Estalei o dedo e um balde apareceu entre minhas pernas. Vomitei.

Comecei a pensar em Velaris, mesmo que soubesse que talvez jamais voltaria para casa. Comecei a pensar na alegria de Mor, nas implicâncias de Cassian, em Azriel carregando Cassian bêbado para casa e logo depois ouvindo um sermão de Amren que provavelmente diria que ele é um babaca por ainda carregar Cassian como um saco de grãos, para cima e para baixo. A risada de minha prima ao ver essa cena se desenrolar. Pensei na brisa da Casa do Vento. Em quando eu era apenas uma criança e minha mãe me pegava pulando do telhado de madrugada para voar por Velaris a noite. As lágrimas caíram enquanto eu relembrava minha antiga vida. Olhei para a grande janela de meu quarto que dava para um céu limpo e estrelado. É o que ainda não me fez desmoronar nessa extensão da Corte dos Pesadelos. 

A Court of a Dark PrinceOnde histórias criam vida. Descubra agora