Carta para me explicar sobre você

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Acho que eu sempre suspeitei um pouco, só que nunca entendia, então deixei pra lá. Mas afinal, que amiga não deixa você entrar em sua casa? O lugar que é a prova mais intima de permitir que alguém conheça quem tu és e desvende todas as suas mentiras? Entrar pela soleira da porta é tomar conhecimentos das peculiaridades que causam conforto a alguém.

Começou assim, na simplicidade de uma criança, quando ainda não sabia a diferença entre ceder, ou ser submissa, quando éramos apenas duas garotas que ainda não conheciam ninguém na escola nova. Duas garotinhas de cabelo cacheado, duas retraídas de óculos. Libra e Áries. Eu lhe disse um cumprimento de uma sílaba, e você já foi puxando meu pulso para passarmos o recreio juntas. Acho que nosso mapa astral bateu, você percebeu e quis dar uma chance, quando a crença que tínhamos em astrologia não tinha sido tocada pela bagunça da despedida. 

Eras tú, uma incarnação de dureza, estresse e valentia, e de irritação deliberada para com o mundo, e eu estava incluída nisso, e mesmo eu sendo uma das mais indecifráveis da turma, ninguém entendia por que eu te defendia tanto, e me tornava a maior especialista em prever suas vontades e prazeres retidos no caos e na dor alheia. Bem, a minha bolsa estava cheia de papéis declarando seus sentimentos de amizade, discutindo sobre a hipótese de dividirmos um apartamento no futuro e quem sabe até a cerimônia de casamento. Julguei que havíamos nos tornado irmãs, mas eu estimava você nas minha conversas entre os meus outros amigos, e quando você faltava, minha preocupação me levava até a sua casa, só para saber como tu estava, porém nunca me deixastes entrar por que "a casa estava muito bagunçada", e pensava que a fresta da porta era a culpada, por não ser larga o suficiente para sentir o afeto em sua voz.

Eu achei que poderia a nossa rotina estender-se ao extra curricular, mas nem ao fim do ano letivo, ela esperou para poder extinguir-se. Antes que o ultimo dia de aula chegasse, o rompimento já estava concluido, e ignorante disto, ouvi sua promessa, e me mantive o dia a acompanhar o sol, e a vê-lo subir e descer no horizonte enquanto esperava a sua presença chegar, mas nem ligações foram a minha linha encontrar.

Acho que eu deveria ter percebido neste ponto, que as palavras não seriam fortes suficientes e influenciáveis de consideração em ti, e que mandar um recado escrito "saudades" não seria notado por seu afeto minimizado.

Eu achei que o rompimento era o meu amargor mas talvez seja o fato tardio que o auto descobrimento me trouxe, no prazer de não estar disposto. No consumo de uma ligação, mas não no desenvolvimento de criar uma presença. E o meu afazer aqui, cede aos sentimentos, pois mesmo do passado, se nunca revelados, precisam ser ditos.

Obrigada por ter me deixado terminar com o que sei fazer de melhor. E qual boa inspiração boêmia não é eufórica e distante? Na decisiva, de aproximar a comunicação entre eu e minha decepção, lhe agradeço por ter inspirado a poesia em mim.

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