~ 33 ~

2.2K 227 19
                                    

~ 33 ~

No final do dia mórbido do velório, às pessoas começaram a se despedir e sair.
Aos poucos, só restaram Émili, Adelainny, Stanlin, Antônio e seus pais, Rute e Pedro.
Stace, Spencer, Tôfyla e Pietro já haviam ido embora, pois os pais precisavam trabalhar e os adolescentes ainda não sabiam dirigir. E, consequentemente, Stroy foi com eles, mesmo sabendo dirigir.
A mãe de Stanlin, Selena, conversava calmamente com Adelainny, ambas sabiam que os filhos se gostavam, mas esse assunto fora deixado de lado, enquanto uma prestava as condolências e a outra apenas agradecia gentilmente.
Rute se aproximou, mostrando-se bastante solidária.
Ela entendia a dor da amiga, já que há uns meses perdeu sua filha, Cindy.
Pedro ficou com o filho, ambos quietos apenas observando a conversa dos mais velhos.
Stanlin observava Émili de longe, encostado numa árvore que brotara no meio do cemitério da cidade, e reparou quando uma moça ruiva e um tanto afobada quase correu até Mil, que estava de joelhos em frente ao recém fechado túmulo da avó.
A garota praticamente se jogou no chão, abraçando Mil por trás.
Émili se virou, e trocando um simples olhar com a moça, começou a chorar, abraçando-a de volta.
Enquanto Pedro voltava para o carro, para esperar a esposa e o filho e descansar um pouco antes de voltar pro serviço, Antônio se aproximou de Stanlin, colocando uma mão em seu ombro.
  - E aí bro - Comentou, suspirando.
  - E aí - Respondeu Stan.
Ambos estavam com aparências cansadas e preocupadas.
Todas as preocupações presentes tinham nome: Émili Clara.
Mas a de Tony se desviou por um longo momento, encarando, assim como Gabe, Émili abraçada com a garota ruiva.
  - É a Névilie - Antonio esclareceu, sem rodeios.
  - Névilie? A irmã gêmea da Mil? - Stan desviou os olhos para Tony a fim de analisar suas reações. Ele sabia dos acontecimentos passados, onde Antonio era completamente apaixonado por Névilie.
  - Sim - Soltou uma risada rápida e seca, que soou mais dolorida do que lágrimas - Eu a reconheceria até pintada de ouro.
Gabriel mediu a garota.
  - Ela não parece nada do que vocês falavam - Concluiu.
Névilie vestia uma saia comprida que ia até seus pés, estes envoltos numa sandália comprida e vestia uma blusa de manga comprida.
  - É a primeira vez que a vejo assim... - Tony respondeu, e era verdade.
Era a primeira vez de todos vendo Névilie assim.
Émili sentiu-se um pouquinho melhor ao ver sua irmã ali, finalmente, depois de tanto tempo estavam justas de novo.
É uma pena que o motivo da visita seja uma desgraça.
No fundo, Névilie sabia que Émili era a favorita da vovó.
A ruiva sorriu ao perceber os olhares, ela havia mudado, e pra melhor.
Émili percebeu a mudança, mas estava ocupada demais sentindo saudades para comentar sobre isso.
Alguns minutos mais tarde, a irmã mais velha ajudou a irmã mais nova a se levantar, Név era mais velha por minutos, mas ninguém como as duas tem noção como minutos podem fazer uma diferença na sua vida.
E, em meio a sentimentos bons e ruins, as irmãs caminharam até os dois amigos, um encontro irônico e cheio de sentimentos escondidos.
  - Oi - Névilie disse, sorrindo e Stan ainda não aceitava tanta semelhança.
Mesmo sendo tão iguais, conseguiam ser diferentes.
E ele não notou isso pelos fios alaranjados diferentes dos castanhos.
  - Olá - Stan disse e Tony sorriu.
  - Oi Név.
  - Oi Ton.
"Ton?" Stanlin se perguntava, "Eles são bem íntimos".
Mas ele desviou seus olhares para a gêmea que mais gostava.
Esta, por sua vez, observava atentamente o reencontro nostálgico e bizarro do melhor amigo com sua irmã gêmea.
  - Quanto tempo - Disseram juntos, a ruiva e o mais baixo.
Pela primeira vez desde que os quatro se encontraram, Mil olhou para Stan com um meio sorriso e deu de ombros.
Ele retribuiu com um sorriso sincero e chacoalhou as sobrancelhas pra cima, como se sugerisse algo.
Émili sorriu, sem mostrar os dentes.
Mesmo com tudo que tinha acontecido, estava feliz pelo reencontro de todos.
