O sol radiante do verão carioca não penetrava naquele apartamento. Grossas cortinas de veludo negro cobriam as janelas e a penumbra quase total dava um aspecto fantasmagórico aos contornos barrocos dos móveis antigos. Um cheiro de bolor e coisas mortas pairava no ar, sufocando e grudando-se à pele com o suor que o calor abafado fazia mais forte.
Apolo remexeu-se inquieto na poltrona, cujas molas rangeram. A sua frente, sobre a escrivaninha, havia o vago contorno de um crânio humano. Ao fundo, uma cadeira de espaldar o. Na parede, atrás dela, um grande mapa-múndi onde vários alfinetes fosforescentes marcavam pontos estratégicos que ele desconhecia.
Um murmúrio abafado penetrou na sala, quando uma porta se abriu. Apolo se voltou para olhar, mas viu apenas o perfil de um homem o que entrava. A porta se fechou atrás dele. O vulto caminhou até a cadeira. Por momentos ficou em silêncio.
— Não há restrições ao trabalho de vocês. Continuem assim. Terão de viajar em breve, por isso aqui está o necessário para as despesas — disse o homem sinistro, atirando um grosso envelope sobre a escrivaninha.
— Viajar para onde?
— Para onde ela for. O importante é não perdê-la de vista.
— Até quando vamos continuar nisso? Meu companheiro é um tanto impaciente e já começou a inquietar-se a respeito de...
— Domine-o e acalme-o. É importante que as ordens sejam cumpridas ao pé da letra. Insistimos para que os relatórios sobe ela passem a ser diários. Telefone sempre. As despesas não nos importam. A recompensa os espera no final do trabalho.
— E quando será isso?
— Quando nós assim o determinarmos. Já checamos quase tudo. Queremos que, ainda hoje, vocês vasculhem o apartamento dela. Tragam-nos documentos, fotos antigas, tudo sobre as origens dela. São importantes para a SATAN. Não toquem em mais nada. Fotos e documentos antigos, apenas isso, compreendeu bem?
Apolo ficou em silêncio. Entendia que o homem a sua frente havia encerrado a entrevista. Tinha dúvidas. Tudo aquilo era misterioso e sinistro demais. Não sabia ao certo com quem estava lidando. Recebia ordens. Compreendia o perigo. Sabia que aquela não era uma organização criminosa comum.
— Posso fazer uma última pergunta? — indagou.
— É relevante?
— Sim, para mim.
— Qual é?
— O que é a SATAN, afinal de contas? Gosto de saber para quem estou trabalhando...
O homem a sua frente ficou em silêncio por instantes. Depois riu tetricamente.
— Somos uma sociedade internacional. A Sociedade dos Arquinimigos de Todas as Nações. Isso é tudo que precisa saber a nosso respeito. Nossos objetivos não lhe dizem respeito. Faça um bom trabalho e terá outras oportunidades. Cometa um só erro e não haverá lugar na face da Terra onde poderá se esconder. Tenha uma boa noite, Apolo!
Apolo saiu dali sem saber se acreditava ou não no que ouvira.
ESTÁ A LER
CARLA MARAVILHA
ActionToda uma série de números de magia, ilusionismo, prestidigitação, trapézio, malabarismo, doma de animais selvagens, contorcionismo, tiro ao alvo, arremesso de faca, perícia em chicote, luta livre e outros seriam apresentados naquele show beneficente...