Uma Vida Em Exposição

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– É que acabou de chegar essa foto... – a foto em questão é a minha foto beijando Finn e foi colocada no telão, atrás de nós. A primeira coisa que me veio na cabeça é que o Finn fica bem bonito de costas.

– Ah, sim... – recolho minhas mãos de cima da mesa e olho pra ela em seguida.

– E então, tem algo a dizer sobre ela? – Cassie pergunta. A barra onde mostrava os comentários do Twitter aumentou ainda mais, começou a voar e um rapaz avisou que entramos no trending de assunto mais comentado dos Estados unidos aquele dia. Sim, a entrevista estava sendo transmitida para todo o país e para a internet.

– Bom, eu tô com um rapaz, acredito eu. – respondo, em tom irônico, observando a foto mais uma vez. – Um rapaz bem bonito. – Cassie solta um sorriso com a minha brincadeira. 

Eles provavelmente esperavam que eu fosse ficar incomodado e me recusasse a responder, mas não pretendia dar esse gosto para essas pessoas. Além disso, fui obrigado a vir, então faria com que meus pais se arrependessem disso.

– Então, retornando a pergunta. Você acha importante ter mais representatividade nesse meio? Tem alguém dentro do futebol americano profissional que te inspira? – Cassie pergunta e imediatamente eu sinto seu tom de voz mudar.

– A ser gay? – ela põe as fichas onde estavam as perguntas na mesa, se apoiando nela em seguida.

– Não necessariamente. 

– Bom, eu não tenho como base absolutamente ninguém pra me inspirar em como jogar ou como ser, mas em questão de coragem com certeza o Michael Sam. Quero fazer a minha marca no futebol americano, por isso que não me vejo imitando ninguém. Mas em questão de ter coragem o suficiente para expor quem é de verdade, com certeza o Michael.

– Oh, o Michael. 

– É, ele sofreu preconceito por ser gay e tinha medo de não entrar pra NFL, mas veja só... tudo bem que ele mal pode jogar, afinal o preconceito no esporte sobre homossexuais é ridículo. Parece que a humanidade evolui, mas o esporte faz questão de projetar imagens de que ser hetero é o melhor, por isso a quantidade enorme de esportistas dentro do armário ou de esportistas que só se assumem após se aposentar.

– Então você se assume homossexual, Aaron? – Cassie pergunta e eu sorrio, um sorriso mais irônico do que os últimos.

– Depende. – digo, ainda sorrindo.

– Do que? – me ajeito na cadeira, ficando totalmente sério.

– As pessoas vão me ver da mesma forma se eu me assumir? Ou ao invés de avaliarem minha potência em campo vão se preocupar e me rotular unicamente como "o cara gay filho de político que joga futebol americano"? – olho no fundo de seus olhos e Cassie parece desmontar.

– É... – ela tenta falar algo, mas eu interrompo.

– Porque tenho a impressão que a minha sexualidade vale mais do que o meu talento. – começo. – Uma fofoca sobre quem eu beijo vale mais do que a minha potência em campo e a minha índole. Você poderia ter falado dos meus planos futuros como jogador, poderia ter falado mais da minha base familiar sobre o esporte que eu pratico, mas não. Achou melhor jogar um furo pra puxar audiência.

– Aaron...

– Eu sei que você foi contratada pra isso e que é pra isso que a imprensa serve: se enfiar onde ninguém chamou, mas eu não tinha me assumido antes, por não me sentir preparado. Pela minha família não sentir que era o momento. 

– Tudo bem, eu posso retirar as perguntas.

– Mas eu não quero. Já que vocês estão tão desesperados por audiência e pela minha vida pessoal que nem puderam respeitar o meu momento de descobertas comigo mesmo, vou dizer que sim, eu sou homossexual. – falo, enquanto gesticulo. Após a última frase, eu coloco minhas mãos na mesa, cruzo meus dedos e encaro Cassie. – Satisfeita? – pergunto, olhando nos olhos dela, que claramente fica intimidada.

Aquele Piloto (Romance Gay)Where stories live. Discover now