2° Seção

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Em sua mão se encontrava um copo de água. Havia ganhado o primeiro round, mas algo dentro de si dizia que alguma coisa estava por vir. Algo que evitava. Por mais que tentasse se lembrar, nada vinha-lhe, nem revelava-se; como se por proteção.

Com gesto amistoso, o espírito envolveu sua mão, lançando-lhe um sorriso.

"Acalme-se. Não há porque ficares nervoso".

Mas, o antes vivo via algo com o que ficar nervoso. Em sua antes oca mente agora se preenchiam memórias. Já haviam passados flashs de situações anteriores, como as vezes em que fazia zombações com sua professora, assim, como as vezes em que fazia rir a bela moça.

"Ei!'' , disse, tirando o olhar de seus pés, que batiam no chão de forma compulsória, para o espírito. "Estou com medo".

O belo ser concordou. Talvez, assim como o pobre ex-humano estivesse com medo do que viria.

"Se por acaso, se lembrar de algo, me avise." Em resposta, o humano: "Não sei se algo pode ajudar. Eu não vou conseguir prever quem eles vão sentar alí".

De forma rápida, se pôs de pé, não tendo tempo de responder ao que o humano lhe disse. Todos voltavam aos seus lugares, com os principais juízes sendo os últimos. O antes heterotrófico tomou o resto de água que jazia dentro do copo, apertando as mãos antes de olhar para seu defensor, como forma de encorajamento.

Agora, no lugar aonde Tales estava sentado se sentava outro senhor; com barba maior, e descalço. Aparentava olhar bondoso, e sua forma de andar mostrava como sua personalidade deveria levar à frente o julgamento. O advogado de defesa o analisou. Não conhecia, ele, muitos humanos influentes do passado, mas assim que escutou o nome de quem ficaria à frente, espantou-se.

Dessa vez, não foi Deus quem apresentou o acusador, e sim o demônio:

"Dessa vez, como Advogado de Acusação do segundo round teremos Sócrates!".

Um leve frio subiu sobre as costas do julgado, que deixou sair-lhe pela respiração pesada. O velho prosseguiu da mesma forma. Não levantou-se. Apenas fez um leve aceno quando dito seu nome.

"Se por acaso quiser me dizer algo, a hora é agora!", o espírito disse, quase como um grito de socorro.

E ele em resposta: " Eu não sei. Talvez seja minha mulher. Talvez meus filhos".

"Somente tens eles?", A pergunta dele saiu como uma indagação pessoal. Como se existisse uma certa curiosidade pela resposta.

"Eu não sei! Não me lembro de tudo! Eu só queria que isso acabasse logo, pra que eu pudesse queimar no inferno, ou dormir no céu! "

E ele: " Exitem outros caminhos além do Céu e do Inferno. Se por acaso lembrares de algo, me diga. Preciso que se lembre"

Seus olhos alcançaram os olhos de sua defesa, e por um súbito momento sentiu paz passar por seus olhos. Como se pudesse abraçá-lo, e confortá-lo, e no fundo, extrair alguma lembrança sua dele.

"Então, vamos começar!"

O pequeno juiz bateu o martelo e, com isso, a grande porta branca do lado direito se abriu. Se o morto vivo pudesse ter seu coração ele saltaria-lhe pela boca, pois, quem sentou-se na cadeira foi alguém que ele poderia muito bem dizer quem era. Poderia afirmar e dizer com certeza, pois, a mesma íris de seu olhar estava no olhar do homem que ao invés de olhar para ele olhava para suas próprias mãos.

"Pai", sibilou, com os lábios semi-cerrados.

O homem por um breve segundo levou seu olhar a ele. Segundos suficientes para ver o estado em que este, estava; mas não foram segundos suficientes para que analisasse-o.

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