CINQUENTA E QUATRO

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Assim que as visitas partiram, Elizabeth saiu para read​quirir a sua tranquilidade. Ou, em outras palavras, para refletir sem interrupção nesses assuntos, que na realidade só a perturbariam ainda mais. A atitude de Mr. Darcy a surpreendia e penalizava.

Para que teria ele vindo, perguntava a si mesma, se era para permanecer silencioso, grave e indiferente? Ela não encontrava uma resposta que a satisfizesse.

Ele continuou a se mostrar amável para com os meus tios, quando esteve em Londres. Por que não o é para comigo? Se tem medo de mim, por que veio aqui? Se ele não gosta mais de mim, por que é que fica silencioso? Que homem misterioso! Não pensarei mais nele.

Sua resolução foi cumprida involuntariamente por pouco tempo, devido à aproximação da sua irmã, que se juntara a ela com um ar alegre, que mostrava ter ficado muito mais satisfeita com a visita do que Elizabeth.

— Agora que o primeiro encontro está passado — disse ela —, eu me sinto perfeitamente à vontade. Conheço as minhas forças e nunca mais me sentirei embaraçada quando ele vier. Estou contente que ele venha jantar aqui na terça-feira. Todos terão ocasião de ver que nos encontramos apenas como conhecidos comuns e indiferentes.

— Oh, realmente muito indiferentes — disse Elizabeth, sorrindo. — Tome cuidado, Jane.

— Minha querida Lizzy , você não há de pensar que eu seja tão fraca que esteja agora em perigo.

— Acho que mais do que nunca você está em perigo de fazer com que ele se apaixone por você.

* * *

Não tornaram a ver Mr. Bingley e o seu amigo senão na terça-feira. E durante esse tempo Mrs. Bennet se entregara a todos os planos felizes que o bom humor e a polidez habitual de Bingley em meia hora de visita haviam reavivado.

Na terça-feira reuniu-se um grupo numeroso em Long​bourn. E as duas pessoas mais ansiosamente esperadas chegaram pontualmente. No momento de entrar na sala de jantar, Elizabeth observou Bingley avidamente, para ver se ele tomava lugar como antigamente, ao lado da sua irmã. Sua mãe, que era uma pessoa prudente e ocupada com as mesmas ideias, não o convidou para sentar-se ao seu lado. Ao entrar na sala ele pareceu hesitar. Mas por acaso Jane olhou em torno de si e, igualmente por acaso, sorriu. Foi suficiente para que ele se decidisse e fosse sentar ao lado dela.

Elizabeth, triunfante, olhou para Mr. Darcy . Ele recebeu o fato com nobre

indiferença e Elizabeth teria imaginado que Bingley tinha recebido afinal licença para ser feliz se não tivesse visto que este olhava, também, para Mr. Darcy com um ar entre sorridente e alarmado.

Durante o jantar a atitude de Bingley para com a sua irmã persuadiu Elizabeth que a sua admiração por Jane, embora mais reservada, levaria o caso rapidamente a uma solução feliz, caso não houvesse interferências alheias. E embora não pudesse confiar no resultado de olhos fechados, no entanto aquilo lhe dava um grande prazer, despertando nela toda a animação que era possível sentir, pois não estava de humor muito alegre. Mr. Darcy estava sentado quase na outra extremidade da mesa. Estava ao lado da sua mãe. Ela sabia que essa situação daria muito pouco prazer a qualquer um dos dois. Com a distância a que se encontrava, não podia ouvir o que eles diziam, mas via que raramente falavam um com o outro e que o faziam cerimoniosa e friamente. A hostilidade de sua mãe lembrava dolorosamente a Elizabeth tudo o que deviam a Mr. Darcy . E às vezes ela sentia que teria feito qualquer sacrifício para poder lhe dizer que sua bondade não era nem ignorada nem desdenhada pela totalidade da família. Elizabeth tinha esperanças de que, à noite, eles tivessem oportunidade de ficar juntos. E que a visita toda não se passaria sem lhes dar ocasião de trocar palavras mais significativas do que as simples saudações de cortesia. Ansiosa e inquieta, o período que decorreu na sala, antes da entrada dos cavalheiros, foi aborrecido a um ponto que quase a tornou impolida. Ela concentrara todas as suas esperanças no momento em que eles entrassem na sala.

Orgulho e PreconceitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora