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Gabe

Assim que vi a Émili abraçando o Tony, desviei o olhar.
Sabe, eu superei todas nossas diferenças e nossos possíveis sentimentos parecidos pela mesma garota, porque ainda acho que somos amigos.
E eu não sou tão cretino assim, conhecia a irmã dele.
Só não era tão próximo e não sabia que ela estava mal.
Mas um sentimento estranho e ruim brotou no meu peito ao vê-la tão próxima dele.
Suspirei e coloquei as mãos no bolso da calça jeans velha.
  - Não se preocupe... - Ouvi uma voz gostosa de se ouvir e me virei, vendo a avó de Mil com um sorriso terno.
Dona Amália Teresa permaneceu quieta o tempo todo, apenas respondendo pergunta de Mil com sussurros.
Era a primeira vez que ela se dirigia a mim, e bem, ela percebeu que eu estava olhando a neta dela com outro garoto, e provavelmente percebeu que eu não gostei - Eles são bons amigos.
  - São bem próximos - Disse. Eu admirava a amizade dos dois, embora eu ache que o Tony se aproveite em cima dessa amizade ás vezes.
  - Sim. Não me surpreende muito ele gostar dela - Ela disse e riu da minha expressão de surpreso por ela saber tudo - Ele gostou da minha outra neta antes.
  - Outra neta? - Perguntei e me senti mal por ser xereto. Mas aquilo realmente me interessava, então só vai.
  - A irmã de Mil. Ela não te contou?
Me senti um idiota.
  - Não.
  - Me perdoe a minha neta, ela não sabe lidar muito bem, você sabe, com garotos.
Ela riu e eu desviei o olhar, sem graça.
Eu ouvi bem?
  - Ela me conta tudo. Me falou sobre você, Stan.
Era verdade. Ninguém mais me chamava assim além de Émili e Tony.
  - Ela fala sobre mim?
  - "O garoto do ônibus". Pensei que fosse mais grosseiro, mas no fim você é gentil. Acho que a Mil exagerou um pouco.
Senti meu rosto queimar. Émili contou que eu fui mal educado com ela? Minha cara está no chão!
Se eu tinha uma chance de conquistar a vó dela, eu perdi agora!
Ou talvez... Talvez eu ainda tenha chance...
  - Olha, Dona Amália...
  - Me chame de Tereza - Sorriu.
  - Eu não sei muito bem o que eu sinto pela sua neta, eu só sei... Que eu sinto.
  - Por que está me contando isso, Gabriel? - Agora eu sei com quem Émili aprendeu a ser quem era.
  - Porque eu sei que a senhora já sabe.
  - Tem razão, eu sei de tudo.
  - Ela sente o mesmo por mim?
  - Como posso saber se nem mesmo você sabe o que sente? Eu sei que quero que Émili seja feliz. E pela minha opinião de quem viver há bastante tempo e por sempre ganhar o bingo da minha vila, acertar a previsão do tempo e o que vai acontecer na novela, sei que ela não será com o Tony. Sabe por que? Porque eles são o casal perfeito. Olha pra eles...
Segui o olhar dela e vi os dois. Tenho que admitir: Combinam juntos.
Isso fez eu bufar.
  - Desculpa - Pedi e ela riu.
  - Você sabe o que sente. Só não quer admitir. Émili sabe o que sente.
  - E o que ela sente?
  - Pergunte a própria Émili.
  - Mas como eu pergunto isso pra ela?
  - Perguntar o que pra quem?
  - Émili! - Gritei e coloquei as mãos na boca - Que susto.
Émili riu.
  - Vamos, crianças - a Vovó da Mil disse e, 1) ou eu estou louco, 2) ou a avó piscou pra mim?
Ri baixinho e caminhamos a pé, até o tão familiar ponto de ônibus.

***

O tempo passou, e eu estava jantando na casa da vó de Mil, que era um doce de vó.
Eu sentia falta de comer alguma comida que não fosse eu quem preparasse, e a Émili me ajudava com isso.
Acho que já sei quem prepara a comida...
Nós conversamos sobre tudo e todos, ouvi mais sobre Émili, vimos fotos dela pequena e por incrível que pareça, ela não estava com nenhum pingo de vergonha, estava rindo, como se lembrasse de tudo aquilo.
  - Espera, por que tem duas Émilis aqui? - Perguntei e elas riram - Desculpe, perdi alguma coisa?
  - Émili e Névilie - A avó disse.
  - Espera... Você tem uma irmã gêmea? - Perguntei, sem acreditar, minha boca formava um perfeito "o".
  - Sim - Émili sorriu - Ela faz intercâmbio no Canadá desde o ano passado.
  - Wow, quanta informação - Respondi, um tanto chocado e elas riram.
A avó dela começou a tossir de um jeito muito estranho, e Mil correr buscar um copo de água para ajudá-la.
  - Obrigada... - Ela respondeu, recuperando o ar e tomando a água.
  - Tem que comer devagarzinho, para não engasgar... - Mil disse e eu não sei se estou mesmo apaixonado, ou aquilo foi tão fofo.
  - Não se preocupe comigo, querida... - A vovó riu, disfarçando - Dê atenção ao seu amigo. Por que não mostra seu quarto enquanto eu preparo um lanche?
  - Okay, vovó - Me levantei - Obrigada pelo jantar.
  - Muito obrigada pelo jantar - Me levantei também, me agradecendo.
  - Que isso, amigo da Mil, também é meu amigo... - Ela sorriu e eu sabia que era sincero.
Sorri também e segui Émili pelas escadas, até chegarmos a uma porta branca descascada com um monte de rabiscos que pareciam de lápis e caneta, e vários colantes de corações e unicórnios. Entrei e reparei as paredes rosas, haviam duas camas bem arrumadas, uma das paredes ao lado de uma das camas era repleta de fotos.
Me aproximei lentamente, observando-as.
  - E aí? O que achou? - Mil perguntou.
Percebi várias fotos dela com o Tony grudadas da parede. A maioria eram com a irmã gêmea dela (recém descoberta por mim) e com ele.
Senti meu sangue ferver, simplesmente não tinha como competir com anos de paixão platônica.
Ao lado de uma foto bem romântica dos dois: Ela estava em seu cangote, os dois sorriam muito, havia um escrito: "Amor verdadeiro não se encontra em qualquer esquina". As roupas de Mil eram diferentes, acho que ela mudou completamente seu estilo dessa época pra agora.
As roupas eram mais curtas e chamativas.
Agora são bem delicadas e fofas.
Às vezes coloridas até demais ou uma bagunça de acessórios.
  - Acho que você ainda não esqueceu ele... - Eu disse e me virei para encará-la, me arrependi no ato.
  - O que você disse?
  - Eu disse que você ainda não esqueceu o Tony.
  - Você é lezado ou o que? - Ok, acho que dessa vez eu realmente fui um idiota.
  - Desc...
  - Essa é minha irmã! O Tony gostava dela, por isso ele não me quis!
  - O que?
  - Isso mesmo que você ouviu - Se aproximou de mim - Sou sempre a segunda opção.

O Garoto do Ônibus Where stories live. Discover now