É possível que o amor seja uma grande culpa

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Antes que tudo fosse mágoa lhe fiz estas palavras, as devore e as destrua, pois sei que seu toque é caótico. Deixe que esse papel se despedace pela fricção de seus dedos, caía sobre sobre seu corpo e quando absorvido sobre sua camada de pele macia e quente, afunde e lhe tome o caminho que segue o sangue circulando em ti para que nunca lhe deixem de fazer sentir as memórias que nelas embuti.

Antes eu poderia fazer mil cópias minhas e lhe dispor ao sol, deixar que o tecido transparente de nossa janela não fosse forte o suficiente para derrotar o astro regente queimando na jovialidade lá fora. Uma nudez falsa perante as estrelas, uma sombra atrás do tecido se expondo ao movimento da extensão de suas mãos se fechando contra mim entre cada pedaço de colo e travesseiro. Nossa carcaça construída acima da corpórea tomando todo dano solar.

O extorquir providos dos seus insultos, a ação de instintos primitivos retornando para satisfazê-la. Você os acordou e não os alimentou. Desmembrou da alma o afeto para que a lascívia inundasse.

E mesmo subjugadas ao escárnio do comedimento, no passado sorriríamos sabendo com a absoluta certeza universal que eu era dela e ela era minha e está certeza nos fazia rir. E não havia afronta entre inveja ou domínio ao lembrar que éramos uma só. Lembro do nosso passado, e do futuro e o presente. Nossos corações, as nossas mentes, os nossos ignorados sentimento, os disputáveis livros e as partilhadas canecas de vinho são amantes tanto quanto nós. Uma sendo da outra, tudo sendo nosso e nada de alguém, só daquele que é.

E seu lábio permanecia aberto pelo beijo, pelo riso, pelo meu dedo, pelo prazer. Não sei do que estou a rir, mas olhando para o rubor do sol percebo que sustentamos o riso uma da outra, e o riso sustenta esse amor, esse desejo de lhe fazer feliz mas também dominada, de lhe ser conforto mantido entre meus abraços melancólicos e também pressionada sob as minhas costelas, lhe ser memória querida retida mas também vingança concluída.

Que estrago tão belo foi feito para que não haja choro sobre ele? E por quanto se prolongaste para que se tornasse anfitrião da descrença?

Como amiga, como sua cúmplice, como sua vitima, te amo pelo apartar que mantém a ilusão mais do que posso admitir para mim mesma. Quando for leve meus condicionadores, ou uma mecha do meu cabelo, ou um pedaço da renda que acabastes de rasgar entre seus dentes, o meu batom em seu dedo. Leve algo para lhe fazer sentir o vazio em seu travesseiro.

Excessos E DevaneiosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora