1° P. ~ ONZE - CAPÍTULO ESPECIAL

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Especial — Diário da Infelicidade

Lizandra Litarc

Os sentimentos mais duros de serem contados, são aqueles sem resumo, com cada detalhe, com cada cena crua de se falar, com cada lágrima quente que descem nos tirando tudo, absolutamente tudo.

Muitas vezes, eu me sinto vaga a pensar que meus problemas, minhas amarguras, são as piores, as mais dolorosas.

Elas são?

Eu nunca gostei de fazer coisas assim que, talvez me prejudicasse, não sei, embora eu julgue meus problemas os maiores, eu nunca tive coragem de fazer algo comigo, acho que eu já falei isso.
Você imagina o quão difícil é saber que sua está morta?
Você já se colocou em um lugar com essa situação?
Não é fácil. Não é algo tranquilo. É o contrário.
É algo conturbador. Insuportavelmente doloroso.

Agora, falar algo em uma forma crua, com cada mínima cena, é mais doloroso.

MINHA VIDA MAGNÍFICA ❅

Sabe aqueles melhores momentos da nossa vida? Aqueles que marcam e, nos fazem lembrar por noites e noites?
Eu os vivia ao lado de quem mais me amava nesse mundo, ela, minha mãe.

Quando eu tinha quatro anos, minha mãe sempre estava disposta a estar ao meu lado, assim como todo o tempo que ela esteve aqui, comigo.

São belas memórias que ficarão marcadas, e, as que eu não consigo lembrar, tenho as palavras do meu pai. Ele sempre fora um homem ocupado, porém, essas lembranças me foram reforçadas por ele.

INTERVALO INEVITÁVEL ❅

Certo dia, meu pai chegou para nós e nos deu uma bela e ótima notícia; nós iríamos para Washington, era o nosso plano desde cedo, porém não sabíamos se daria certo, e quando meu pai chegou, foi para aumentar a nossa alegria com a noticia.

Eu só não imaginaria que aquela viagem, mudaria toda nossa forma de viver.

Eu cheguei no quarto quando minha mãe estava arrumando as malas, ela estava com um sorriso enorme, mas quando entrei, seu semblante era outro, havia uma espécie de preocupação, eu já tinha cinco anos, e isso foi algo que não saiu da minha cabeça.
O que houve naquele dia?
O porquê daquele semblante?
Quando eu cheguei para perto, ela o mudou, e voltou a sorrir e falar sobre a viagem.

Os piores mistérios, são os que tentamos descobrir e, já é tarde quando o principal, já não existe mais.

Uma hora depois, eu já estava com o lindo vestido de ceda que minha mãe havia comprado. Ele era branco com rendas, meus cabelos estavam em uma trança que só ela sabia fazer.

Meu pai desceu as escadas e, nos direcionamos para o carro que estava na garagem.

Já estava perto...

Como é difícil relembrar...

Entramos no carro, minha mãe ainda estava meio preocupada, e pior, isso já fazia dias, não era só naquele dia, e eu percebia que meu pai tentava acalmar ela sobre algo.

O que seria?
Nunca tive coragem de perguntar a meu pai.

As horas passavam, eu já estava com uma coragem enorme de ir ao banheiro, eu resolvi segurar um pouco mais. Meus pais conversavam na frente e sorriam as vezes, era para ser um dia feliz para todos nós.

A noite ficava cada vez mais escura, o carro saía da cidade e entrava em uma pista deserta. As estrelas refletiam pela janela do quarto.

No momento em que falei para minha mãe que queria ir ao banheiro, eu simplesmente não consegui e comecei a me debater na parte de trás do carro, enquanto minha mãe tirava os cintos e meu pai tentava parar o carro aos poucos. Foi quando percebi que meu pai havia perdido o controle, não deu de ver o quê levou a isso, mas ele disse que tentou desviar de um carro em alta velocidade.
Quando vejo a horrível cena do corpo de minha mãe ser jogado para frente do carro causando um ensurdecedor barulho entre os vidros que com certeza, cortaram o corpo dela, o choro cobre minha face, o medo.

Eu era apenas uma criança.

Daí para frente, eu não lembrei de mais nada. Meu pai me contou tudo, e quando ele percebeu o acidente, correu atrás e me tirou do carro, me levando para longe, e quando ia voltando para o carro, atrás de dela — que estava na frente do carro depois de atravessar o vidro — ele se assustou após uma enorme explosão ser causada no local, ele voltou para onde eu estava.

Uma menina desacordada.

Um pai desesperado. Assistindo a pior cena de sua vida.

Agora me diz; como seria no dia seguinte, acordar em um hospital e receber a notícia de que você não tinha mais uma mãe?

Eu desabei, completamente. Não sabia mais o que fazer, e foi aí que minha vida se tornou o maior caos.

Evidências foram comprovadas de que um corpo tinha sido queimado na explosão. Era o corpo dela, certeza, e saber disso, foi o fim.

Eu só queria ter uma opção de um intervalo, para parar tudo, mas era um intervalo inevitável.

ÚNICAMENTE FELIZ ❅

Meu pai me fala que, quando minha mãe me teve, foi uma alegria muito grande, ela tinha ficado feliz desde o começo, ainda quando descobriu que seu bebê era uma menina.

Você sabe como é se sentir feliz?
Unicamente feliz.

Era assim que eu queria ver ela, ao meu lado, e unicamnete feliz, queria poder ver o sorriso dela, queria poder comer a comida dela. Sim, esse era mais uma das qualidades dela, cozinhar.

Como é difícil acordar todos os dias e, não poder ver a nossa mãe lá, de pé feliz e assim, nos fazendo feliz.

Quantos dias eu me levantei e, chamei pelo seu nome. Alexia Litarc, esse era seu nome, mas obviamente eu a chamava de mãe.
Quantos dias após acordar eu não pude ver mais ela em casa, e apenas as lágrimas desciam enquanto minhas mãos curtas rodeavam em volta ao meu rosto.
Meu pai me encontrou muitas vezes no chão do quarto, em lágrimas, eu era uma simples criança, e sabe o que eu queria? Uma única coisa:

Me sentir unicamente feliz.

FASES INFELIZES ❅

Maior parte da minha infância, eu sofri em ver as mães levarem seus filhos para a escola. Eu sabia que isso não seria fácil, mas eu não imaginava que seria insuportável.

Eu chorava no banco da escola, esperando meu pai ir me buscar, e quando ele chegava, seu abraço era meu único consolo, onde as lágrimas caíam e acabavam em minutos, e pela frente, só restavam meu peito doendo de saudades.

Todas as fases da minha vida foram tristes, e são, mas essas, concerteza foram as fases mais infelizes.

AMIZADES ÚNICAS ❅

Quando se tem uma família completa, muitos ainda tem poucos amigos, e quando se tem uma familia imcompleta? As amizades desaparecem, são difíceis de encontrar.

As minhas amizades são poucas, e únicas, tenho sorte que os meus amigos, muitos estão sempre dispostos a me ajudar.

Mas isso não foi fácil, quantas vezes tive que ouvir palavras horrendas, que me maltratavam por dentro, as pessoas não queriam ser minhas amigas, principalmente nos meus primeiros anos na escola.

Eu pedi muito para meu pai me colocar em uma escola particular, mas ele não quis, e o que me restou foi me trancar no quarto, olhar para as fotos da minha mãe e, chorar, e chorar muito.

Leve Como a NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora