03. como (não) desbloquear poderes

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⠀⠀⠀⠀NÃO PASSAVA DAS 16h30 quando Blake deixou a estação de metrô para trás, com passos apressados e a mente vagando para longe dali.

Mesmo não havendo nenhum outro incidente com olhos brilhantes, ela não estava em paz com o que viu no vestiário. Não, a memória do seu reflexo de íris roxas a perseguiu o tempo todo, instalada bem no fundo de sua mente para não permiti-la relaxar de maneira alguma. Conforme os minutos passavam, Blake se sentia mais e mais distante da realidade; mais e mais presa em uma espiral de pensamentos preocupados.

De forma alguma se tratava de um evento esporádico, isolado. Essas coisas não aconteciam apenas por acontecer. Não no mundo em que viviam — um mundo onde heróis e vilões caminhavam em meio aos civis.

Blake atravessou a rua com passos largos, repetindo o caminho que fazia pelo menos uma vez na semana — a cafeteria do pai de Rebecca. A amiga já devia estar lá, considerando que o treino com o time de vôlei havia tomado 40 minutos a mais da rotina de Blake naquela terça-feira e ela tinha enfrentado o trânsito do Queens para chegar ali. Harrington não sabia se deveria contar sobre o que aconteceu, mas queria conversar com a amiga.

Queria se distrair, pelo menos o quanto fosse possível. queria se distrair, mesmo que, quando voltasse para casa, os pensamentos a acompanhassem.

As mãos de Blake estavam enfiadas nos bolsos da jaqueta do time, e os fones de ouvido tocavam uma de suas músicas preferidas do momento. Ainda assim, ela se sentia fora de seu próprio corpo enquanto caminhava pelo familiar quarteirão, com a cabeça cheia. Pensar não podia doer tanto, não é? Mas, para a infelicidade da garota, sua cabeça parecia a ponto de explodir.

Ela enfim chegou ao estabelecimento de esquina, muito bem conhecido na região. A cafeteria poderia até passar despercebida à primeira vista, mas, uma vez frequentada, raramente seria esquecida. A fachada não era grande, mas o prédio se estendia até o final do terreno estreito de forma aconchegante, e as janelas na lateral davam vista para o movimento constante de Nova York. Era um dos lugares preferidos de Blake — e ela arriscava dizer que seria mesmo se não conhecesse Rebecca.

O sininho tocou quando a adolescente ultrapassou as portas do local, e ela puxou os fones para longe de seus ouvidos. A primeira pessoa que Blake avistou ali foi Michelle Jones, com quem dividia uma ou outra aula na Midtown. A garota trabalhava ali há mais ou menos dois meses e, apesar de não ser um exemplo de sorrisos e simpatia, se saía bem com os clientes.

Blake se aproximou do balcão, chamando atenção de Michelle.

— Oi — cumprimentou com um sorriso que não exibia os dentes. — Becca já chegou?

— Sim, ela está no lugar de sempre.

Não que fosse necessário, mas Michelle apontou para aquele mesmo ponto familiar para Blake, no final do corredor, com mesas de madeira e cadeiras estofadas com vermelho e branco. Rebecca estava sentada na última delas, digitando algo no notebook e de costas para a porta de entrada no local.

— Valeu, Michelle.

— Vai querer alguma coisa? — perguntou antes que Blake se afastasse.

Não tinha certeza se conseguiria comer, porque seu estômago ainda estava embrulhado pelo estresse. Contudo, a dor reverberando pela sua cabeça era um alerta para, pelo menos, ingerir alguma coisa que pudesse mantê-la em pé por mais algumas horas. Ela não precisou olhar para o cardápio de bebidas para saber o que iria querer, de qualquer forma. Harrington já tinha provado e decorado, no mínimo, 90% das opções.

— Um milkshake pequeno de baunilha, por favor.

Jones assentiu, partindo em direção aos fundos sem dizer mais nada. Acostumada com as poucas palavras da garota, Blake decidiu seguir até onde sua melhor amiga estava, ainda alheia à movimentação na entrada do café. De longe, Blake conseguiu ler brevemente o que Becca digitava com pressa; pela estrutura do texto, era uma matéria para o jornal da escola.

RADIOACTIVE, peter parker ¹Where stories live. Discover now