  - Ainda não acredito que pintou seu cabelo... - A conversa entre Antonio e Névilie estava boa, mas foi interrompida por Rute.
  - Névilie, que surpresa - A mulher encantadoramente arrumada comentou.
Ela prefiria Émili, mas isso não era algo pra se dizer, muito menos num enterro.
  - Dona Rute - Név respondeu, com um sorriso e com muito respeito para aquela que quase fora sua sogra.
  - Que isso, sabe que pode me chamar de Rute - A mais velha respondeu, mas ela não era tão mais velha assim. Ou pelo menos, não aparentava ser.
Conversa vai, conversa vem, Rute percebeu - assim como todos, menos Stan que só sabia olhar pra Émili - que a gêmea que nasceu primeiro estava mudada. Isso agradou-a, mas realmente não importava no momento. Talvez depois?
Rute foi obrigada a arrastar Antônio, que há dias não desgrudava de Mil, ainda mais agora pela chegada da ruiva.
Querendo ou não, ambos sabiam que esse encontro os afetaria, de alguma forma, sendo ela pequena ou grande.
Selena chamou Mil, e ela pediu licença, caminhando até sua mãe e sua possível sogra.
Bom, era o que ela queria.
Névilie não perdeu tempo.
  - Você deve ser o Stan.
  - E você, presumo que seja a Névilie.
Os dois se encararam.
  - Não sei o que contaram sobre mim, mas uma coisa que quero que saiba é que eu sou uma pessoa muito pacífica  - Sorriu, e Gabriel ainda não se conformava em como as duas eram iguais - Mas a Mil me contou tudo sobre você. Então - Ela se aproximou e Gabe engoliu em seco - Isso é pela minha versão antiga onde eu te quebraria na porrada por ficar de cu doce com a minha irmã - Tacou a mão delicada no rosto no rapaz, com vontade, fazendo até barulho.
Stan olhou pros lados, tonto e ainda sem acreditar que Névilie bateu nele.
Émili e os outros estavam longe o suficiente para não escutar.
  - Por que fez isso? - Ele quase gritou, se segurando para não chamar a garota de louca.
  - Por que não respondeu minha irmã? - A menor cruzou os braços, olhando pra ele de forma impaciente.
  - Pergunta porque ela beijou aquele Spencer lá! - Gabe disse, também cruzando os braços.
Névilie lhe deu outro tapa.
  - Garota! Dá pra parar de me bater?
  - Eu tenho nome, cunhadinho! E eu não vou parar até você se tocar do quão infantil está sendo! Você tem 6 anos de idade? Acho que não.
  - Ei! Quem você é pra falar assim comigo?
  - Sou a pessoa que vai arrumar essa palhaçada! Vocês dois já se pegaram diversas vezes, quando vão se assumir? - A pergunta deixou o rapaz sem palavras - Anda, tô esperando.
  - Você é doida!
  - Não, eu sou um amor de pessoa. Mas se eu precisar chutar sua vara pra você ter o senso de tomar uma atitude, não pouparei esforços para chutar - Encarou o menino em sua frente.
  - Bem que me disseram que você era assim - Stan colocou a mão entre as pernas, com medo de que ela realmente o chutasse.
Névilie respirou fundo.
  - Ufa, agora que eu disse tudo isso me sinto mais leve - Ela deu uns pulinhos - Mas ainda prefiro yoga.
Stan olhou pra ela sem entender nada.
  - Desculpa te ajudar, mas estava bem longe e esses tapas foram de coração.
  - Obrigada - Stan ironizou.
  - Mas eu sou legal. Espero que possamos ser amigos - Név disse e riu.
Stanlin se assustou com a bipolaridade da garota.
  - Não se assuste. Eu sou bem calma, mas é que isso estava guardado dentro de mim. E então... - Coçou a cabeça envergonhada - Só quero ajudar o casal.
  - É... Não somos um casal.
  - Ainda - Riu como se bolasse um plano.
  - Tá né.
  - Eu já vou indo - Névilie se virou, mas antes de ir - Eu digo sério. Se você magoar minha irmã, eu largo todos meus ideais e crenças só pra arrebentar sua cara - Piscou pra ele e saiu.
Stanlin suspirou.
"Ótimo, perdi pontos com a cunhada. Sem posto com a sogra. E a única pessoa que gostava de mim está a sete palmos no chão" - pensou ele - "Isso foi muito errado e pesado, alguém me mata" - E então deu um tapa na própria testa, com força, e andou tonto até os outros.

 

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now